Segundo o depoimento do amigo de Bruno Pereira, Amarildo também já teria atirado contra o indigenista em janeiro deste ano. Justiça decreta prisão temporária do homem investigado no desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips
Um amigo de Bruno Pereira, que preferiu não se identificar, afirmou nessa sexta-feira (10) que o indigenista foi ameaçado por Amarildo da Costa de Oliveira um dia antes de desaparecer com o jornalista inglês Dom Phillips, no domingo (5). Eles foram vistos pela última vez após realizarem uma visita a uma comunidade próxima à Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.
Amarildo, conhecido como "Pelado", teve prisão provisória decretada na quinta-feira (9), depois que testemunhas informarem à polícia que o viram navegando atrás da embarcação onde estavam Bruno e Phillips no dia em que desapareceram. Além disso, a perícia detectou a presença de sangue na lancha do suspeito. A família diz que ele é inocente e está sendo torturado (veja os detalhes abaixo).
Em entrevista à Rede Amazônia, o amigo de Bruno relatou que as ameaças ocorreram por volta das 6h30 da manhã de sábado (3), quando uma equipe de monitoramento, na qual Bruno estava integrando, abordou Amarildo e outros dois homens, próximo a uma área indígena.
Povos indígenas vivem no Vale do Javari, no Amazonas.
Reprodução/Univaja
"Os dois [que acompanhavam Amarildo] levantam a arma para cima, não apontando, mas sim mostrando a arma, dizendo que ali eles estavam presente, tentando nos intimidar. O 'Pelado' estava com uma cartucheira em sua cintura, com praticamente 30 cartuchos de calibre 16. Nesse momento, o Bruno levanta e dá um bom dia", relata.
Bruno chegou a tirar foto dos três, mas o material também está desaparecido. A testemunha ainda conta que, em janeiro, "Pelado" teria atirado contra eles.
"A gente vinha subindo a margem do rio, e infelizmente, na hora que a íamos passando o Bruno pediu para bater umas fotos e foi bater foto da região. Parece que ele [o Amarildo] não gostou mesmo. Aí nós viramos de costas, e escutamos um tiro. Eu falei 'Bruno, é tiro'. E ele respondeu 'é, manda ele atirar de novo'", comentou.
A testemunha ainda deverá prestar depoimento à equipe de investigação.
Prisão
Amarildo foi preso durante as investigações após ser flagrado com uma porção de droga e munição. Na quinta-feira (9) o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) decretou a prisão provisória de 30 dias do suspeito.
Desaparecimento de jornalista e indigenista no AM: imagem mostra Amarildo preso
Reprodução
A prisão temporária em nome dele foi solicitada pela Polícia Civil, após ouvirem testemunhas sobre o caso, que contaram que no dia em que o indigenista e o jornalista desapareceram, viram Amarildo passando no rio logo atrás da embarcação dos dois.
Além disso, a perícia detectou a presença de sangue na embarcação de Amarildo. O material será comparado com o material genético dos dois desaparecidos, e o laudo deverá ficar pronto em 30 dias.
Família alega inocência
Familiares de Amarildo afirmam que ele é inocente e que as autoridades estão tentando forçá-lo a confessar.
O irmão de Amarildo, Osenei, de 41 anos, fez uma visita a ele na cadeia e, em seguida deu uma entrevista para a agência de notícias Associated Press:
“Ele (Amarildo) me disse que estava em casa quando o algemaram, então eles o colocaram em um barco e começaram a Atalaia do Norte. Quando eles chegaram ao córrego do Curupira, eles trocaram de barco. Eles então bateram nele, torturaram ele, afogaram ele, pisaram na perna dele e jogaram spray de pimenta na cara dele. Eles também o drogaram duas vezes, mas não sei o que usaram.”
Desaparecimento
Bruno e Phillips desapareceram próximo a uma reserva que é palco de conflitos relacionados ao tráfico de drogas, roubo de madeira e garimpo ilegal.
A procura pelos dois teve início no próprio domingo por integrantes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Como não conseguiram localizá-los, alertaram as autoridades sobre o sumiço na segunda-feira.
As buscas ao indigenista e ao jornalista reúnem o Exército, a Marinha, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e a Polícia Federal. O Exército atua desde a tarde de segunda, na região do Vale do Javari, com combatentes de selva da 16º Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Tefé (AM).
A equipe conta com, aproximadamente, 250 homens, com militares especialistas em operações em ambiente de selva que conhecem o terreno onde acontecem as buscas. Duas aeronaves, três drones e 20 viaturas foram deslocadas ao município para prestar apoio às investigações.
*Colaborou Alexandre Hisayasu, da Rede Amazônica.
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Fonte: https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2022/06/11/bruno-pereira-foi-ameacado-por-suspeito-um-dia-antes-de-desaparecimento-no-am-diz-amigo-do-indigenista.ghtml