Iniciativa fortalece acesso à leitura com novas bibliotecas no interior da Amazônia

Iniciativa da ONG Vaga Lume leva mais cinco bibliotecas a comunidades ribeirinhas e assentamentos com baixos indicadores sociais no Amazonas e Maranhão

NAYANNE MOURA
23/07/2025 15h20 - Atualizado há 1 dia
Iniciativa fortalece acesso à leitura com novas bibliotecas no interior da Amazônia
Foto: Kleber Jr. / Vaga Lume (Divulgação)
Entre julho e agosto, três comunidades ribeirinhas no Amazonas e dois assentamentos rurais no Maranhão receberão novas bibliotecas comunitárias criadas pela ONG Vaga Lume, que atua há mais de duas décadas promovendo o acesso à leitura em áreas remotas da Amazônia Legal. Os espaços serão implantados em territórios com alta vulnerabilidade social, baixos índices educacionais e infraestrutura precária, mas marcados pelo protagonismo das próprias comunidades, que estarão à frente da gestão das bibliotecas.

O primeiro ciclo de implantação ocorrerá entre os dias 28 de julho e 3 de agosto, no município de Uarini (AM), cidade de cerca de 14 mil habitantes localizada na região do Médio Solimões. No que se refere à escolarização de 6 a 14 anos, a cidade fica em 5.446 lugar de 5.570 dentre as demais brasileiras. Em 2023, o IDEB da rede pública do município foi de 3,8 nos anos iniciais e 3,0 nos anos finais do ensino fundamental - bem abaixo das médias nacionais, que foram de 6,0 e 5,0. No ranking entre todos os 5.570 municípios do Brasil, isso significou ocupar a 5.370ª posição nos anos iniciais e a 5.338ª nos anos finais, ficando entre os 4% piores do país.

“Partindo dos indicadores sociais, o cenário é desafiador: se por um lado temos vulnerabilidade no acesso ao saneamento, à educação e à proteção, por outro lado, temos engajamento genuíno e um claro desejo de transformação social do território. As bibliotecas serão parte dessa transformação e serão geridas pelas comunidades”, afirma Nathalia Flores, gerente de Educação da Vaga Lume.

A ONG constituí bibliotecas comunitárias, entregando acervo e estrutura necessários para a operação, forma os voluntários na metodologia de mediação de leitura, e faz o acompanhamento contínuo apoiando os comunitários na gestão e desenvolvimento do espaço. Todas as bibliotecas Vaga Lume nascem do desejo das comunidades em receberem o espaço de leitura, e nesse processo de implantação é feito por um caminho de escuta e acolhimento, para que, uma vez constituída, a biblioteca seja um espaço de pertencimento para toda a comunidade.

Desde 2002, a Vaga Lume atua no município de Uarini, no Amazonas, e atualmente mantém três bibliotecas comunitárias em funcionamento. Com a implantação de novas unidades nas comunidades ribeirinhas de Coadi, Vila Soares e Porto Braga — todas de difícil acesso fluvial e com economias baseadas no extrativismo, como pesca e agricultura familiar —, o número de bibliotecas na região chegará a seis. Serão alcançadas mais de 120 famílias nas três comunidades, além de 369 agentes comunitários e 157 alunos das escolas municipais.

A ação no Amazonas conta com apoio logístico da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que oferece hospedagem e base de operação para a equipe da Vaga Lume, e com a parceria da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), que participa da formação de educadores e do fortalecimento pedagógico das escolas locais.

Segunda fase

A segunda etapa da expansão 2025 será realizada entre os dias 26 de agosto e 1º de setembro, em Barreirinhas (MA), município de 65 mil habitantes que, apesar de ser um dos principais polos turísticos do estado, enfrenta desafios semelhantes. Apesar de apresentar um PIB per capita de R$ 9.951,26 em 2021 — o que coloca o município na 86ª posição entre os 217 do Maranhão, segundo o IBGE —, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é de apenas 0,570, indicando que o nível de renda não se traduz diretamente em qualidade de vida para a população.

Na educação, em 2023, o IDEB da rede pública do município foi de 5,3 nos anos iniciais e 4,4 nos anos finais do ensino fundamental. No ranking estadual, ocupou as posições 49ª (anos iniciais) e 70ª (anos finais) entre os 217 municípios do Maranhão. No cenário nacional, ficou em 3.751º lugar (anos iniciais) e 3.632º (anos finais) de um total de 5.570 municípios, posicionando-se entre os 35% piores colocados do país.

Na cidade, a Vaga Lume selecionou duas comunidades para receber as bibliotecas: Olhos d’Água dos Cabral e Massangano 1º, ambas caracterizadas como assentamentos com forte presença da agricultura familiar. As duas localidades possuem acesso regular a energia, água e internet, além de escolas com corpo docente estável, que atendem desde a educação infantil até o ensino fundamental completo e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A metodologia da Vaga Lume envolve formação de mediadores locais, rodas de leitura e encontros com a comunidade para estimular o uso do acervo e o protagonismo das lideranças locais — professores, agentes de saúde, representantes comunitários e até jovens leitores. “Essa é a nossa parcela de contribuição na garantia de direitos, no acesso à literatura e no fortalecimento comunitário na Amazônia está sendo dada”, reforça Nathalia.

Olhos d’Água dos Cabral abriga cerca de 600 pessoas, ou seja, serão alcançadas 120 famílias que vivem da agricultura familiar. Já Massangano 1º é o maior núcleo entre os selecionados, com 92 famílias e 250 moradores.

Em todos esses lugares, as bibliotecas não são apenas prateleiras cheias de livros: são espaços de encontro, partilha, afeto e construção de um futuro possível, um que passa pelas mãos das próprias comunidades. E como toda semente plantada com cuidado, elas florescem, seja no barro, na beira do rio ou entre cactos e dunas. A terra é fértil porque é feita de gente”, conclui a gerente de Educação da Vaga Lume.

Desde 2002, a Vaga Lume desenvolve ações em Barreirinhas e, ao longo desses anos, consolidou uma rede de bibliotecas comunitárias no município. Atualmente, são 10 unidades ativas, e com a implantação de mais duas — com apoio do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) — o número chegará a 12. A parceria se soma às iniciativas do IFMA na região, que já atua com projetos de extensão e apoio à educação rural.

"Implantar novas bibliotecas nesse território é estratégico porque contamos com uma rede de voluntários locais que atuam a partir dos municípios e articulam diretamente com as comunidades. Além disso, há uma forte cooperação entre elas: uma comunidade apoia a outra no desenvolvimento e fortalecimento dos espaços de leitura, o que reforça o impacto coletivo do nosso trabalho", conclui Nathalia.

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NAYANNE MARIA DOS REIS MOURA
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