Pexels Mais de 250 mil brasileiros vivem em Portugal, de acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). A estatística não inclui os brasileiros ilegais e pode crescer com a notícia de que é possível tirar a cidadania pela internet. No entanto, o que poucos falam é sobre o planejamento que é necessário realizar, seja ele financeiro, familiar ou psicológico, para imigrar com segurança. De acordo com a empresária brasileira e especialista em “relocation”, Natália Arantes, há uma grande expectativa de uma nova e maravilhosa vida do outro lado do Atlântico, mas sem planejamento o que era para ser uma boa experiência vira frustração.
“Sei o quanto Portugal é atraente para começar uma nova vida. Contudo, é muito importante se preparar para esta mudança, fazendo um investimento prévio e buscando serviços que possam de fato auxiliar na instalação”, explicou Natália Arantes.
A fala da empresária carioca é reforçada pela jornalista Flavia Lima que mora há quatro anos em Portugal. A também carioca foi para Lisboa fazer Mestrado e se apaixonou, mas garante que sem planejamento fica impossível.
“Escolhi Portugal pela facilidade da língua, mas engana-se quem pensa que é tudo igual. O que gosto em Lisboa é a qualidade de vida que não tinha mais no Brasil. Me sinto segura em caminhar pelas ruas, até mesmo com o celular na mão. Coisa que não poderia fazer no Rio de Janeiro. A dica que eu dou para quem pretende vir pra cá é: organize-se, faça um planejamento. De uns tempos para cá, os aluguéis aumentaram bastante. Então, morar no Centro de Lisboa ficou caro demais. O salário mínimo é um dos mais baixos da Europa, 705€. Então, planejamento é essencial”, aconselha Flavia.
Para entender melhor o que pode dar errado para o imigrante ao chegar em Portugal, Natália listou oito erros clássicos. São eles:
1 - Falta de planejamento financeiro: planejar a mudança de país é fundamental para não cair em erros que podem levar a pessoa de volta para casa. É preciso conhecer a moeda corrente e o quanto precisa para morar e sobreviver no país, analisar se é necessário juntar dinheiro, além de saber com qual visto ela entrará no país. Se a pessoa vai para Portugal com a expectativa de que terá um custo de vida baixo e não precisará se programar financeiramente para isso, não vai dar certo
2 - Falta de planejamento psicológico: outro ponto muito importante é o preparo emocional. Muitos retornam ao Brasil por não conseguirem ficar longe da família, amigos e da sua rede de apoio. Sentem saudade e não ficam emocionalmente bem. Ninguém se planejou para uma pandemia e guerra que deixaram passagens aéreas mais caras. É importante considerar na mudança que você pode ou não ver amigos e família com frequência.
3 - Não incluir a vida pessoal e escolar dos filhos no planejamento: tive uma cliente, uma médica com diploma validado e contrato de trabalho muito bom em Portugal. Chegou com os filhos, entre eles uma filha que estava no último ano da escola. Adolescente é uma fase que pode ser difícil, até mesmo para se adaptar. Não deu certo e retornou ao Brasil com menos de um ano de Portugal.
4 - Achar que Portugal é extensão do Brasil: Portugal não é uma extensão do Brasil ou mais um estado brasileiro. Isso é um erro muito comum. Quando a família decide mudar de país é preciso procurar conhecer a cultura deste país. Vemos muitas pessoas reclamando de Portugal e que no Brasil é melhor. É preciso não esquecer o motivo que fez a pessoa tomar a decisão e se mudar. Minha dica é manter o foco nisso. Não adianta achar que em Portugal será só maravilhas.
5 - Entrar como turista já com intuito de se legalizar somente depois que chegar em Portugal: muitos saem do Brasil para aproveitarem a brecha que há na lei, a manifestação de interesse. Isso era para ser considerado exceção e não regra. A pessoa vai de qualquer jeito, sem emprego, sem visto e ao chegar não consegue um trabalho legal. Muitos chegam ao país nesta expectativa e às vezes não conseguem.
6 - Desconhecimento do custo de vida real de Portugal: muitos chegam ao país apenas com informações da internet fornecidas por instagramers e youtubers que buscam likes ou visualizações e que informam um aluguel de 300 euros. O imigrante chega, vê que isso não existe e passa por necessidades, afinal aquele aluguel que ela queria não tem. É preciso se planejar.
7 - Cair em golpes de arrendamentos, documentação etc: algo muito fácil de acontecer é o brasileiro cair nos golpes para aluguel, algo que está muito caro em Portugal. A pessoa se informa sobre o aluguel de um apartamento 500 euros que, na verdade, é acima de 1000 euros. Todo o processo é feito sem auxílio profissional e pela internet sem verificar com cuidado as documentações como a do imóvel e a do proprietário para saber se a pessoa é realmente a dona do imóvel. Na chegada a Portugal, além de não ter o imóvel, perde o dinheiro investido. Uma pessoa já me procurou depois de cair neste golpe e estava juntando dinheiro de novo para recomeçar.
8 - Querer impor a cultura brasileira em Portugal: Brasil e Portugal são dois países muito diferentes. O ritmo de vida e os hábitos dos brasileiros não são os mesmos dos portugueses. É fundamental para o imigrante querer se adequar, compreender que os serviços têm suas peculiaridades, ao invés de buscar sempre comparar os dois países. Um exemplo que pode ilustrar esta diferença cultural é que, ao contrário do Brasil, em especial o Rio de Janeiro, nem todos os lusitanos acham normal estar de chinelo em todos os espaços, mesmo este sendo de grife. Chamar o garçom de “ moço” também pode complicar.