A recente disseminação do vírus da influenza aviária entre aves silvestres no Brasil tem suscitado grande preocupação tanto na comunidade científica, quanto na população em geral. A doença, causada por uma variante altamente patogênica do vírus influenza, apresenta implicações significativas à saúde humana. Neste texto de opinião, vamos discutir os potenciais impactos dessa enfermidade e as medidas que estão sendo tomadas pelos órgãos de saúde para conter sua propagação.
Atualmente, são três casos confirmados, sendo um caso em ave da espécie Thalasseus acuflavidus (nome popular Trinta-réis-de-bando) na Ilha do Governador, capital do Rio de Janeiro. Outro caso, em ave Sterna hirundo (nome popular Trinta-réis-boreal), no município de Piúma no Espírito Santo. E no último dia 29/05/2023, uma terceira ave silvestre da espécie Cygnus melancoryphus (nome popular Cisne-de-pescoço-preto), foi detectada com o vírus na Estação Ecológica do Taim, sul do Estado do Rio Grande do Sul. O local foi imediatamente fechado para visitação.
O vírus da influenza aviária (H5N1), é altamente contagioso entre aves e pode resultar em altas taxas de mortalidade nessa população. No entanto, o grande temor está relacionado à possibilidade de transmissão para seres humanos. A influenza aviária pode ter consequências graves, incluindo pneumonia grave, falência respiratória e até mesmo óbito.
O principal meio de transmissão do vírus da influenza aviária para humanos é o contato direto com aves infectadas ou seus excrementos. No entanto, existe a preocupação de que a mutação do vírus possa permitir a transmissão entre seres humanos, o que poderia desencadear uma pandemia global. Bem como, existe o risco da contaminação de aves de produção, o que aumentaria de forma exponencial o risco de transmissão aos seres humanos.
Assim como em 2009, quando o mundo passou por uma pandemia de Influenza Aviária causada pela variável H1N1, e que só no Brasil levou a óbito mais de 2000 pessoas, a atual disseminação do vírus desperta preocupação, devido o seu potencial patogênico e de transmissibilidade. A experiência anterior, a duras penas, nos ensinou valiosas lições sobre a importância da detecção precoce, do monitoramento de aves migratórias e de criação e implementação de programas eficazes de vacinação além da adoção de medidas de precaução adequadas para minimizar a exposição ao vírus.
Nesse sentido, os órgãos de saúde do Brasil já iniciaram medidas preventivas contra a disseminação do vírus H5N1. O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) declarou estado de emergência zoossanitária em todo o território nacional, por 180 dias, em função da detecção da infecção pelo vírus da influenza aviária H5N1 de alta patogenicidade (IAAP) em aves silvestres no Brasil.
O Instituto Butantan já iniciou o processo de desenvolvimento de uma possível vacina contra a gripe aviária em humanos. No momento, os testes estão sendo realizados com cepas vacinais cedidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o primeiro lote piloto já está pronto para testes pré-clínicos. O trabalho de desenvolvimento do imunizante começou em janeiro de 2023, quando as lideranças científicas do Butantan passaram a acompanhar com atenção a disseminação do vírus influenza A aviário pelo mundo. O Butantan pretende ter um estoque de vacinas feitas com três cepas vacinais da influenza aviária: influenza aviária A/Anhui/1/2005 (H5N1); influenza aviária A/Astrakhan/3212/2020 (H5N8); e influenza aviária A/duck/Vietnam/NCVD-1584/2012 (H5N1).
Os órgãos de saúde estão cientes dos riscos e medidas de vigilância foram intensificadas para detectar rapidamente a presença do vírus e evitar sua disseminação. Isso envolve o monitoramento de aves migratórias, aves de criação e aves comercializadas em mercados e feiras.
Além disso, a conscientização pública desempenha um papel fundamental na prevenção da propagação do vírus. As autoridades de saúde têm promovido campanhas de educação para informar a população sobre os riscos associados à influenza aviária e as medidas de precaução a serem adotadas. Isso inclui a importância da higiene adequada, como lavar as mãos regularmente, evitar o contato direto com aves doentes e cozinhar adequadamente os produtos de origem avícola.
É importante que a população esteja ciente dos riscos e colabore seguindo as orientações das autoridades de saúde. Somente com esforços coordenados e uma abordagem proativa será possível reduzir o impacto do vírus da influenza aviária e proteger a saúde pública.
* Marivaldo da Silva Oliveira é médico Veterinário, doutorando em Biociência Animal e coordenador do curso de Bacharelado em Medicina Veterinária UNINTER.