No último sábado (25), quem visitou a mostra “Odilla Mestriner e a coleção Ribeiro&Ruiz” pôde participar de um bate-papo com o secretário municipal da cultura e turismo, Pedro Leão; o curador da mostra Nilton Campos e os colecionadores Paulo Fabrino Ribeiro e Rogerio Ruiz, donos de um acervo de 170 das obras produzidas por Odilla em 50 anos de carreira artística, das quais 40 estão em exposição no MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi até o próximo dia 6 de maio.
Na abertura, o secretário municipal, Pedro Leão, deu boas-vindas aos participantes e revelou como surgiu a ideia da exposição. “Tínhamos um sonho resultante de uma brincadeira que eu fiz com o Paulo [Fabrino Ribeiro]. Disse a ele que iríamos fazer uma exposição da Odilla. Assim que fui convidado para vir para Secretaria da Cultura e Turismo, essa brincadeira ganhou os corações do Nilton [Campos], da nossa equipe da Secretaria e o universo conspirou a favor”, revela. O secretário avaliou a mostra como um marco histórico que encerra a agenda comemorativa dos 30 anos do MARP. “Odilla é essa artista transgressora e transformadora e nos traz a oportunidade de começarmos a pensar em fazer o histórico das obras de tantos outros artistas plásticos de Ribeirão Preto”, destaca.
O colecionador Paulo Fabrino Ribeiro falou de sua paixão por Odilla Mestriner, apontando o talento sem limites da artista e comentou a força de sua história de vida. “É preciso referenciar a superação desta mulher, que nos anos 50, morando no interior, com problemas físicos, compôs mais de 1.500 obras - um acervo magnífico. Hoje, há produções dela nos principais museus do Brasil, outras com grandes colecionadores em São Paulo e até no exterior”, comenta.
A roda de conversa teve como fio condutor a abordagem e o percurso adotado pela curadoria da exposição. “Iniciamos apresentando um desenho de 1955, da artista Odilla Mestriner, que está exposto na sala paralela à exposição, espaço destinado exclusivamente ao Educativo do Museu, onde ações serão propostas aos diversos públicos, tendo como referência principal a própria produção da artista”, afirma Nilton Campos. Trata-se de um desenho realizado por Odilla Mestriner no momento de sua admissão na Escola de Arte do Bosque Candido Portinari, que foi preservado junto aos arquivos da unidade escolar municipal. “Essa obra marca o início formal da produção da artista e neste momento está sob a guarda provisória do MARP”, conta o professor da escola, Francisco D´Alessandro, colaborador do Educativo do museu.
Visita monitorada
O público presente no MARP neste sábado (25) teve acesso à trajetória artística e pessoal de Odilla Mestriner, bem como a análise sobre cada um dos dez núcleos da exposição. Nilton Campos contou que foi difícil escolher as 40 obras, pela qualidade e representatividade da coleção. Já sobre a expografia, ele explicou ao grupo que organizou a mostra em núcleos, sem um compromisso cronológico, pois desta maneira possibilita uma boa fruição da mostra e compreensão de algumas séries produzidas pela artista.
A interação com os visitantes passou por toda mostra, desde a primeira estação que traz as obras Cebolas e Gato – expressões do primeiro momento da carreira da artista –, que exemplificam o seu olhar para o interior da casa. “Como Odilla tinha problemas físicos, até o conhecimento escolar foi adquirido em casa, por meio de seus irmãos, o que denota que, psicologicamente, ela não queria sair de seu espaço. Mas com o tempo, a obra sai, gradativamente, do foco da casa”, explica o colecionador Paulo Fabrino Ribeiro.
Tanto o curador como os colecionadores apresentaram inúmeras facetas da artista visual em cada obra analisada e ressaltaram as diversas técnicas usadas para se expressar: desenho a nanquim sobre papel, pintura sobre tela, gravura e aquarela. “É maravilhoso o resultado que Odilla consegue através de diversas técnicas. Toda a produção foi sempre muito bem cuidada. Um trabalho primoroso, que deu identidade a ela”, disse o curador Nilton Campos.
O colecionador Rogério Ruiz destacou a grandiosidade da tela Cosmoagonia (1975), uma das mais belas desta exposição na visão dele – feita durante a ditadura militar. “É tão rica e atemporal essa obra, que durante a pandemia a postamos nas redes sociais e as pessoas a associavam ao enclausuramento vivido recentemente pela humanidade e ao medo da covid. Essa característica evidencia uma artista universal”, finaliza.
O encontro trouxe diversos esclarecimentos sobre Odilla Mestriner, considerada sistemática e obcecada pela simetria. “Ela criou uma obra vasta e muito rica”, diz Campos chamando a atenção do público para a perfeição do traço, a variedade de temas e a evolução de Odilla Mestriner, reverberada nos diferentes períodos de sua produção. Entre as obras analisadas durante o encontro estão: Grande muro (1959), Casas e lampiões (1961), Figura casa (1966), Equilibristas VI da série Equilibristas (1973), Fantástico urbano XVII, da série Fantástico Urbano (1978), Pequenas árvores (1980), Produto Nacional (2003) e outras.
A exposição pode ser conferida até o próximo dia 6 de maio. O MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi fica na Rua Barão do Amazonas, 323, Centro, Ribeirão Preto – SP. A entrada é gratuita. Mais informações pelo telefone (16) 3635-2421.
Sobre a exposição A exposição “Odilla Mestriner e a coleção Ribeiro&Ruiz” faz parte das comemorações dos 30 anos de criação do Museu de Arte de Ribeirão Preto e é composta, ainda, por um espaço destinado especialmente ao Educativo MARP, onde são realizadas atividades que têm como base os temas abordados e os processos de criação da artista, possibilitando interações com os grupos agendados, estudantes e com os visitantes. Até o dia 6 de maio, outras ações serão realizadas, como mostra paralela, oficina artística e lançamento de livro.
Sobre Odilla Mestriner Odilla Mestriner nasceu em 18 de agosto de 1928 e faleceu em 10 de fevereiro de 2009. Desenhou e pintou como autodidata até 1956, quando passou a ter aulas com Domenico Lazzarini na Escola de Artes de Ribeirão Preto. Ao se encontrar com sua linguagem e forma de expressão principais, o desenho, passou a integrar os catálogos de diversos salões no Brasil e no exterior, incluindo edições da Bienal Internacional de São Paulo.
Ao longo de 50 anos de carreira nas artes visuais, Odilla recebeu inúmeros prêmios, entre eles o de “Melhor Desenhista de 1973”, pela Associação Paulista de Críticos de Arte, prêmio aquisição “Itamaraty”, na X Bienal Internacional de São Paulo e, em 2005, a bolsa-prêmio “The Pollock-Krasner Fundation”, de Nova York.
Hoje, além das obras que fazem parte da coleção Ribeiro&Ruiz, sua arte está nos principais museus do país, entre eles MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAC - Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo e MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto.
Fotos:Rafael Cautella SERVIÇO O que: Exposição Odilla Mestriner e a Coleção Ribeiro&Ruiz |
Onde: MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi
Endereço: Rua Barão do Amazonas, 323, Centro, Ribeirão Preto – SP
Entrada: gratuita
Informações: (16) 3635-2421
Visitação à mostra aberta ao público: Quando: De 22 de março a 6 de maio
De terça a sexta, das 9h30 às 12h e das 13h às 17h30.
Aos sábados: nos dias 25/03, 15/04, 29/04 e 06/05, das 9h às 15h.
Obs.: Nos dias 07/04 e 21/04, o museu estará fechado.
