22/03/2022 às 13h40min - Atualizada em 23/03/2022 às 00h01min
Profissão Galã: Quando o rótulo atrapalha a vida do ator
Cauã Reymond, Rodrigo Santoro, Sergio Marone e Thiago Tambuque mostram que são mais que um 'rostinho bonito'
SALA DA NOTÍCIA Cinthia Lima
Reprodução Segundo informações no dicionário português, a palavra ‘galã’ significa – homem de ótima aparência, elegante, bonito e galanteador, quando o termo é aplicado no mercado televisivo e cinematográfico a expressão se torna protagonista ou cujo personagem é destacado por sua beleza. Com a explosão das redes sociais e a era dos “digitais influencers", o que mais vemos na internet são ‘colírios’- termo usado para definir adolescentes por suas características estéticas. E por onde andam os ‘galãs’ com 40 anos ou mais? A lista para os galanteadores de meia idade está em alta e não para de crescer: Cauã Reymond, Sergio Marone, André Bankoff, Henri Castelli, Sergio Guizé, Rodrigo Hilbert, Bruno Cabrerizo, Reynaldo Gianecchini e Rodrigo Santoro são os atores que seguem firmes com o título, assim dizia o conhecido ditado “os homens maduros são iguais aos vinhos, quanto mais velhos ficam, melhor é a experiência”, pode até ser verdade, afinal, seguem em destaque em suas carreiras cuidando do corpo e da mente, talvez esse seja o segredo de tamanha vitalidade. Para completar o time dos ‘galãs’ quarentões, surge o ator Thiago Tambuque, pouco conhecido do grande público, mas com uma carreira internacional promissora, seguindo os passos de Rodrigo Santoro, o ator acaba de gravar seu primeiro filme “Skyfly” com direção de Gary Smith com estreia prevista para o segundo semestre deste ano e já recebeu um novo convite para gravar um longa metragem de terror, primeiro do segmento de sua carreira. O termo parece não incomodar o novo astro brasileiro em terras norte-americanas. “Eu, por exemplo, cresci ouvindo que Antônio Fagundes,Tony Ramos e Tarcísio Meira eram galãs. Isso criou em mim um conceito que mudou pouco ao longo dos anos. Não entendo muito bem quando chamam um garoto de 20 anos de galã; não é minha referência. Hoje, para mim, o galã é aquele ator que faz seu trabalho com competência, que passa a verdade do personagem, que conquista o público e que, na vida pessoal, fazendo jus ao papel público que tem, se esforça para dar bons exemplos. O meu conceito de "galã" não passa necessariamente pela aparência do artista”, comenta Tambuque. O título de galã por muitas vezes é interpretado como algo maléfico na carreira artística, o próprio público por muitas vezes rotula o artista como ‘apenas um rosto bonito’ na tela, e por muitas vezes, esses artistas fogem do estereótipo do bonitão’ – o ator Marcos Pasquim sofre com piadas até hoje por interpretar inúmeros personagens onde aparecia sem camisa na maioria das cenas, seu peitoral é mais lembrado que suas atuações. “O "galã" pode ou não ser estereotipado. O ator bonito e canastrão é, com certeza, um estereótipo. Para algumas pessoas, quando um ator é chamado de "galã", automaticamente essa figura vem à mente. Por outro lado, existem muitos atores (bonitos ou não), que fazem um excelente trabalho e que também recebem este mesmo "título", por assim dizer. Há de tudo. Eu penso que o estereótipo passa a prejudicar o bom ator quando os papéis que lhe são oferecidos se baseiam muito mais na sua aparência do que no seu talento. Neste processo, ele passa a fazer sempre o mesmo tipo de personagem, a ser estigmatizado, a ser tolhido na sua criatividade e a não desempenhar aquilo para o que foi treinado”, explica o ator. As telenovelas brasileiras são um celeiro de grandes talentos, mas o mercado cinematográfico norte-americano é líder quando o assunto é ‘ator galã' – “Historicamente, o cinema americano, assim como a sociedade, é conhecido por criar rótulos e estereótipos. Quando eles olham para mim, vêem uma figura que não lhes é familiar, no bom sentido mesmo. É interessante ver como eles sempre tentam me enquadrar numa categoria, numa etnia. Existe essa necessidade de classificar. Isso é algo por que passo constantemente. Ao mesmo tempo, porém, ser "diferente" abre algumas portas. É meio como naquele programa antigo do Sérgio Malandro: numa porta você pode ganhar um prêmio e, na outra, uma surpresa bastante desagradável”, diz Thiago Tambuque ao falar de como é ser um ator brasileiro em outro país. Infelizmente a carreira de um galã já nasce com data de validade, não vemos na mídia, seja ela qual for, um ‘galã’ da terceira idade – o estereótipo do ‘bonitão’ da novela das nove é criado para vender mais, atrair o público feminino, onde muitas vezes o rótulo acaba interferindo e prejudicando a vida pessoal do ator. “Dentro do padrão de beleza clássica que nos é reiteradamente incutido, não cabem homens maduros. Por isso é tão importante os atores não se fiarem tanto em sua aparência como ferramenta para ascensão profissional, porque ela até pode os levar ao auge, mas não os manterão lá”, frisa o ator. Recentemente, o ator Marco Pigossi, em entrevista à revista Piauí, falou abertamente sobre sua sexualidade, rompendo um tabu que há muitos anos não era possível – “Nos meus doze anos de vida pública, mantive um relacionamento com um homem que durou oito anos. Vivíamos juntos no mesmo apartamento. Hoje, olhando esse passado, me dou conta de que vivi situações absurdas. Em passeios nos shoppings, por exemplo, sempre que eu encontrava um conhecido por acaso, meu namorado automaticamente seguia andando para me proteger, como se eu estivesse sozinho. Ele via o tamanho do meu desespero. A paranóia fazia com que uma simples ida ao cinema com meu companheiro, algo trivial na rotina de um casal, fosse precedida de muita angústia. Eu pedia para amigos irem conosco, só para evitar que eu fosse visto sozinho na companhia de outro homem. Era um conflito interno constante: eu não podia deixar o medo me vencer, eu tinha que ir ao cinema, mas, ao mesmo tempo, sentia um pânico de ser descoberto gay”. “O que afeta a privacidade dos artistas de modo geral é a maneira como cada um decide se apresentar. Mas não só. Hoje em dia, todas as pessoas têm telefones com câmera e internet sempre à mão. Neste contexto, coisas que são triviais para qualquer cidadão tornam-se verdadeiras epopéias para as pessoas públicas: ir ao mercado, ao médico, à academia, a um restaurante, falar bobagem com os amigos, paquerar, sair com alguém. Tudo vira notícia. Tudo é registrado. Tudo vira polêmica, debate. Os artistas acabam tendo as portas da sua privacidade arrombadas e suas intimidades invadidas, muitas vezes violentamente, e são forçados a se pronunciar. Um exemplo que jamais deveríamos nos esquecer foi o que aconteceu com a Princesa Diana. Ela não era uma artista, mas era uma celebridade. Sua vida pessoal era constantemente virada do avesso à revelia da sua vontade, não importava o quanto ela tentasse se proteger. Todos sabem como isso terminou. Eu, porém, tendo a acreditar que nem a imprensa e nem o público brasileiro têm todo esse ímpeto. Existem vários artistas extremamente populares que conseguem manter sua vida privada distante dos sites de fofocas, e isso independe de serem galãs”, finaliza Thiago Tambuque.