Com tantos recursos tecnológicos que existem hoje à disposição da medicina, o bom e velho exame físico do paciente no consultório ainda faz alguma diferença? A resposta do médico oncologista Drauzio Varella é enfática: sim, totalmente! A fala do médico foi um dos pontos altos do DocSoul, evento exclusivo para médicos que está ocorrendo em Curitiba, nesta quinta-feira (7), para discutir carreira médica. Com sua voz calma e firme, o Dr. Drauzio tocou corações e resgatou a essência do cuidar.
O DocSoul deu lugar a reflexões intensas sobre o presente e o futuro da medicina. A rodada de palestras do período da manhã uniu emoção, propósito, finanças e inovação, com um objetivo em comum: fortalecer a carreira médica de forma humana, ética e sustentável. E Drauzio, grande defensor do Sistema Único de Saúde (SUS), falou sobre a relação do médico com a medicina pública e acessível.
"Sem o SUS, é a barbárie", diz o Dr. Drauzio
Em sua palestra "A alma do cuidado", o médico relembrou a realidade de quando começou na profissão, em um Brasil marcado por doenças evitáveis e ausência de recursos básicos.
"Na minha época de recém-formado, não havia pediatras em muitos lugares. As pessoas chegavam com varicela, verminoses, hepatite. Vivíamos outra realidade", relembrou. E ele reforçou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e sua função civilizatória:
"Na pandemia, o Brasil redescobriu o SUS. Sem ele, é a barbárie. Não existe saúde pública sem investimento em massa. O Bolsa Família é fichinha perto do que o SUS representa em valor social."
Ele ainda criticou duramente a falta de autocuidado entre os próprios profissionais de saúde: "O médico precisa dar o exemplo. Não pode fumar, nem o cigarro eletrônico. Eu fumei dos 17 aos 39 anos. Médico que não se cuida não consegue cuidar do paciente e nem da própria família."
Com olhar crítico e apaixonado pela profissão, Drauzio encerrou com um lembrete tocante: "Medicina se faz com as mãos. Não abandonem o exame físico. O toque é parte essencial do ato médico, dá mais tranquilidade ao paciente, a certeza de que o médico se preocupa com ele."
Carreira financeira saudável também salva vidas
Na sequência, o médico e mentor de carreiras Pietro Lima, cofundador do podcast Emergencast, abordou o tema "Emergência financeira: como sair do modo de sobrevivência?".
"Riqueza não é sobre ganhar mais, mas sobre gerir melhor o que você já ganha. O médico de alta performance precisa dominar gestão do tempo e das finanças", explicou.
Pietro defendeu a ideia de que médicos devem ser empreendedores e cuidarem de sua saúde emocional e física com o mesmo zelo que têm com seus pacientes. "A consulta mais cara pode ser a mais barata, se estiver no lugar certo. O que vira o jogo é o relacionamento com o paciente e um plano de acompanhamento bem feito."
Entre automatizar e humanizar, escolha encantar
O estudante de medicina Lurdiano Freitas, conhecido como "Menino do Posto", trouxe uma abordagem encantadora sobre atendimento humanizado. "Somos mordomos, curadores. O paciente não é nosso. Precisamos encantá-lo com arte, com presença. A medicina é uma arte de atender, não podemos perder isso."
Sua palestra "O futuro é humanizar ou automatizar?" provocou os presentes a refletirem sobre atitudes simples que transformam vínculos. Entre as 10 atitudes de humanização, ele destacou uma. A primeira é a atitude de mordomo. "Enquanto o paciente estiver sobre a nossa curadoria, é muito importante que ele seja bem tratado, bem cuidado, ser recebido na porta", diz ele.
Proteger quem cuida
Os médicos Raul Canal (especialista em direito médico) e Erickson Blun (cirurgião do aparelho digestivo e gestor em saúde do grupo Hygea) apresentaram a palestra "Plantão Seguro: cuidando de quem cuida" e lançaram uma solução inovadora no evento: um seguro para plantões médicos.
"Por apenas R$12, o médico garante proteção de até R$150 mil por cinco anos para aquele plantão. Os médicos estão muito vulneráveis. Pode acontecer com qualquer um um processo por erro médico. Mas com esse seguro, algo inovador dentro da medician, que ainda não existia, ele tem essa segurança financeira a cada plantão. É como segurar o carro ou a casa: você torce para não usar, mas a tranquilidade é impagável", explicou Erickson.
Segundo os palestrantes, especialidades como ginecologia, obstetrícia e cirurgia plástica lideram os processos médicos no país.
Da periferia à medicina com propósito
Fechando a manhã com emoção, o médico carioca Glauber Lima compartilhou sua jornada de superação na palestra "Da periferia à medicina: porque antes de salvar vidas, eu precisei salvar a minha".
"Formamos mais um médico preto e pobre nesse mundo", declarou, emocionado.
Glauber relembrou os ônibus lotados, as noites sem dormir e as barreiras enfrentadas até conquistar o diploma pela UFRJ. Sua fala foi um convite à empatia, à representatividade e à valorização das histórias que moldam os profissionais da saúde.