José Eduardo Gibello Pastore* e Leandro Alves de Almeida**
Nunca se falou tanto no impacto das tecnologias no mundo do trabalho. A Inteligência Artificial está entre nós para confirmar esta revolução silenciosa. E tudo isso já está sendo sentido pelo mundo do trabalho. São reflexos sobre as questões jurídicas, de recursos humanos, liderança, extinção e criação de novas profissões ou formas de trabalhar. Muitas são as implicações das tecnologias sobre as relações do trabalho e vice-versa.
No mundo da moda, por exemplo, a Inteligência Artificial já preocupa. Se a IA é capaz de “criar” manequins virtuais, que podem ser fotografados, iluminados, vestidos, penteados por robôs, um questionamento surge: Qual será o futuro dos profissionais da moda?
A IA está capturando dados de rostos humanos para “montar” um manequim “de acordo com o gosto do freguês”. Como fica a questão do viés? Seria ético uma máquina construir um humanoide conforme suas concepções do que seria uma “imagem ideal”, escolhendo a cor da pele, raça, sexo, altura, cor dos olhos, etc.? Hoje, no mundo virtual, não se distingue um rosto humano de outro criado pela IA.
E quanto aos empregos? Quais serão extintos? Outros serão criados? E como fica o emprego nos setores de comércio, serviços e turismo, que geram mais de 50% dos empregos no Brasil (CAGED)? Como fica a qualificação desta mão de obra para absorver os empregados substituídos pela automação?
Alguns supermercados já dispõem de caixas totalmente automatizados. Já existem, em outros países, garçons robôs. Os números e os dados são alarmantes. Em 2015, Carl B. Frey e Michael A. Osborne, em Technology at work, previram que cerca de 50% das ocupações seriam substituídas por robôs e Inteligência Artificial em 2035! Mas há também os otimistas, que, em contraposição a essas visões mais catastróficas, defendem que a grande diversificação de bens e serviços produzidos pela IA e a forte redução dos seus preços tenderão a elevar a produtividade, em consequência, os investimentos e os empregos. Será?
O professor José Pastore recentemente alertou para o impacto da Inteligência Artificial sobre os empregos apontando que é mais fácil identificar quais serão destruídos por ela; o difícil é identificar quais e onde outros serão criados. Este fato provoca a atual angústia social. Estamos adentrando tempos de forte tensão pelo ineditismo das tecnologias.
No Brasil, por exemplo, temos um alto índice de profissionais de baixa qualificação e ausência de profissionais para preencher vagas de melhor qualificação, em especial no segmento de TI, pilar da IA e da automação. Diante deste cenário, uma dúvida surge: estamos preparados para tal mudança?
O ritmo de implementação da IA também assusta. Artistas do rock ao design se juntaram recentemente em manifesto contra a Inteligência Artificial, porque temem que suas profissões passem a ser ocupadas por máquinas com IA. Seriam estes os novos ludistas, que quebravam as novas máquinas produzidas pela Revolução Industrial?
Como os humanos se comportarão diante de robôs tomando seus lugares?
Fato é que o mundo passou pela Revolução Industrial e, superado o impacto inicial, colheu enormes frutos da implementação das máquinas naquele momento, inclusive no campo do trabalho. E agora, ao que parece, estamos diante de outra revolução, que, embora silenciosa, não é menos impactante do que a outra.
São questões intrigantes e que naturalmente assustam. Ousamos dizer que estamos ingressando em uma das mais enigmáticas e paradoxais eras da humanidade. As tecnologias, em especial a Inteligência Artificial, assustam, mas também deslumbram a todos porque todos querem usufruir seus aspectos de bem-estar ou seus benefícios no trabalho.
Não sabemos onde tudo isso vai parar, mas sabemos que não vai parar.
E compreender a dimensão de todas estas profundas transformações e estarmos preparados para elas.
*José Eduardo Gibello Pastore é advogado, consultor de relações trabalhistas e sócio do Pastore Advogados
**Leandro Alves de Almeida é advogado trabalhista