O indigenista Bruno Araújo Pereira, que viajava com o jornalista inglês Dom Phillips pela região do Vale do Javari, na Amazônia, era um dos maiores especialistas em indígenas que vivem em isolamento no Brasil.
A dupla desapareceu no dia 5 de junho. Segundo a Polícia Federal, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, que foi preso, disse que eles foram assassinados.
Ao longo da última década, Bruno em diversas funções na Fundação Nacional do Índio (Funai), incluindo a coordenação regional do Vale do Javari, justamente na região em que ele desapareceu durante uma expedição, em 5 de junho (leia mais ao final desta reportagem).
Atualmente, Pereira estava licenciado da entidade e trabalhava como assessor da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari é palco de conflitos típicos da Amazônia: tráfico de drogas, roubo de madeira e avanço do garimpo.
Logo após o desaparecimento, a organização afirmou que Pereira recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores. Em nota divulgada na ocasião, a entidade descreveu o indigenista como "experiente e profundo conhecedor da região, pois foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos".
Em uma declaração reproduzida no site da Funai em 2015, Pereira afirmou: "A política indigenista passa pelos municípios, estados e governo federal e deve mostrar como ter saúde e educação diferenciada [...]. Essa é a hora de escutar os povos indígenas".
Casado com a antropóloga Beatriz Matos, que conheceu durante uma viagem de trabalho no próprio Vale do Javari, o indigenista deixa dois filhos, um de dois e outro de três anos.
Sonho de trabalhar na Amazônia Pereira foi criado em Pernambuco e deixou a região em meados dos anos 2000 para seguir o sonho de trabalhar na Amazônia. Ingressou na Funai em 2010, em um dos últimos concursos públicos promovidos pelo órgão.
Chegou a coordenador regional do Vale do Javari, com sede na cidade de Atalaia do Norte (AM), mas deixou o cargo em 2016 após um intenso conflito registrado entre povos isolados da região.
Em 2018, no entanto, retomou o trabalho e tornou-se o coordenador-geral da área da Funai responsável por índios isolados e recém-contatados, quando chefiou a maior expedição dos últimos 20 anos para contato com esses indígenas.
Naquele ano e no seguinte, esteve à frente de uma ação coordenada de fiscalização de garimpeiros ilegais que se instalavam no Vale do Javari. Realizada em setembro de 2019 e considerada um sucesso, aquela operação destruiu ao menos 60 balsas de extração ilegal.
Um mês depois, Bruno acabou exonerado do cargo. Foi quando, então, decidiu pedir uma licença não remunerada da fundação.
"Ele estava fazendo esse trabalho muito sério e muito reconhecido nacionalmente e internacionalmente, e ele realizou uma série de ações coordenadas que acho que foi o estopim pra isso. Teve uma ação, por exemplo, que ele fez de detonação de balsas de garimpo no Vale do Javari, e então ele foi exonerado do cargo de coordenador", contou a esposa de Bruno ao 'Fantástico'.
Na entrevista, Beatriz disse também que "nas condições que a Funai estava, ele não poderia continuar o trabalho que estava realizando". "Então ele teve essa opção de licenciar da Funai para poder trabalhar como assessor da Univaja."