Motoristas se veem obrigados a enviar caminhões, por meio fluvial, para os municípios como Manaquiri e Autazes, localizados depois de trecho da rodovia atingido pela queda das estruturas. Viagens podem levar até 8 horas. As pontes Autaz Mirim e sobre o Rio Curuçá desabaram na BR-319, no Amazonas
Associação de Amigos e Defensores da BR-319/Divulgação e Wiliam Duarte/Rede Amazônica
Na única via terrestre que liga Manaus a outras regiões do país, a queda de duas pontes na BR-319 tem forçado caminhoneiros a buscarem rotas fluviais mais caras e distantes para escoar mercadorias. Além do problema de logística, três municípios da região têm enfrentado desabastecimento de remédios e alimentos.
Em um intervalo de 10 dias, duas pontes da rodovia federal desabaram a poucos quilômetros uma da outra:
28 de setembro - A ponte sobre Rio Curuçá caiu no início da manhã daquele dia, deixando 4 mortos, um desaparecido e 14 feridos.
8 de outubro - No fim da noite, a ponte sobre o Rio Autaz Mirim, desabou horas após ser interditada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Antes da queda das duas estruturas, os motoristas que saíam de Manaus precisavam viajar em uma balsa que sai de um porto da Ceasa, na capital amazonense, com destino a um distrito localizado no município de Careiro da Várzea (a poucos quilômetros de Manaus em linha em reta). A viagem dura em torno de 40 minutos.
Agora, com os desabamentos das estruturas, os motoristas se veem obrigados a enviar os caminhões a municípios como Manaquiri e Autazes, em viagens que chegam a durar 8 horas. Nesses locais, é possível se reconectar à BR-319 após o trecho atingido pelas pontes em ruínas.
Uma das rotas fluviais é seguindo de balsa de Manaus até Manaquiri, trajeto que dura 8 horas.
Rede Amazônica
No entanto, além do maior tempo de viagem, os caminhoneiros também sentem no bolso o desafio de enfrentar as rotas alternativas.
"Dono de balsas estão cobrando R$ 2,5 mil para atravessar um ônibus desse. Os caminhoneiros estão pagando R$5.000 a carreta para atravessar", afirmou o motorista Carlos Colares que utilizou uma balsa para enviar o veículo para Manaquiri.
A severa descida dos rios amazônicos também pode se tornar um entrave extra no desafio a ser enfrentado nas rotas alternativas. Isso porque a baixa do nível da água do Rio Solimões, por exemplo, tem dificultado a viagem de balsas para Manaquiri.
Sem previsão de inauguração de ponte metálica
Dois dias após a queda da ponte sobre o Rio Curuçá, no dia 28 de setembro, o governo estadual informou que uma ponte metálica provisória seria construída no local, dentro de 12 dias, pelo Exército Brasil (EB) sob coordenação do Departamento Nacional de Trânsito (Dnit).
O prazo termina na próxima quarta-feira (12), no entanto, a Rede Amazônica visitou o local do acidente nesta segunda-feira (10), e não encontrou nenhuma movimentação em relação à construção da estrutura.
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Em nota, o Ministério de Infraestrutura informou que "estão em estudo medidas voltadas ao restabelecimento do tráfego de veículos e pedestres, em caráter emergencial" na região.
No entanto, nem a pasta e nem o Departamento Nacional de Trânsito (DNIT) informaram como está o andamento da estrutura provisória, e se o cronograma inicial será cumprido.
Desabastecimento em três municípios
O governado Wilson Lima decretou nesta segunda-feira (10) situação de emergência nos três municípios diretamente atingidos pela queda das pontes: Careiro da Várzea, Autazes e Careiro.
De acordo com o governo estadual, há desabastecimento de alimento, remédio e combustíveis. Também há risco das cidades ficarem sem energia elétrica. Cerca de 100 mil pessoas estão sendo afetadas após os acidentes.
"Temos ali a questão do escoamento da produção, desabastecimento de alimento, de remédio, de combustíveis. É importante a questão do combustível, porque esse combustível é que faz funcionar as térmicas. Então, há um risco de que em algum momento isso aconteça, e a gente espera que isso não aconteça, de que alguns desses municípios possam ficar sem energia elétrica", afirmou Wilson Lima.
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Histórico
Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao restante do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu asfaltá-la.
Passado mais de três anos e meio desde que Bolsonaro assumiu o cargo, a promessa de asfaltamento da BR-319 ainda não saiu do papel.
Questionado logo após a queda da ponte sobre o Rio Curuçá, o Ministério da Infraestrutura disse ao g1 que a declaração feita em 2019 por Bolsonaro "refere-se ao asfaltamento do lote C da BR-319/AM, que fica a aproximadamente 200 quilômetros do local do incidente [ponte sobre o Rio Curuçá]", embora o presidente e a pasta não tenham deixado isso claro à época.
"O trecho de 405 quilômetros conhecido como "trecho do meião" recebeu em 28 de julho a licença prévia ambiental para as obras de reconstrução e pavimentação. Emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o documento aprova os estudos e viabilidade ambiental das obras. O próximo passo é a licença de instalação, que permitirá a contratação da obra, de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e projetos aprovados pelo Ibama", diz o restante da nota.
Inaugurada em 1976, a BR-319 é conhecida pelos diferentes problemas enfrentados ao longo dos anos. Trafegar pela estrada que liga a capital do Amazonas às outras regiões do Brasil é sempre um desafio para os motoristas.
Grande parte da rodovia segue imprópria para o trânsito de veículos em meio a impasses ambientais e burocráticos. São cerca de 800 quilômetros que separam Manaus de Porto Velho (RO), uma distância que poderia ser percorrida em 12 horas de carro. A recuperação da área está estimada em R$ 1,4 bilhão.
A rodovia possui diversos trechos danificados e não tem pavimentação em quase toda a sua extensão, o que provoca atoleiros "gigantes" no período chuvoso. Já no período de estiagem, os motoristas reclamam de outros problemas: buracos e poeira. Em alguns casos, crateras se abrem em trechos.
Na parte de Manaus, a rodovia já é um desafio logo no início, já que ela começa dentro do Rio Amazonas, numa área próximo ao bairro Distrito Industrial e ao famoso Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões.
Para partir do Amazonas em direção a Rondônia pela BR-319, pedestres e moradores se deslocam até um porto chamado "Ceasa". Desse porto, pedestres entram em embarcações - barcos, lanchas e balsas - e motoristas, incluindo caminhoneiros, embarcam em balsas. É que todos os usuários da estrada precisam atravessar o rio para chegar à faixa de terra do outro lado, onde fica a área da ponte sobre o Rio Curuçá, a primeira que caiu. O trajeto dura, em média, 45 minutos.
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Fonte: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2022/10/10/apos-desabamentos-de-pontes-na-br-319-motoristas-enfrentam-rotas-mais-longas-e-caras-no-am.ghtml