São Paulo, agosto de 2022. Desde 1992 o mês de agosto é marcado por campanhas de aleitamento materno por todo o mundo. O Agosto Dourado, como é conhecido, busca promover a amamentação de acordo com os moldes recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica a amamentação até os dois anos de vida ou mais, sendo o leite do peito o alimento exclusivo até os seis meses de vida da criança.
Dentro das campanhas, deve-se levar em consideração as mães HIV positivas, que sem os cuidados e informações necessárias podem acabar transmitindo o vírus para o bebê pela amamentação.
A Dra. Daniela Vinhas Bertolini, infecto pediatra e médica colaboradora do Projeto Criança Aids (PCA), explica que a transmissão do HIV pela amamentação é uma das formas de transmissão vertical. “A transmissão vertical pode acontecer em qualquer fase do aleitamento materno, no começo, no meio ou no fim, e em aleitamentos que são de curta ou de longa duração", diz Daniela.
Mulheres com HIV recebem a orientação médica de que a amamentação pode acabar infectando o bebê, porém ainda há alguns casos de mulheres que acabam amamentando e transmitindo o vírus para a criança.
Outro caso bem comum é o de mulheres que são infectadas durante o período em que estão amamentando, momento em que não são testadas e, assim, transmitem o vírus para seus filhos. “A mulher fica com a carga viral muito alta e a chance de transmissão pelo leite materno pode chegar até 40%”, pontua a infectopediatra.
São Paulo possui certificado de eliminação da transmissão vertical
Os casos de transmissão vertical do HIV estão em processo de diminuição e eliminação no Brasil. O município de São Paulo é um dos poucos no país que já conseguiu a certificação de eliminação da transmissão vertical.
“Isso não significa que não existam casos de transmissão, ainda existem crianças que se infectam, mas é um número extremamente baixo, o que permitiu ao município receber essa certificação”, comenta a médica.
Daniela explica que a forma de garantir que uma criança, filha de mãe com HIV, não se infecte é seguindo o protocolo de transmissão vertical do HIV. “Esse protocolo indica que a mulher deve realizar pré-natal regularmente para que, durante a gestação ou no momento do parto, esteja com a carga viral indetectável, ou seja, que esteja com a doença controlada”, comenta ela.
Enquanto isso, mesmo em um cenário de carga viral indetectável, a amamentação pela mãe HIV positivo não é recomendada. “Logo após o parto, o protocolo indica que a mãe deve ser encaminhada para medicação, onde tomará uma injeção que inibirá a produção de leite”, conta Daniela.
Os bebês cujas mães vivem com HIV, têm direito à fórmula láctea distribuída pelo SUS (Sistema Único de Saúde) até os 6 meses de vida. No município de São Paulo, o leite é fornecido gratuitamente até a idade de dois anos.
A importância do acesso à informação
Apesar da sensação de que as informações sobre formas de contágio e proteção estão divulgadas de maneira a atingir todos os públicos, muitas vezes homens e mulheres se veem sem clareza sobre temas como esse.
Para Adriana Galvão Ferrazini, presidente do PCA, o acompanhamento de famílias que convivem com o HIV pode fazer a diferença no momento da amamentação.
“Temos casos de famílias que nós acompanhamos em que um filho de pais que vivem com o HIV não foi infectado durante a gestação e nem no momento do parto”, conta Adriana, que completa: “A transmissão também não ocorreu no momento da amamentação, isso porque a família foi instruída pela equipe interdisciplinar do Projeto”.
Como comentou a Dra. Daniela, durante as consultas e exames de pré-natal, a mulher é submetida a testes de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), porém, após o parto, não são realizados novos exames e o sexo desprotegido pode expor as mães em período de amamentação.
Nestes casos, Adriana comenta sobre as opções de proteção para mães de casais dissonantes (quando o homem é HIV positivo e a mulher não) ou aquelas que possuem mais de um parceiro sexual: “Além do uso de preservativo em todas as relações sexuais, é recomendado o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que reduz a exposição das pessoas ao vírus”.
Também não podemos deixar de falar da importância do "Pré-Natal Masculino", programa criado pelo Ministério da Saúde, onde o homem é convidado a realizar exames clínicos junto com sua parceira durante o período da gestação.
Alguns exames sugeridos pelo programa são os testes de ISTs, como a AIDS e a sífilis, que podem ser transmitidas da mãe para o feto.
A testagem feita pelo parceiro diminui as chances de infecção da mãe durante a gestação e assegura que o bebê também esteja protegido. Mas como o protocolo de transmissão vertical encerra na hora do parto, é imprescindível continuar com os cuidados durante todo o período de amamentação: sexo seguro, PrEP e testagem!
Sobre o PCA
O Projeto Criança Aids (PCA) é uma Organização Não Governamental (ONG) sem fins lucrativos que atende famílias em vulnerabilidade social responsáveis por crianças e adolescentes vivendo e convivendo com HIV/AIDS.
O PCA atua desde 1991 no auxílio e no resgate da dignidade das crianças e seus familiares, trazendo suporte de proteção social, através de um atendimento humanizado.
Atualmente, o Projeto atende cerca de 40 crianças, propiciando acolhimento e reflexão voltadas para o resgate psicossocial e educativo realizados por equipe interdisciplinar composta por: psicólogo, assistente social, farmacêutica, enfermeira, pedagoga, psicopedagoga e estagiários das áreas afins.
As famílias atendidas pelo Projeto, recebem cestas básicas com itens alimentícios, de higiene pessoal e limpeza doméstica, além de roupas, calçados, livros e brinquedos para as crianças.
O Projeto também realiza eventos de lazer para as famílias e suas crianças, como festas, passeios e outras ações interativas. Além disso, são oferecidas oficinas de empreendedorismo para as mães e/ou responsáveis pelas famílias, além de encaminhamento dos adolescentes para programas de estágio e jovem aprendiz.