29/09/2022 às 14h39min - Atualizada em 29/09/2022 às 22h24min

Maternidade é um plano cada vez mais adiado e os especialistas alertam para a preservação da fertilidade dentro da idade reprodutiva

Médicos orientam que a procura por clínicas especializadas seja feita, de preferência até os 35 anos para não comprometer a eficácia dos tratamentos

SALA DA NOTÍCIA Vagner Liberato Morini
Créditos: Pixabay

Ter filhos na sociedade contemporânea é uma questão de escolha, diferentemente do passado, quando a maternidade não tinha o protagonismo feminino que tem hoje por diversas questões culturais e sociais.

A cada ano, segundo os especialistas, aumenta a quantidade de mulheres que decidem adiar a maternidade por diversos motivos, na maioria dos casos, prorrogar a gravidez é consequência dos desafios na escolha do parceiro ideal e principalmente das prioridades profissionais.

As mulheres ocupam com maior expressividade a alta gestão de diferentes carreiras e assumir a liderança no trabalho implica na dedicação de mais tempo de estudos e de disponibilidade profissional. “Não é incomum que as mulheres se casem mais tarde ou tenham filhos após os 30 anos, essa é uma realidade consolidada. A gravidez independente também tem sido uma tendência da sociedade atual”, relata Dr. Alfonso Massaguer, médico especialista em Reprodução Humana. “A experiência clínica dá sinais de que as próximas gerações tenham um número significativo de crianças nascidas de procedimentos provenientes da Medicina Reprodutiva”, ressalta.

O grande desafio tem sido alertar as mulheres que escolhem adiar a maternidade sobre a idade correta de procurar pelos serviços de uma clínica especializada para a preservação da fertilidade. “Quase 90% das pacientes procuram pelas clínicas de reprodução assistida a partir dos 35 anos, sendo que o ideal seria justamente o contrário, que garantissem a preservação dos óvulos justamente até essa idade e não a partir dela”, destaca Dr. Massaguer.

A capacidade fértil das mulheres começa a diminuir no final dos 20 anos de idade. A partir dessa faixa etária, a qualidade dos óvulos começa a ser decrescente. Dos 25 aos 29 anos, as chances de gestação com baixo risco de complicações na gravidez e no pósparto são altas, dos 29 aos 35 anos, em geral, a qualidade ainda é considerada oportuna, porém, segundo os especialistas, dos 35 anos em diante as dificuldades para engravidar aumentam naturalmente a cada ano. Para se ter uma ideia do declínio reprodutivo feminino, após os 40 anos aumenta significativamente o risco de abortos espontâneos além de complicações como diabetes gestacional e hipertensão na gravidez. 

“A gravidez pode acontecer espontaneamente em casos isolados após os 35 anos, mas não é a regra. Nesta idade já lançamos mão do uso de medicamentos indutores de ovulação ou fertilização in vitro e a partir dos 45 anos, a expectativa de uma gravidez natural é muito baixa, idade em que a reserva ovariana diminui tanto que pode comprometer inclusive a expectativa para a FIV (fertilização in vitro)”, explica o especialista.

Ou seja, a partir dos 35 anos, a probabilidade de uma gravidez espontânea reduz em 50% e após os 40 anos, cai mais uma vez pela metade em relação aos 35 anos, de acordo com o médico.

“Isso se dá pelo esgotamento natural do aparelho reprodutor. Quando uma criança mulher nasce, ela possui a capacidade de 1.000.000 de óvulos, mas para se ter uma ideia, ao alcançar a puberdade restam apenas 300.000, ou seja, um óvulo por mês em média para toda a fase reprodutiva, que tem o pico até os 30 anos de idade”, pontua Dr. Massaguer.

O alerta dos especialistas é para que as mulheres não esperem o fim do auge reprodutivo para procurar recursos como o congelamento de óvulos, mas ao contrário, garantam a qualidade deles justamente antes que a fase reprodutiva termine. Esse cuidado aumenta de forma exponencial o sucesso de uma gravidez por procedimento no futuro, ainda que a decisão consolidada de engravidar ocorra muitos anos depois.

O processo de congelamento de óvulos exige exames prévios e em seguida, a coleta poderá ser feita. Em alguns casos, há a indicação do uso de medicamentos para estimular a ovulação e garantir o maior número de células. A coleta é feita com sedação, em centro cirúrgico. Durante a extração, utiliza-se uma agulha acoplada a um aparelho de ultrassonografia, capaz de sugar os folículos dos ovários e é justamente dentro deles que se encontram os óvulos. 

Depois disso, em laboratório, os óvulos são retirados de dentro dos folículos por técnica especializada com a ajuda de uma agulha ultrafina e são submetidos ao processo de maturação, por cerca de duas horas, quando então já poderão ser congelados em nitrogênio líquido, a uma temperatura de 196 graus negativos em questão de minutos. “Vale lembrar que os óvulos podem permanecer congelados por muitos anos, décadas inclusive, mas é determinante para o maior sucesso do procedimento, que a coleta seja feita numa fase precoce. Quanto mais jovem o óvulo é extraído, melhor a qualidade dele e isso significa coletar até os 35 anos, no máximo”, alerta o médico.

Este alerta mostra o quanto o assunto precisa entrar na pauta familiar. Para os especialistas, o planejamento profissional, que se intensifica no Ensino Médio, com os preparativos para o vestibular por exemplo, já são fortes indicativos das perspectivas que cada jovem mulher tem para o futuro. Na fase universitária, auge da etapa reprodutiva, garantir a preservação da fertilidade é a decisão mais acertada para não comprometer a maternidade, caso os anos seguintes sejam de dedicação exclusiva à formação profissional. “E é sobre isso que pais e filhas precisam conversar cada vez mais cedo. Trata-se de uma prevenção acertada que preserva escolhas conscientes na fase mais saudável da vida, ainda que não seja a idade em que todas as certezas já se estabeleceram, quando o assunto é ter filhos. Assegurar essa oportunidade reduz risco, diminui frustração e traz estabilidade emocional para decidir com liberdade sobre os investimentos dedicados para cada período da vida da mulher”, finaliza Dr. Alfonso Massaguer.

Sobre Dr. Alfonso Massaguer - CRM 97.335

O doutor Alfonso Massaguer (CRM 97.335) é ginecologista e obstetra, formado pela faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com mais de 20 anos de experiência em Reprodução Humana. Dr. Alfonso é diretor clínico da MAE (Medicina de Atendimento Especializado) que é uma clínica especializada em reprodução assistida. Foi professor responsável pelo curso de reprodução humana da FMU. Membro da Federação Brasileira da Associação de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), das Sociedades Catalãs de Ginecologia e Obstetrícia e Americana de Reprodução Assistida (ASRM). Além de vários capítulos de ginecologia, obstetrícia e reprodução humana em livros de medicina, com passagens em centros na Espanha e no Canadá. 


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