O governo brasileiro decretou no dia 22 de maio, pela portaria do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) Nº 587, estado de emergência zoosanitária em todo o país. Esta medida é válida por 180 dias, em função da detecção da infecção pelo vírus da influenza aviária H5N1 de alta patogenicidade (IAPP) em aves silvestres no Brasil.
A ação ocorre para mitigar o avanço da gripe aviária e evitar que a doença chegue na produção de aves de subsistência e comercial, bem como na tentativa de preservar a fauna e a saúde humana. Os vírus da gripe aviária continuam a apresentar desafios para a saúde humana, saúde animal e saúde ambiental, comprometendo o elo da Saúde Única. Os vírus portadores do gene da hemaglutina (HA) do subtipo H5 e do subtipo H7 causaram 2.634 casos humanos em todo o mundo, incluindo mais de 1.000 mortes.
O Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP), unidade de referência da Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), confirmou três novos casos positivos para influenza aviária (H5N1) no estado de Espírito Santo. Até o presente momento são oito casos confirmados em aves silvestres, sendo sete no estado do Espírito Santo e um caso no Rio de Janeiro. As aves são das espécies Thalasseus acuflavidus (Trinta-réis-de-bando), Sula leucogaster (Atobá-pardo) e Thalasseus maximus (Trinta-réis-real). Esses vírus causaram numerosos surtos de doenças em aves selvagens e domésticas e são responsáveis pela perda de pelo menos 422 milhões de aves domésticas desde 2005. Os vírus da influenza H5N1 são disseminados por aves migratórias selvagens e causaram três ondas de surto de influenza em vários continentes, e a terceira onda começou em 2020 e ainda está em andamento.
A influenza aviária é um termo abrangente que descreve a doença causada por várias cepas do vírus influenza, conhecido por infectar aves que, ocasionalmente causam surtos de doenças virais em humanos. Numerosos surtos bem conhecidos de gripe aviária incluem um surto da cepa H5N1 em Hong Kong em 1997 e H7N9 no leste e sul da China em 2013.
Embora adaptados às aves e, muitas vezes, causando apenas doenças leves, os vírus da gripe aviária podem ser extremamente perigosos com transmissão bem-sucedida para humanos com uma alta porcentagem de casos confirmados que requerem hospitalização e frequentemente cuidados em unidades de terapia intensiva (UTI).
Um alerta importante para população é que não recolham aves que encontrarem doentes ou mortas nas praias ou em grandes centros urbanos e acione o serviço de Vigilância em Saúde (Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica, Vigilância Ambiental) e/ou órgãos relacionados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) da sua região. O vírus é liberado em grande quantidade nas fezes e no trato respiratório de aves infectadas.
Os vírus da influenza aviária ocorrem na maioria das espécies de aves, tanto selvagens, quanto domésticas. Geralmente, as aves domésticas são responsáveis por surtos de doenças humanas, pois têm mais contato durante o manejo dessas aves. Aqui entra a ótica da saúde única, o desequilíbrio ambiental em diferentes locais do globo tem mudado o comportamento migratório de diferentes espécies de aves, de alguma forma isso implica diretamente em seu estado de saúde e bem-estar, comprometendo esses animais, que podem transportar doenças para diferentes locais, onde a infecção subsequente passa para aves domésticas, que leva a um spilover (transbordamento zoonótico) para transmissão humana. Sendo assim, o equilíbrio entre a saúde humana, saúde animal e saúde ambiental é comprometido.
Existe uma única forma de impedir novos surtos de doenças zoonóticas a nível global, e está relacionado ao pensar holístico da Saúde Única e a eliminação da visão antropocêntrica para salvaguardar a vida a nível global.
* Willian Barbosa Sales é biólogo, Doutor em Saúde e Meio Ambiente, Coordenador dos cursos de Pós-graduação área da saúde do Centro Universitário Internacional UNINTER.