As mudanças climáticas estão intimamente ligadas às diferentes atividades humanas, em especial, aquelas que dependem de combustíveis fósseis para serem realizadas. Apesar dessa relação já ser bem conhecida, o que tem tornado cada vez mais relevante a adoção de formas de obtenção de energia mais limpas e renováveis, fala-se pouco ainda sobre as relações entre nossos resíduos e as mudanças do clima.
Estima-se que a humanidade gere cerca de 2 bilhões de toneladas de resíduos todos os anos. Esse número é tão alto que fica difícil inclusive estabelecer paralelos. Considerando que o Estado de São Paulo possui cerca de 20 milhões de automóveis (IBGE, 2022) e que todos fossem descartados em 1 ano, isso corresponderia a somente cerca de 1% dos resíduos gerados no mundo nesse período.
Os resíduos colaboram diretamente para agravar ainda mais a situação climática do planeta. O relatório da UNEP (2021) aponta que os resíduos sólidos são responsáveis por cerca de 20% das emissões globais de metano, perdendo somente para os setores agrícola e petrolífero. Vale lembrar que o gás metano é 25 vezes mais eficiente em reter o calor na atmosfera, aumentando as temperaturas médias do planeta.
Apesar da notícia não ser boa, esse olhar para os resíduos abre novas possibilidades para que todos nós possamos agir a respeito das mudanças do clima todos os dias.
Para reduzir a quantidade de resíduos e colaborar para o enfrentamento das mudanças climáticas, podemos:
Todas essas possibilidades, e muitas outras, colaboram também com a criação de um novo modelo de tripé produção-consumo-descarte, estimulando que os materiais do nosso dia a dia permaneçam por mais tempo em circulação. Esse é um dos princípios da Economia Circular, modelo que estimula a redução da geração de resíduos, a menor retirada de recursos da natureza e a regeneração dos serviços ecossistêmicos.
Para além da nossa colaboração enquanto indivíduos, é preciso que o setor empresarial se responsabilize e atue ativamente para ser social e ambientalmente responsável e contribua com o enfrentamento das mudanças climáticas. As iniciativas privadas desempenham papel fundamental - principalmente devido ao seu poder de inovar e influenciar a economia e a sociedade em geral.
Dentre as ações, as empresas podem adotar medidas para reduzir suas próprias emissões - melhorando sua eficiência energética, utilizar fontes renováveis de energia, investir em tecnologias de baixo carbono, promover a logística reversa de seus produtos, criar produtos mais sustentáveis que utilizam materiais renováveis ou que têm um ciclo de vida mais longo e defender políticas climáticas mais ambiciosas.
Nesse caminho, destacamos a Lord, empresa parceira do Movimento Escolas pelo Clima e do Movimento Circular, que há mais de 50 anos se responsabiliza pela destinação final de resíduos sólidos plásticos. Em sua primeira produção de sacolas, na década de 70, foram pioneiros no uso de matéria-prima reciclada. Além disso, possui em sua estrutura uma planta de reciclagem que transforma todos os resíduos gerados nos processos, bem como resíduos de terceiros, em matéria-prima novamente. As resinas são reaproveitadas de maneira eficiente e ecológica para que novos produtos sejam produzidos a partir dali.
"A indústria precisa constantemente minimizar os impactos ao ambiente e gerar influência positiva a uma nova cultura, onde tudo seja reaproveitado como matéria-prima para novos ciclos, ajudando assim a mitigar as mudanças climáticas. As mudanças precisam ser IMEDIATAS" destaca Herman Moura, presidente da Lord.
Este é um exemplo de como o setor privado pode se envolver ativamente na causa e promover transformações reais no território.
*Edson Grandisoli é diretor educacional da Reconectta e do Movimento Escolas pelo Clima. É Biólogo, Ecólogo, Doutor em Educação e Sustentabilidade, Pós-doutor pelo Instituto de Estudos Avançados da USP. Assessor da UNESCO, formador de professores, palestrante e editor adjunto da Revista Ambiente & Sociedade.