09/07/2022 às 18h05min - Atualizada em 10/07/2022 às 00h00min

Sede da Funai em Atalaia do Norte suspende atendimento ao público por 'insegurança' e 'clima de tensão'

Principais afetados serão indígenas que precisam de serviços como a emissão de documentos e o cadastro em programas sociais.

AMAZONAS
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2022/07/09/funai-em-atalaia-do-norte-suspende-atendimento.ghtml

Principais afetados serão indígenas que precisam de serviços como a emissão de documentos e o cadastro em programas sociais. Atalaia do Norte AM
Divulgação/Comando Militar do Amazônia
Em meio às investigações sobre as mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, o atendimento ao público foi suspenso na sede da Fundação Nacional dos Índios (Funai), em Atalaia do Norte, no interior do Amazonas. Servidores afirmaram ao g1 que adotaram a medida pelo "clima de tensão" e "insegurança".
Por conta da interrupção do atendimento ao público, os principais afetados serão indígenas que precisam de serviços como a emissão de documentos e o cadastro em programas sociais. Não há prazo para o atendimento ser normalizado. O g1 tenta contato com a Funai.
Segundo um integrante da Funai que atua em Atalaia do Norte e pediu para não ser identificado, apesar da vulnerabilidade e das ameças não serem novidades para quem trabalha na região, a decisão foi tomada após dois homens de nacionalidade colombiana terem ido à sede da Fundação para procurar por um funcionário, em tom intimidador.
"Eles perguntaram por esse funcionário da Funai nominalmente, o que consideramos uma atitude muita suspeita. Então isso criou um clima de tensão, e prezando pela nossa própria segurança, decidimos suspender o antedimento ao público, durante reunião", comentou o funcionário.
Ainda de acordo com os servidores , um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia do município, e a falta de segurança já foi comunicada à direção da Funai, em Brasília. Entretanto, até o o momento, os funcionários relatam que nenhuma medida foi adotada para diminuir a insegurança na região.
"Já pedimos ajuda da direção, sim. Mas a presidência da Funai parece que faz de conta que isso não é responsabilidade deles. Para eles, está tudo bem [o problema da insegurança], eu acho.", relatou o servidor.
Bruno e Dom foram mortos no dia 5 de junho, na zona rural do município, na região do rio Itacoaí, próxima à Terra Indígena Vale do Javari, marcada por conflitos ligados à pesca ilegal e tráfico de drogas. Três pessoas já foram presas suspeitas de envolvimento no crime.
Bruno Pereira coordenou o posto da Funai no município por quase 10 anos. Ele deixou o cargo em 2016.
Medo e insegurança
Após as mortes de Bruno e Dom atraírem a atenção de várias partes do mundo, ativistas e indígenas de Atalaia do Norte (AM) relatam que vivem sob a sombra do medo e das incertezas provocadas pelos conflitos presentes na região. Moradores ouvidos pelo g1 afirmaram que as ameças ocorreram inclusive durantes as buscas por Bruno e Dom.
Ex-agente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Almério Alves Wadique, membro do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), afirma que as ameaças não cessaram nem mesmo durante as buscas pelo indigenista e o jornalista.
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"As ameaças sempre foram e continuam constantes. Recebíamos ameaças até durante as buscas, quando estávamos mobilizando esforços para encontrar o Bruno e Dom. Chegavam mensagens com graves intimidações aos coordenadores de associações indígenas", relata Almério.
Ele também destaca que não vê perspectiva para o fim da violência que atinge ativistas e as comunidades indígenas.
"Esteve muita gente aqui depois que aconteceu esse triste fato, mas depois vão embora e deixam a gente aqui do mesmo jeito. Pelo que estamos acostumados, esse problema [de insegurança] não vai mudar nada. Não acreditamos que vá vir algum contingente pra cá para fazer a segurança de todo mundo aqui", relata.
Mesmo após o andamento das investigações e prisões dos suspeitos de envolvimento nas mortes de Bruno e Phillips, Almério ressalta que o medo se tornou um sentimento permanente, afligindo principalmente quem mora nas comunidades ribeirinhas - às margens do rio.
"O número de pessoas que faz a segurança aqui na região é muito baixo. Então, é inevitável a gente não pensar que amanhã isso pode acontecer com qualquer um de nós", pontua.
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Fonte: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2022/07/09/funai-em-atalaia-do-norte-suspende-atendimento.ghtml
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