29/07/2024 às 10h53min - Atualizada em 30/07/2024 às 08h00min

Sequestro de bebê: uma pessoa em surto pode cometer um ato ilegal ou de violência?

Especialista em escuta qualificada analisa o caso e explica o que são esses surtos e quais riscos as pessoas nessas condições oferecem

Karina Pinto
Karina Pinto - Assessora de imprensa
Imagem de Freepik
O caso que ganhou repercussão no país está sendo investigado pela polícia. Uma jovem, formada em medicina, com um futuro brilhante pela frente foi flagrada por câmeras de vigilância de um hospital em Belo Horizonte (MG) raptando um recém-nascido. Tranquila, sem levantar suspeitas, ela entrou na unidade trajada como se fizesse parte da equipe médica, foi até o quarto onde a mãe, o pai e o bebê estavam, e disse ao casal que iria levar a criança para se alimentar. 

Quem desconfiaria de uma médica dentro de um hospital? Com essa certeza, a sequestradora agiu rapidamente, e em poucos minutos estava na rua com o bebê enrolado em uma manta. Presa em flagrante com a criança e um carro repleto de roupas e objetos infantis, ela alegou estar em surto psicótico e ter agido sob forte emoção, será? Especialista em escuta qualificada, a psicanalista Amanda Souza analisa o caso, e explica o que é um surto psicótico e revela se durante esses episódios uma pessoa pode cometer crimes com total tranquilidade. 
 

“Entre os diversos transtornos mentais, os surtos psicóticos são eventos particularmente graves e perturbadores que podem ocorrer ao longo da vida de uma pessoa. Um surto psicótico é uma condição temporária em que a pessoa perde o contato com a realidade, apresentando sintomas como alucinações, delírios e pensamentos desorganizados. As consequências de um surto psicótico podem ser devastadoras, tanto para o indivíduo quanto para seus familiares. A incapacidade temporária de funcionar normalmente pode levar à perda de emprego, relações interpessoais prejudicadas e, em casos extremos, à hospitalização.”, explica. 

Os surtos psicóticos podem ser desencadeados por diversos fatores, incluindo estresse extremo, uso de substâncias, transtornos mentais preexistentes, traumas na vida pessoal ou profissional. No caso da médica presa por sequestro, entre as supostas condições que a levaram ao surto psicótico, estariam uma gravidez e o estresse da gestação. Amanda explica que a gravidez é responsável por uma série de alterações físicas e psicológicas na mulher, mas a psicanalista faz um alerta: “a gravidez não pode ser associada dessa forma a uma alteração emocional capaz de levar uma pessoa a cometer um crime. É preciso estudar com profundidade o caso, entender o contexto ao qual essa mulher está inserida e vivenciando, o tipo de relações que ela mantinha, seu comportamento pregresso, o uso de substâncias psicoativas, drogas, e até mesmo se ela já havia apresentado um quadro de depressão ou ansiedade.” 
 

No Brasil pós pandemia, a saúde mental dos brasileiros está em estado de alerta. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados no final de 2023 revelaram um cenário preocupante: o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo, afetando 9,3% da população. Este número coloca o Brasil no topo do ranking de ansiedade e depressão na América Latina, com quase 19 milhões de pessoas sofrendo dessas condições.

Além da ansiedade, um quadro mais abrangente emerge quando consideramos a prevalência de transtornos mentais na população brasileira. Segundo a OMS, uma em cada quatro pessoas no Brasil enfrentará algum tipo de transtorno mental ao longo da vida. Este dado é alarmante e destaca a necessidade urgente de medidas eficazes para a prevenção e tratamento dessas condições. Uma pessoa em surto pode cometer um crime e não esboçar qualquer emoção? Para a psicanalista, a resposta é: "dependendo do transtorno mental que este ser humano possuir, sim, é possível."

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KARINA DA SILVA SOUZA PINTO
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