11/10/2022 às 21h19min - Atualizada em 12/10/2022 às 00h01min

Dnit planeja aterrar trecho de rio onde ponte desabou no AM; especialista alerta sobre risco ambiental

Segundo o governador Wilson Lima, o órgão federal informou que a medida busca retomar o tráfego de veículos na região. Ambientalista alerta que o tempo na Amazônia é imprevisível e que uma forte enxurrada poderia ocasionar problemas na estrutura provisória.

AMAZONAS
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2022/10/11/dnit-planeja-aterrar-trecho-de-rio-onde-ponte-desabou-no-am-especialista-alerta-sobre-risco-ambiental.ghtml

Segundo o governador Wilson Lima, o órgão federal informou que a medida busca retomar o tráfego de veículos na região. Ambientalista alerta que o tempo na Amazônia é imprevisível e que uma forte enxurrada poderia ocasionar problemas na estrutura provisória. Obras ao lado de ponte sobre Rio Autaz Mirim que desabou no AM
O trecho do Rio Autaz Mirim, onde uma ponte desabou na BR-319, será soterrado para que o tráfego de veículos seja restabelecido na rodovia, segundo informou o govenador Wilson Lima, na segunda-feira (10). Especialista ouvido pelo g1 alerta para os riscos ambientais que podem ser ocasionados pelas obras.
Única ligação terrestre de Manaus com outras regiões do país, a BR-319 teve duas pontes danificadas em um intervalo de 10 dias. Antes da ponte sobre o Rio Autaz Mirim despencar, no último sábado (8), a ponte sobre o Rio Curuçá já havia desabado no fim de setembro. Nesse último trecho, o governo estadual informou que balsas serão utilizadas para a passagem de veículos. (leia mais abaixo).
Coordenado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Dnit), as obras de soterramento no trecho do Rio Autaz Mirim direciona o período de seca, com baixo nível da água, para retomar provisoriamente o trânsito de veículos. A barragem que será construída de uma margem à outra com seixos, britas e outras pedras.
A estrutura temporária será instalada ao lado da antiga ponte que desabou e tem prazo de validade curto: até o início da cheia dos rios, cujo processo se inicia no fim do ano, no período do inverno amazônico.
O ambientalista Carlos Durigan alerta que mesmo se tratando de uma obra emergencial é necessário que o projeto seja avaliado e aprovado por órgãos licenciadores, levando em consideração os potenciais impactos e as medidas adequadas para minimizá-los e evitar novos acidentes no local.
"Além dos impactos eventuais, é importante ter em mente que um aterro sobre o leito de um rio, que em breve deve voltar a encher com as chuvas que virão mais fortes nos próximos meses, é bem preocupante se tratando de BR-319, em que boa parte da estrada é construída sobre aterros e em vários locais há deslizamentos e rupturas frequentes", afirmou
Mesmo que atualmente esteja em pleno período do verão amazônico, caraterizado pelo baixo volume de chuva, o ambientalista lembra que o tempo na Amazônia é imprevisível e que uma forte enxurrada poderia ocasionar em problemas na estrutura provisória.
"Um aterro sempre gera represamento do fluxo das águas do rio, por isso é preciso ter cautela até para garantir a segurança de trafegabilidade sobre o mesmo, pois assim que houver qualquer alteração do volume das águas, em caso de aumento repentino de chuvas, isso ainda pode acarretar ainda mais prejuízos", concluiu Durigan.
O g1 solicitou detalhes do Dnit sobre o plano de soterramento na região, mas ainda não obteve retorno. O g1 também questionou o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) se as obras foram aprovadas pelo órgão e aguarda retorno.
Ponte de ferro descartada
No local onde a primeira ponte da rodovia desabou, o Dnit descartou o plano inicial de instalar uma ponte metálica provisória sobre o Rio Curuçá.
Na quinta-feira (6), dois dias antes da segunda ponte desabar, o Dnit havia confirmado, por meio de nota ao g1, que estava "trabalhando na conclusão dos acessos nas margens do rio Curuçá para receber a estrutura da ponte. Logo após, será iniciada a montagem da estrutura metálica em parceria com o Exército Brasileiro",
Ponte Autaz Mirim da BR-319 desaba no Amazonas
Associação de Amigos e Defensores da BR-319/ Divulgação
Passadas duas semanas, o trecho do Rio Curuçá segue bloqueado para o tráfego de veículos e pessoas. O problema na rodovia federal ser agravou com a queda da segunda ponte.
Agora, o Governo do Amazonas o trecho deve receber balsas para a travessia dos veículos.
"As balsas vão chegar pelo Careiro da Várzea. Serão embarcadas em veículos. De lá, elas serão transportadas até a ponte do Curuçá. Elas vão ser colocadas no rio para permitir a passagem dos veículos", disse Wilson Lima, após a reunião com o ministro dos transportes, na segunda-feira (11).
Caminhoneiros enfrentam rotas alternativas
O desabamento das duas pontes tem forçado caminhoneiros a buscarem rotas fluviais mais caras e distantes para escoar mercadorias.
Antes da queda das duas estruturas, os motoristas que saíam de Manaus precisavam viajar em uma balsa que sai de um porto da Ceasa, na capital amazonense, com destino a um distrito localizado no município de Careiro da Várzea (a poucos quilômetros de Manaus em linha em reta). A viagem dura em torno de 40 minutos.
Ponte sobre Rio Curuçá desabou em trecho da BR-319, no Amazonas
Ruthiene Bindá/Rede Amazônica
Agora, com os desabamentos das estruturas, os motoristas se veem obrigados a enviar os caminhões a municípios como Manaquiri e Autazes, em viagens que chegam a durar 8 horas. Nesses locais, é possível se reconectar à BR-319 após o trecho atingido pelas pontes em ruínas.
No entanto, além do maior tempo de viagem, os caminhoneiros também sentem no bolso o desafio de enfrentar as rotas alternativas.
"Dono de balsas estão cobrando R$ 2,5 mil para atravessar um ônibus desse. Os caminhoneiros estão pagando R$5.000 a carreta para atravessar", afirmou o motorista Carlos Colares que utilizou uma balsa para enviar o veículo para Manaquiri.
A severa descida dos rios amazônicos também pode se tornar um entrave extra no desafio a ser enfrentado nas rotas alternativas. Isso porque a baixa do nível da água do Rio Solimões, por exemplo, tem dificultado a viagem de balsas para Manaquiri.
Desabastecimento em três municípios
O governado Wilson Lima decretou nesta segunda-feira (10) situação de emergência nos três municípios diretamente atingidos pela queda das pontes: Careiro da Várzea, Autazes e Careiro.
De acordo com o governo estadual, há desabastecimento de alimento, remédio e combustíveis. Também há risco das cidades ficarem sem energia elétrica. Cerca de 100 mil pessoas estão sendo afetadas após os acidentes.
"Temos ali a questão do escoamento da produção, desabastecimento de alimento, de remédio, de combustíveis. É importante a questão do combustível, porque esse combustível é que faz funcionar as térmicas. Então, há um risco de que em algum momento isso aconteça, e a gente espera que isso não aconteça, de que alguns desses municípios possam ficar sem energia elétrica", afirmou Wilson Lima.
Histórico e problemas
Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao restante do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu asfaltá-la.
Passado mais de três anos e meio desde que Bolsonaro assumiu o cargo, a promessa de asfaltamento da BR-319 ainda não saiu do papel
Questionado logo após a queda da ponte sobre o Rio Curuçá, o Ministério da Infraestrutura disse ao g1 que a declaração feita em 2019 por Bolsonaro "refere-se ao asfaltamento do lote C da BR-319/AM, que fica a aproximadamente 200 quilômetros do local do incidente [ponte sobre o Rio Curuçá]", embora o presidente e a pasta não tenham deixado isso claro à época.
"O trecho de 405 quilômetros conhecido como "trecho do meião" recebeu em 28 de julho a licença prévia ambiental para as obras de reconstrução e pavimentação. Emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o documento aprova os estudos e viabilidade ambiental das obras. O próximo passo é a licença de instalação, que permitirá a contratação da obra, de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e projetos aprovados pelo Ibama", diz o restante da nota.
Inaugurada em 1976, a BR-319 é conhecida pelos diferentes problemas enfrentados ao longo dos anos. Trafegar pela estrada que liga a capital do Amazonas às outras regiões do Brasil é sempre um desafio para os motoristas.
Caminhoneiro atolados na BR-319.
Divulgação
Grande parte da rodovia segue imprópria para o trânsito de veículos em meio a impasses ambientais e burocráticos. São cerca de 800 quilômetros que separam Manaus de Porto Velho (RO), uma distância que poderia ser percorrida em 12 horas de carro. A recuperação da área está estimada em R$ 1,4 bilhão.
A rodovia possui diversos trechos danificados e não tem pavimentação em quase toda a sua extensão, o que provoca atoleiros "gigantes" no período chuvoso. Já no período de estiagem, os motoristas reclamam de outros problemas: buracos e poeira. Em alguns casos, crateras se abrem em trechos.
Na parte de Manaus, a rodovia já é um desafio logo no início, já que ela começa dentro do Rio Amazonas, numa área próximo ao bairro Distrito Industrial e ao famoso Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões.
Para partir do Amazonas em direção a Rondônia pela BR-319, pedestres e moradores se deslocam até um porto chamado "Ceasa". Desse porto, pedestres entram em embarcações - barcos, lanchas e balsas - e motoristas, incluindo caminhoneiros, embarcam em balsas. É que todos os usuários da estrada precisam atravessar o rio para chegar à faixa de terra do outro lado, onde fica a área da ponte sobre o Rio Curuçá, a primeira que caiu. O trajeto dura, em média, 45 minutos.
Vídeos mais assistidos do Amazonas

Fonte: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2022/10/11/dnit-planeja-aterrar-trecho-de-rio-onde-ponte-desabou-no-am-especialista-alerta-sobre-risco-ambiental.ghtml
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://amazonasemdia.com.br/.