27/08/2022 às 19h48min - Atualizada em 29/08/2022 às 16h10min

“Essa feira é resistência”, afirmou Ignácio de Loyola Brandão durante a FIL

Em conversa saborosa e descomplicada, o escritor membro da Academia Brasileira de Letras e o diretor regional do SESC, Danilo dos Santos Miranda, participaram do programa Fim de Expediente, transmitido em rede nacional pela rádio CBN diretamente da Feira Internacional do Livro, nesta sexta-feira (26)

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Fim do Expediente

Ribeirão Preto, 27 de agosto de 2022 – A programação da 21ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto (FIL), nesta sexta-feira (26), teve encerramento com uma atividade inusitada. Diretamente do palco da sala principal do Theatro Pedro II, o ator Dan Stulbach, o escritor José Godoy e o economista Teco Medina comandaram o “Fim de Expediente”, programa semanal da rádio CBN, que recebeu nesta edição especial o escritor Ignácio de Loyola Brandão e o diretor regional do SESC São Paulo, professor Danilo dos Santos Miranda.

O característico clima descontraído do programa - potencializado pela presença e participação da plateia -, entrecortado pela abordagem de temas atuais e nem sempre leves, ganhou humor e poesia nas falas de Loyola e reflexões incisivas na participação de Danilo Santos de Miranda. “O Brasil é um país que necessita de mudanças e a gente espera que isso aconteça em algum momento. Ainda guardo um pouquinho de esperança de melhoria”, iniciou o diretor do SESC. “Me entristeço em ver que, após 41 anos, a cidade de São Paulo se transformou na história que inventei. Nesses anos, não se evitou o pior. Mas eu amo esse país e vou amá-lo até o fim da minha vida”, emendou Loyola, em referência ao seu livro “Não Verás País Nenhum”, que já vendeu 1 milhão de exemplares e retrata a distopia de um país sem árvores, sem animais, sem cor e com sérios problemas ambientais.

Com a pauta cultural na roda, Danilo Santos de Miranda não economizou em suas considerações. “A questão cultural é fundamental para a qualidade de vida das pessoas. O viés do entretenimento é válido, mas não é o suficiente. Por isso, é tão importante favorecer a democratização do acesso à cultura, que não é apenas o mundo das artes, assim como educação não é apenas o mundo da escola. A cultura tem que ser aberta, democratizada na prática e acolhedora na programação e no espaço físico onde ocorre”, pontuou Danilo.

O diretor do SESC-SP festejou o retorno dos eventos culturais presenciais após dois anos de suspensão e comentou outros temas, como o papel dos espaços culturais institucionais no suprimento da falta de espaços públicos, a política de recursos públicos para a cultura, destacando a necessidade de aperfeiçoamento da Lei Rouanet, mas não de sua extinção, e anunciou a ampliação da unidade do SESC em Ribeirão Preto.

Em sua vez, Ignácio de Loyola Brandão abordou a questão celebrando FIL. “É preciso formar leitores e leitores que se formam indo à escola. Mas cadê a escola no Governo que vivemos? Essa feira é resistência; o Sesc é de uma resistência espantosa. São movimentos subterrâneos que estão acontecendo pelo Brasil e promovendo essa resistência. Estou muito feliz de estar aqui”, disse o escritor, afirmando que a literatura sempre o salvou.

E falando em resistência, Loyola, que tem 86 anos, contou que não pode viver sem um projeto e que está feliz por realizar, agora, um sonho de juventude. “Sempre quis ser roteirista da Vera Cruz e nunca aconteceu. Agora, dois livros meus foram vendidos para o cinema e os diretores e roteiristas me convidaram para escrever os roteiros junto com eles. Meu futuro é um projeto”, finalizou o escritor. Para Danilo Santos de Miranda, “o tempo só nos melhora e ter perspectiva de futuro independe da idade”, resumiu o diretor do SESC, de quase 80 anos.

Destaques do Dia

Quem visitou a FIL na sexta-feira (26) encontrou arte e cultura por todos os cantos desde às 9h da manhã. A programação do dia atraiu a população que se dividiu entre oficinas, apresentações artísticas, debates e lançamentos de livros e outras atividades. Todas gratuitas. Em salão de ideias no auditório da Biblioteca Sinhá Junqueira, a jornalista e escritora Eliana Alves Cruz falou sobre seus livros que misturam história e contemporaneidade, sobre as formas modernas de escravidão e a urgência social de se olhar para essa questão. Ela relatou suas experiências como jornalista e mulher negra em espaços como o universo da indústria audiovisual, onde integra a equipe de roteiristas da Viacom International Studios, e no site UOL Esportes, área do jornalismo ainda muito frequentado por homens. “O viés de raça e de gênero nas áreas onde atuo é bastante presente. No audiovisual, que é uma indústria muito rica, lidamos com estereótipos cristalizados no imaginário popular e que são reproduzidos por essa indústria. E é preciso um jogo de estratégias para mudar isso e essa mudança é um caminho sem volta”, comentou Eliana, que atualmente participa de roteiros de filmes sobre a vida de Anderson Silva e de Marielle Franco.

Na área esportiva, a jornalista trouxe ao debate a questão do sentimento de meritocracia desvinculado da consciência de privilégios. “O esforço e a dedicação de atletas de alto rendimento são muito grandes e quando a medalha chega, a tendência que ainda vemos é o atleta se sentir totalmente merecedor deste prêmio em função de seu trabalho, que é, de fato, louvável. Porém, é escandaloso que num país rico como o Brasil, muitos atletas passem por situações como treinar futebol descalço ou surfar em pedaço de isopor, por não terem condições financeiras para comprar seus equipamentos e viver somente da dedicação aos treinos. Isso é um horror, é dor, é sofrimento. Quem pode viver somente para treinar é, sim um privilegiado”, refletiu Eliana.

Ela ainda abordou o racismo no ambiente literário, “É mais complicado para autores negros chegarem às grandes editoras. Se afirmar como mulher, como negro, é um posicionamento necessário, mas as pessoas mais maliciosas nos empurram para um gueto onde só se fala sobre isso. E há, também, a constante desconfiança de que o sucesso de um escritor preto ocorre porque está na moda. Isso é cruel, dolorido e cansativo”, finalizou a jornalista, que também esteve no projeto Combinando Palavras.

No quintal da Biblioteca Sinhá Junqueira, as escritoras Adriana Silva, Sandra Rita Molina e Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa, conversaram com o público da FIL sobre o livro “Sem pedir licença - a modernidade invade os cafezais paulistas”. Em artigos temáticos, as autoras colocam o resultado de suas pesquisas, que trataram contextualizar as mudanças e transformações sociais que a modernidade impôs a um sistema que vivia em torno da produção cafeeira, com todos os seus desdobramentos de relações entre as pessoas. “O processo da modernidade não pede benção a ninguém. Ele apenas chega, se instala e não há como deter. E os reflexos disso vão se espalhando nas novas formas de configuração econômica, social e cultural”, comentou a professora Lilian Rosa. Para a também professora Sandra Molina, a modernidade se mistura com tudo e mistura tudo. “Quando chega aos cafezais, a modernidade mostra que uma parcela da sociedade não terá acesso a ela e que o tempo pertence a quem pode tê-lo. Em Ribeirão Preto, por exemplo, a igreja de São Benedito deixou de existir para os negros. Por outro lado, há a fusão do campo com a cidade e a mistura da modernidade com as festas, com as gentes, com a cozinha, a reza, os imigrantes e os negros apartados de alguns eventos sociais. Tudo vai se misturando”, completou Sandra.

Atividades com foco no resgate da leitura e dos diálogos para contribuir com o emocional do leitor mostraram a força das palavras, como as Sessões de Biblioterapia para 60+ e para Jovens, ambas comandadas pela escritora, biblioterapeuta e diretora de operações do Observatório do Livro, Tatiana Brechani. Segundo ela, cada pessoa é um texto e a atividade resgatou experiências de cada um, mediados e orientados pela poesia, o conto e pela crônica. “Nestas sessões sempre há descobertas e redescobertas. Muitos dos participantes, depois da experiência passam a escrever, publicam seus livros; outros fazem amigos, mas principalmente o que percebemos é o quanto é importante este espaço de escuta para eles”, destaca. Outra atividade, a Oficina Tato da Thata, oferecida na Tenda SESC, com a poeta Thata Alves abordou a importância do auto-carinho, especialmente para as mulheres e propôs uma reflexão sobre o tempo que as mulheres não reservam para si mesmas. 

A 21ª Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto segue até o domingo (28) e a programação completa pode ser acessada pelo endereço https://www.fundacaodolivroeleiturarp.com/.

Sobre a Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto

A 21ª edição da Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto acontece de 20 a 28 de agosto deste ano traz como proposta de reflexão o tema "Do Caburaí ao Chuí: a força da Literatura Brasileira". A proposição embasa todas as atividades e debates do evento. Neste ano, a FIL oferece uma programação com atividades presenciais e outras em formato on-line, reunindo palestrantes e participantes de diversas localidades.  Todas as atividades são gratuitas e abertas à população. São salões de ideias, conferências, palestras, mesas-redondas, oficinas, shows, espetáculos infantis, performances, contações de histórias, saraus e projetos educacionais, entre outras.

Sobre a Fundação

A Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto é uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela realização da Feira Internacional do Livro da cidade, hoje considerada a segunda maior feira a céu aberto do país. Com uma trajetória sólida, projeção nacional e agora internacional, ao longo de seus 20 anos, a entidade ganhou experiência e, atualmente, além da feira, realiza muitos outros projetos ligados ao universo do livro e da leitura, com calendário de atividades durante todo o ano. A Fundação do Livro e Leitura se mantém com o apoio de mantenedores e patrocinadores, com recursos diretos e advindos das leis de incentivo, em especial do Pronac e do ProAc.

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Colaboração: Regina Oliveira


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