03/08/2023 às 22h08min - Atualizada em 03/08/2023 às 21h06min

Novo cenário no tratamento do câncer e a falta de oncologistas diante de uma possível endemia

Samantha Di Khali

Samantha Di Khali

Jornalista De Etnia cigana, psicologa, astróloga. @samanthadikhalioficial

Dados do Ministério da Saúde revelam que em 2021, 62% dos pacientes com câncer tiveram diagnóstico tardio no Brasil.

O câncer ainda é a segunda principal causa de morte em todo o planeta e uma das principais causas nas Américas, segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde, que revela ainda que cerca de 70% das mortes ocorrem em países de baixa e média renda. Pode soar retórico, mas uma das maneiras mais eficazes de se combater o câncer é a prevenção, conforme afirmam médicos especialistas.

Na última semana, o Instituto Oncoguia, organização sem fins lucrativos que atua na defesa dos direitos dos pacientes com câncer, divulgou, a partir da análise do Ministério da Saúde, que mais da metade dos casos de câncer do SUS (Sistema Único de Saúde) iniciam seus tratamentos já nos estágios avançados ou metastáticos.

Dentre as principais dificuldades para a detecção precoce da doença estão a dificuldade de acesso e a falta de informação, especialmente na região Norte, que aponta o Estado do Acre com o pior cenário, com 80,5% dos novos pacientes iniciando tratamento em estadiamento localmente avançado ou metastático.

Nas principais trincheiras do combate à doença está a Oncológica do Brasil, centro avançado na formação, pesquisa e tratamento do Câncer que é referência no diagnóstico e tratamento do câncer em todas as suas fases. A instituição é comandada pelo médico especialista em cancerologia, Luís Eduardo Werneck, que em entrevista exclusiva alerta para o novo cenário do câncer no Brasil e a falta de médicos especialistas em dez anos.
 
Qual é a prospecção do novo cenário do câncer no Brasil?

Temos dados da ONU (Organização das Nações Unidas) e OMS (Organização Mundial da Saúde), por meio da plataforma Global Cancer Observatory, que dizem que o número de pessoas com câncer duplicará em 15 anos. Assim, em 2038, teremos o dobro de casos de câncer do que se tem hoje, será praticamente uma endemia. Isto é reflexo de hábitos que a população vem realizando desde a década de 80 e que se refletirá daqui a alguns anos.

Neste cenário, teremos o dobro de pacientes e, consequentemente, um maior custo de tratamento, diante das novas tecnologias que surgirão em detrimento ao acesso às tecnologias que se tem atualmente. Por exemplo, na ciência, um tratamento de câncer de pulmão, hoje, cura 50% mais do que a dez anos atrás, em contrapartida, seu custo é 200% maior do que na época. Então, também, poderá haver um novo cenário econômico, pois, muitos países não conseguirão pagar essa conta.
 
O que se tem feito em preparação ao novo cenário de endemia e cancerologia que se desenha?

Este novo cenário está, praticamente, definido a partir de variáveis relacionadas ao aumento do número de casos, complexidade dos casos, aumento do custo de tratamento e incorporação de novas tecnologias no tratamento. E, uma das principais respostas a este panorama é a formação profissional.

Atualmente, para se formar um médico oncologista habilitado leva-se 15 anos, correspondente aos seis anos de faculdade de medicina, somados aos três anos de residência em clínica médica, três anos de residência em oncologia e mais um ou dois anos de experiência mínima. Antes disso, teremos um aumento nos casos até chegarmos no pico de 100%, assim, faltarão médicos oncologistas em dez anos, o que poderá gerar um colapso.
 
O que ainda é possível fazer?

Prevenção. Como não podemos prevenir os casos que estão por vir – oriundos de hábitos iniciados na década de 90, nos resta o diagnóstico precoce. Dessa forma, investimos em campanhas para diagnóstico e rastreamento populacional. O que pode ser caro agora se torna barato depois.

Por exemplo, tratar um câncer de mama em estágio 1 (descoberto no início), no Amazonas, requer investimento do Poder Executivo de cerca de R$ 1 mil. Se a doença estiver no estágio 4, o Estado gastará cerca de R$ 400 mil, atualmente. Então, se houver um diagnóstico precoce por meio da realização de exames, vamos revelar mais casos e a cada novo caso (em estágio 1) que é descoberto, cobre o custo de R$ 400 mil daqueles que não descobrimos e surgirão no estágio 4. É uma matemática complexa, porque o custo é exponencialmente mais caro, à medida que a doença é descoberta tardiamente.
 
A demanda da doença é maior em determinadas regiões do país?

É preciso analisar de maneira relativa. A região Sudeste concentra 50% da população brasileira enquanto a região Norte, cerca de 18%. Se formos analisar proporcionalmente, o Sudeste ainda gasta mais por pessoa com câncer do que o Norte, pois já tem tratamento mais modernos e caros.
 
Como a Oncológica do Brasil se diferencia neste cenário?

A logística do Norte para fazer tratamento é complexa para o notista. É importante que a pessoa esteja no ambiente familiar. A primeira coisa que o paciente diagnosticado perde é a família, quando precisa ir a São Paulo em busca de um tratamento mais eficiente. Assim, a Oncológica do Brasil veio para suprir todas essas necessidades, trazendo um tratamento com alta tecnologia, o mesmo oferecido em São Paulo.

Temos dez filiais e todas na região Norte. Estamos nas três grandes capitais: Manaus, Belém e Macapá e, em mais oito cidades médias, como: Santarém, Marabá, Paragominas e Ananindeua. Mas, o fato é que temos levado novos tratamentos, pois o Norte precisa muito, diante da carência da região. Somos uma equipe de 260 colaboradores, dos quais 52 são médicos e realizamos cerca de 65 mil quimioterapias por ano.

Contamos com o apoio das Forças Armadas, que são nossas grandes aliadas na missão em promovermos campanhas de saúde na Amazônia para a prevenção, diagnóstico e tratamento oncológico.
 
Sua instituição, também, é reconhecida pelo trabalho social em áreas carentes, como se dá essa missão solidária?

A Oncológica é privada e desenvolvemos um trabalho social, onde parte da nossa receita é revertida em ações solidárias, onde realizamos tratamentos gratuitamente, desde a tomografia inicial para diagnóstico da doença ao tratamento e alta médica. Na média, 5% do nosso faturamento anual, o que representa cerca de R$ 6 a 7 milhões são destinados à filantropia. O meu faturamento é o resultado e meu foco está em quantos ficarão curados e não morrerão de câncer.

Em 2022, numa parceria com a Marinha do Brasil, partimos da cidade de Belém e percorremos o Baixo Solimões, rastreando o câncer através de exames diagnósticos em comunidades ribeirinhas, onde descobrimos três pacientes que após diagnosticados, tratados e estão vivos.
 
Além das Forças Armadas, o senhor tem expectativa de novas parcerias públicas?

Estou aberto a qualquer tipo de conversa, desde que a outra parte pense como nós. Se houver benefício para o paciente com câncer, qualquer parceria é bem-vinda. Que as instituições estaduais, municipais ou do terceiro setor possam nos procurar para que unamos nossas forças em coalisão e melhorar esse cenário que está por vir.
 
Como o senhor vê sua instituição neste ‘novo cenário’?

É estar cinco passo à frente, tenho que me antecipar ao novo cenário. Presença, resultado e incorporação de novas metodologias no tratamento, sempre usando o melhor e o mais abrangente, por exemplo: musicoterapia, reiki e terapia com cães. Tudo isso funciona para o paciente oncológico.
 
E sobre expansão?

O nosso objetivo é estar cada vez mais presente. Temos um planeamento estratégico em andamento para abertura de unidades em Boa Vista (RR) e Rio Branco (AC) no próximo semestre e, em Sinop (MT), no primeiro semestre de 2024. Levamos tudo o que se faz na matriz para uma unidade por menor que seja, assim, garantimos a uniformidade no tratamento.
 
Por mais grave que seja a doença, em alguns casos, o diagnóstico de câncer pode ser uma sentença de morte?

Jamais. Estamos nos afastando deste pensamento, pois os esforços são para que tenhamos mais casos diagnosticados para termos menos mortes por conta da doença. Empregamos novas técnicas para combater a atual realizada, assim, nos distanciamos ainda mais dos óbitos.
 
O senhor fala em uma equipe de multitalentos. Se talento é nato, único e individual, que não se ensina, como é feita sua seleção de profissionais neste critério?

Similaridade de pensamento. É o profissional ter um propósito. Tudo o que você faz, se for feito com um propósito, a chance de acerto é 70%, inicialmente. Dou ferramentas e incentivos para que os profissionais que estão comigo se desenvolvam em seus trabalhos. É preciso acreditar nas pessoas. Acredito mais nas pessoas que estão na Oncológica do Brasil do que creio nos remédios.
 
*Luís Eduardo Werneck, presidente da Oncológica do Brasil e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia. O médico Luís Eduardo Werneck prestigiou a solenidade militar que conduziu o general Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves à direção do Comando Militar da Amazônia, instituição parceira da Oncológica do Brasil.

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