A Escola Estadual Ruy Araújo, localizada em Manaus, sob a direção do professor Thiago Baima, está inovando ao integrar a Educação Fiscal à prática pedagógica do Ensino Médio. Com atividades que conectam conteúdos curriculares à realidade dos estudantes, a escola vem desenvolvendo projetos interdisciplinares que despertam a consciência crítica sobre o papel do Estado, os impostos e a responsabilidade social.
O projeto, centrado no tema “A participação do Estado na produção do espaço geográfico”, mobiliza estudantes e professores em ações colaborativas, como debates, exposições temáticas e produção textual, todas baseadas em metodologias ativas de aprendizagem. Cada turma escolhe, de forma democrática, um problema social para aprofundar e propõe estratégias de enfrentamento, considerando o papel do Estado como agente central nas soluções.
Debate no ar: protagonismo estudantil e espaço para a voz dos jovens
Uma das iniciativas de grande destaque foi o Programa no Ar, um ciclo de atividades que simula um programa de TV para debater problemas sociais que exigem a atuação do Estado. Os estudantes participaram da organização do cenário, criaram roteiros, produziram seus próprios microfones de papelão e até organizaram uma mesa de degustação pós-evento. Durante o debate, questões previamente elaboradas foram sorteadas e instigaram os convidados a refletirem sobre a saúde pública, educação e infraestrutura urbana.
Expressão corporal como ferramenta de crítica social
Outra vertente do projeto que está em planejamento é a “Exposição: Os Problemas Sociais e a Atuação do Estado”, onde os estudantes deverão caracterizar-se como personagens representando diferentes desafios enfrentados pela população. Vestidos com figurinos simbólicos, diante de cenários criados por eles, os jovens retratam situações de vulnerabilidade social sem falas, utilizando apenas a expressão corporal como forma de comunicação. A exposição está sendo coordenadores pelo professor Dilson Nascimento em parceria com os acadêmicos de geografia da Universidade Federal do Amazonas que participam do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).
"A parceria com o PIBID nos permite desenvolver estratégias diferenciadas de ensino e aprendizagem, o que faz toda a diferença no cotidiano escolar. Sempre dialogo com a coordenadora do programa, professora doutora Amélia Regina, sobre os desafios enfrentados pela escola e pelo ensino de Geografia. A interdisciplinaridade com a Educação Fiscal tem sido bastante frutífera nesse sentido, contribuindo para que a educação para a cidadania se torne uma realidade." — afirmou Nascimento.
Poesia como instrumento de educação fiscal
A produção textual também ganhou destaque, especialmente com o poema “Impostos”, de Maria Clara Silva da Silva, estudante da segunda série do ensino médio. Para servir como um recurso didático e ser compartilhado com outras escolas, o poema foi analisado pelo professor Dilson à luz dos objetivos do Plano Nacional de Educação Fiscal (PNEF) e dos Temas Transversais presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), evidenciando como os jovens percebem o peso da carga tributária e demonstram a desconfiança em relação ao uso dos recursos públicos.
Numa das estrofes a estudante apresenta parte das inquietações levantadas pelos jovens e por seus colegas de turma: “Estradas, escolas, hospitais/São os benefícios que nos são ditos/Mas será que é justo pagar/Por coisas que não usamos ou precisamos?” Os jovens mostram-se inquietos e preocupados com o que se paga e com os destinos do que se arrecada!
“Acho que a maioria dos jovens tem pouco conhecimento sobre impostos. É um assunto que dificilmente aparece de forma clara nas conversas ou nas aulas, então muita gente só vai entender o impacto disso quando começa a trabalhar ou abrir um negócio. Existe uma certa distância entre o jovem e o sistema tributário, talvez porque pareça algo ‘de adulto’, mas é importante que a gente se envolva mais cedo, para poder cobrar nossos direitos com mais consciência”, comenta Maria Clara.
A análise do poema de Maria Clara revela inquietações comuns à juventude brasileira: a sensação de pagar por serviços que muitas vezes não são utilizados, a falta de transparência e o desejo de uma atuação estatal mais ética e eficiente. A partir dessas percepções, os professores podem desenvolver propostas de atividades como rodas de conversa, júris simulados, simulações de orçamento participativo e produção de podcasts, tudo com foco no fortalecimento da cidadania ativa.
Educação fiscal como prática transformadora
O trabalho desenvolvido na Escola Estadual Ruy Araújo mostra que a Educação Fiscal vai além das questões teóricas. Ela pode ser vivenciada no cotidiano escolar como um instrumento de empoderamento juvenil, capaz de formar cidadãos críticos e conscientes.
Ao promover o protagonismo estudantil, incentivar a pesquisa, a criatividade e o trabalho coletivo, a escola torna-se espaço de transformação social. A iniciativa integra as atividades regulares da instituição e está sendo registrada como referência pedagógica na rede estadual. A proposta alinha-se ao Programa Nacional de Educação Fiscal e pode ser replicada em outras unidades de ensino do Amazonas e do Brasil.