30/05/2023 às 21h38min - Atualizada em 31/05/2023 às 00h00min

O que fazer em casos de mortes envolvendo esportes radicais?

Afogamentos e mortes súbitas também fazem parte da incidência de mortes durante práticas ao ar livre

SALA DA NOTÍCIA Lucas Alexandre
Reprodução.

Os esportes radicais são atividades geralmente praticadas na natureza e que apresentam um grau elevado de perigo, na maioria das vezes em modalidade individual. Paraquedismo, bungee jump, asa-delta, escalada e motocross são os mais conhecidos.

O especialista em estatísticas britânico David Spielgelhalter criou um sistema para estabelecer o nível dos riscos de esportes da categoria, usando uma unidade chamada micromort.

Introduzida na década de 1970 por pesquisadores da Universidade de Stanford, a medida define o risco de morte a que as pessoas estão expostas de acordo com a atividade realizada. Uma micromort representa uma chance de morte em um milhão.

Spielgelhalter usou dados da Associação de Paraquedismo dos Estados Unidos para determinar que, dos 2,6 milhões de saltos de paraquedas por ano realizados entre 2000 e 2010, com 25 mortes anuais (279 no total), o risco equivale a dez micromorts por salto.

O lugar mais popular para fazer base jumping – considerado o esporte extremo mais perigoso de todos – é Kjerag, uma montanha da Noruega. Em 11 anos, 20.850 saltos foram executados, dos quais resultaram em 82 acidentes e nove mortes. A taxa de micromorts por salto é de 430.

Escaladas no Himalaia em montanhas com mais de 8 mil metros de altura têm um risco ainda maior. Das 20 mil pessoas que se arriscaram entre 1996 e 2006, 238 montanhistas morreram. Isso representa 12 mil micromorts por escalada.

Um caso relativamente recente chegou às manchetes norte-americanas e entristeceu os entusiastas de esportes radicais. Em 2015, Dean Potter, famoso praticante de atividades extremas, morreu durante um voo de wingsuit (macacão com asas). Ele também praticava base jumping, escalada, alpinismo e slackline.

Potter, 43, e outro atleta radical, Graham Hunt, 29, faleceram quando tentaram passar em alta velocidade por uma abertura estreita ao saltarem de um penhasco de quase 3 mil metros em Taft Point, em um cânion no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, EUA.

De acordo com um porta-voz do parque, equipes de resgate encontraram os corpos depois de perderem contato com eles. A polícia levantou hipóteses de turbulência, erro de cálculo, distração e indecisão, mas não chegou a um motivo conclusivo para o acidente.

O que fazer quando alguém morre praticando esportes radicais?

A primeira coisa a se fazer quando alguém morre durante a prática de esportes radicais é acionar a polícia, bem como todos os serviços de emergência competentes para garantir a segurança das pessoas que estão na região do acidente.

Os agentes policiais têm a responsabilidade de investigar as circunstâncias e determinar o que causou o acidente.

Caso a morte aconteça em um parque nacional ou área protegida, as autoridades do local devem ser chamadas para preservar a área e os visitantes.

Morte por esporte radical em outro país

Situações de morte de atletas radicais em outros países também exigem que as autoridades locais sejam contatadas para conduzir investigações e levar o corpo.

Se a pessoa não estiver acompanhada de um familiar ou conhecido brasileiro, a polícia do país entra em contato com o consulado brasileiro, que cuida dos trâmites legais, junto ao Itamaraty, para avisar a família no Brasil.

Vale consultar se o governo brasileiro pode custear o translado do corpo, mas as despesas tendem a ser de total responsabilidade dos parentes, incluindo questões burocráticas, passagens aéreas, caixão com lacre especial e todos os gastos funerários.

Como é o enterro de alguém que morreu praticando esportes radicais?

Se o acidente causar algum tipo de desfiguração ao corpo, o caixão é lacrado. No velório, parentes e amigos não podem ver o falecido.

Caso o corpo tenha sofrido danos físicos mínimos e os agentes funerários forem capazes de melhorar a aparência do falecido com restauração facial e necromaquiagem, os ritos funerários são tradicionais.

Morte por afogamento: o que fazer?

Mortes por afogamento nem sempre têm envolvimento com esportes extremos, mas acontecem com frequência em todo o mundo. No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), 5.700 pessoas se afogam anualmente em praias, represas, rios e piscinas.

Em locais com profissionais salva-vidas por perto, o melhor a se fazer é deixá-los trabalhar. Caso seja necessário chamar socorro, os bombeiros (193) ou SAMU (192) devem ser acionados imediatamente.

Enquanto isso, recomenda-se deitar a pessoa, de barriga para cima, em uma superfície firme. Com os dedos entrelaçados e braços esticados, é preciso colocar as mãos sobre o centro do peito e pressionar com força.

O ideal é fazer duas compressões por segundo até a recuperação da vítima ou chegada do socorro. O tórax deve voltar à posição normal entre cada empurrão.

A massagem cardíaca é o procedimento indicado para crianças. Isso é feito com a palma de uma mão, com os dedos levantados, sobre o peito, numa frequência de duas compressões por segundo. 

Morte súbita em atletas

A morte súbita em atletas não é exclusiva dos praticantes de atividades extremas, mas de todos os esportes de modo geral. O principal motivo é a cardiomiopatia hipertrófica, doença caracterizada por intensa sobrecarga ventricular com disfunção diastólica.

De acordo com o levantamento “Morte Súbita em Atletas”, da médica cardiologista Alinne Macambira, apresentado no XXXVI Congresso Brasileiro de Arritmias Cardíacas 2019, é muito raro que pessoas morram durante a prática de esportes. Apenas 8,2% dos atletas brasileiros têm algum tipo de cardiopatia, o que faz com que a taxa de mortalidade seja de uma em 100 mil até uma em 300 mil.

Os motivos são a alta exigência física, aumento excessivo de frequência cardíaca, aumento de ventilação pulmonar, desidratação, alteração eletrolítica e consumo energético elevado.

Em 2005, a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte instituiu a Diretriz Sobre a Morte Súbita no Exercício do Esporte aos clubes de futebol. Dentre as recomendações estão a realização de exames cardiovasculares completos, testes ergométricos e eletrocardiogramas regularmente. A intenção é detectar qualquer condição e tratar os atletas para evitar problemas no futuro.


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