08/09/2022 às 19h09min - Atualizada em 09/09/2022 às 00h42min

Fake News: Lado perverso da intencionalidade na desinformação

SALA DA NOTÍCIA Imprensa
Pixabay
Nunca se falou tanto em fake news (notícias falsas) como ultimamente. A constante divulgação, deste tipo de produção, tem por finalidade confundir o leitor, entre o que é fato e o que é falso. Muito foi publicado, principalmente, em tempos de eleição, seja no Brasil ou fora dele. Erroneamente entendido como um movimento da contemporaneidade, de fato não é, porém seu uso, cotidianamente, nunca esteve tão intensificado. Em grande parte, favorecido pelos avanços tecnológicos e as redes sociais, cuja capacidade de divulgação é quase que instantânea.  

Tais avanços tecnológicos somado a uma internet cada vez mais veloz, ampliou a possibilidade de uma notícia postada repercutir com enorme rapidez, assim como, atingir inúmeros usuários/leitores/eleitores, concretizando seu propósito, independentemente de ser verídica ou não. As pessoas hoje, em função das mídias e das tecnologias digitais, se tornaram extremamente vulneráveis a esse tipo de desinformação quando postada, a ponto de terem sua opinião moldada a certos acontecimentos públicos, falseados em forma de notícias. Em análise recente, comprovou-se que se tal postagem estiver ligada diretamente a alguém conhecido, a pessoa que recebe tende a acreditar na veracidade da notícia, não a contestando, podendo até mesmo, republicar a informação. Esse movimento de bolhas de compartilhamento às cegas, reforçam a desinformação. 

Atualmente, a polarização política no Brasil, tornou-se um movimento crescente, reforçadas em grande parte, por aqueles que se favorecem dela, cujo objetivo, na maioria dos casos é ganhar mais apoio a certas vertentes ideológicas. As redes sociais como: Facebook, WhatsApp, Telegram e Youtube são utilizadas para essas manifestações políticas no Brasil e no mundo. Haja vista, a eleição presidencial nos Estados Unidos em 2016, marcada pela desinformação, boatos e mentiras, compartilhados de forma intensa pelos eleitores de Donald Trump, sobre a candidata Hillary Clinton. Dessa forma, nitidamente os efeitos foram sentidos nos rumos da eleição, cujo resultado sofreu alteração.

De acordo com a reportagem do Jornal Folha de S. Paulo, publicada no dia 02 de novembro de 2018, sobre a pesquisa da IDEA Big Data, realizada de 26 a 29 de outubro do mesmo ano, nas redes sociais Facebook e Twitter, com 1.491 pessoas no país, constatando o grande impacto que notícias falsas tiveram na eleição brasileira. Como é exposto na pesquisa, no período eleitoral, foram divulgadas inúmeras notícias falsas, alcançando repercussão nacional, tempos depois provou-se serem falsas, porém o prejuízo já havia sido feito. Com isso, é possível inferir que as fakes news contribuíram para o resultado das eleições até mesmo aqui no Brasil, assunto largamente discutido por inúmeros meios de comunicação.

Na época, duas notícias falsas ganharam destaques, dada a sua gravidade, pois repercutiram muito (desmentidas a posteriori), a primeira, refere-se à circulação do falso “kit gay” nas escolas, desmentido pelo Ministério da Educação (MEC), que veio a público afirmando que a obra relatada não pertencia à pasta, não sendo adquirida e muito menos distribuída. Outra falsa notícia que ganhou notoriedade na época, mas que rapidamente foi desmentida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), referia-se a certos materiais divulgados e usados em propaganda eleitoral, alertando para uma suposta vulnerabilidade do processo eleitoral, com possíveis fraudes vinculadas às urnas eletrônicas.

Ainda de acordo com a pesquisa, publicada pela Folha de São Paulo, 85,2% dos eleitores do candidato do PSL leram a notícia de que o candidato petista havia distribuído o suposto “kit gay” para crianças em escolas, quando era ministro da Educação, sendo que 83,7% acreditaram nesta informação falsa. Em relação aos eleitores entrevistados, deste candidato petista, apenas 61% viram a notícia e 10,5% acreditaram nela. Outro dado apresentado na pesquisa foi de que 74% dos eleitores do candidato do PSL acreditaram que supostamente haveria fraude nas urnas eletrônicas, instigados pelo discurso proferido pelo então candidato deste partido.

Cabe ressaltar que, a divulgação de fake news, pode acarretar diversos prejuízos a quem promove e divulga se houver atingidos pelas notícias falsas, podendo levar a indenização por danos morais, danos materiais e financeiros. Apesar, dessa proteção que a lei promulga aos atingidos, isso não corrige o prejuízo causado à vida das vítimas.

O Projeto de Lei 2630/2020, chamado de “PL das Fake News”, trata-se de uma proposta legislativa que visa à regulação de plataformas de mídias sociais, combatendo a pulverização de conteúdos falsos nas redes sociais, tais como: Facebook, Instagram, TikTok e nos serviços de mensagens privadas, como Telegram e WhatsApp.

Este ano, teremos eleições presidenciais, sendo que o primeiro turno da votação está marcado para 2 de outubro e o segundo turno ocorre no dia 30 de outubro. Neste momento, se faz necessário transparência na propaganda eleitoral, assim como, a denúncia de assuntos que venham a trazer novamente a desinformação, proteger a inviolabilidade de um processo eleitoral democrático se faz necessário. Contudo, advertimos que o monitoramento não significa compactuar com nenhum tipo de censura e sim a esquivança/bloqueio de ações que venham a comprometer o resultado eleitoral, em outras palavras, frear pessoas ou empresas que cogitem a possibilidade de financiar ou promulgar as fakes news.

Para ilustrar os efeitos do movimento das fakes news é possível se valer da Teoria Hipodérmica, também conhecida como Teoria da Bala Mágica, trata-se de um modelo de teoria da comunicação, que compara a mensagem a uma injeção de "seringa hipodérmica". Em outras palavras, uma mensagem midiática enviada em massa a um determinado público, afeta da mesma maneira todos os outros indivíduos.

Essa teoria foi uma das primeiras tentativas de se explicar os efeitos da comunicação de massa e seus efeitos na opinião pública, desenvolvida nos Estados Unidos no período de guerras. Foi muito criticada por ser vista como simplista, entendida como um estudo que não levaria em consideração aspectos individualizados do receptor e sua capacidade de escolha. Porém, o modelo comunicativo da Teoria Hipodérmica apoia-se na Psicologia Behaviorista, desenvolvida no começo do século XX, cujo objetivo principal é o estudo do comportamento humano, analisado a partir da relação entre Estímulo versus Resposta e suas Consequências.

Dito isso, transportando para os dias atuais, espera-se que não exista estímulos que causem passividade ao receptor/leitor de determinada mensagem, estímulos vindos das chamadas desinformações, mas que haja consciência do efeito nocivo originado por essas falsas mensagens. Que saibamos separar as Fakes News das Real News e assim tomar a melhor decisão, aquela que realmente nos represente diante do processo eleitoral, que as informações sejam o espelho da verdadeira realidade, sem nenhum tipo de distorção.
 
Marcelo Alves dos Santos, Doutor em Psicologia pela PUC/SP, Coordenador de estágio e professor do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Tatiane Santos, pesquisadora e especialista em gestão estratégica em comunicação organizacional e relações públicas pela ECA/USP




 

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