CNC promove encontro para discutir melhorias da malha aérea na Amazônia legal

29/03/2025 10h00 - Atualizado há 3 dias
CNC promove encontro para discutir melhorias da malha aérea na Amazônia legal
Foto CNC Divulgação

Com passagens, em média, 118% mais caras, chegando a aumentos de tarifas de até 328%, na Região Norte, o sistema aéreo brasileiro vive um cenário de concentração, pouca concorrência e alto custo operacional. O alerta foi feito nesta quarta-feira (26) durante o evento Desafios da Aviação Regional e os Impactos para o Desenvolvimento do País, realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em Brasília.

O encontro reuniu parlamentares, representantes do setor aéreo, ministros e dirigentes regionais para debater propostas de curto e médio prazo. Ao final, foi anunciada a formação de um grupo de trabalho com participação da CNC, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), do Congresso Nacional e do trade turístico para buscar soluções conjuntas.

Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, a aviação regional deve ser tratada como ferramenta essencial de integração nacional, e não como serviço de luxo, já que em muitos trechos do País, especialmente nas Regiões Norte e Centro-Oeste, não há alternativas viárias seguras ou viáveis. "Não temos rodovias em muitos trechos, e as que existem estão em péssimo estado. A aviação regional é, muitas vezes, a única via de acesso. A aviação regional não pode ser luxo, ela precisa ser tratada como uma questão de integração nacional. Por isso, o Brasil não pode continuar dependendo de duas ou três empresas", afirmou.

Tadros também demonstrou preocupação com a possível fusão entre as companhias Azul e Gol, o que poderia agravar ainda mais o cenário de concentração. "Corremos o risco de ter somente duas companhias operando em todo o território. Isso é insustentável", completou.

 

Preço das passagens subiu 118% no País e 328% na Região Norte, aponta estudo da CNC

 

Segundo o levantamento da Confederação, a tarifa aérea média subiu 118% em termos reais desde a pandemia. Esse aumento foi ainda mais expressivo em algumas regiões do País, como o Norte, onde a alta chegou a 328%. No Nordeste, a elevação foi de 134% e, no Centro-Oeste, 130%, com dados de 2025. 

A análise da CNC aponta que apenas três companhias aéreas dominam 99,8% do mercado nacional, o que reduz drasticamente a concorrência. Como resultado, os consumidores acabam pagando mais caro, mesmo diante de um cenário de demanda aquecida. "Estamos diante de um mercado altamente concentrado e com comportamento atípico: a demanda continua forte, mesmo com o aumento dos preços. Isso mostra quanto a aviação é essencial no Brasil — mas também quanto falta concorrência real", avaliou Felipe Tavares, economista-chefe da CNC e autor do estudo.

"Estamos pagando mais caro porque o consumidor não tem escolha. Há uma distorção de mercado que prejudica o turismo, o comércio e a mobilidade no País", explicou Tavares.

 

Grupo técnico vai propor mudanças legais e regulatórias

 

Com base na gravidade dos dados apresentados, a CNC propôs a criação de um grupo de trabalho para elaborar soluções estruturantes. A proposta, articulada com a Anac, representantes do Senado e da Câmara dos Deputados, inclui medidas como a abertura dos céus brasileiros para permitir a entrada de novas companhias aéreas, o incentivo a investimentos em infraestrutura nos aeroportos regionais, a regulamentação dos subsídios ao querosene de aviação (QAV), especialmente nas regiões da Amazônia Legal, além da isenção de tarifas aeroportuárias em rotas estratégicas.

Outra frente de atuação será a formulação de diretrizes legais para combater a judicialização excessiva do setor, que hoje impõe um custo de cerca de R$ 1 bilhão por ano às companhias aéreas. A ideia é melhorar a previsibilidade jurídica, reduzir litígios e atrair novos operadores ao mercado brasileiro.

"Precisamos transformar esse debate em medidas concretas. Vamos construir uma proposta com a participação de todos os setores, incluindo as companhias aéreas", disse Alexandre Sampaio, diretor da Confederação e que coordena o Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da entidade.

O representante da Casa Civil, Adailton Dias, confirmou o apoio do governo federal à iniciativa e destacou que a equipe técnica do Executivo está à disposição para integrar o grupo de trabalho e contribuir com soluções práticas.

 

 

Parlamentares defendem regulação de subsídios e mais voos regionais

 

O senador Alan Rick (União-AC) defendeu a regulamentação urgente do subsídio ao QAV (combustível da aviação) com verba do Fundo Nacional da Aviação Civil (FNAC), prevista na Lei Geral do Turismo. Segundo ele, é essencial garantir que o benefício se traduza efetivamente em passagens mais acessíveis à população, com contrapartidas claras por parte das companhias aéreas.

O deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) também alertou para a má aplicação de subsídios em nível estadual. Em sua avaliação, mais de 70% dos voos incentivados no Amazonas foram posteriormente cancelados, o que, para ele, configura prática predatória. Mandel sugeriu ainda que a política de estímulo leve em consideração as empresas de táxi aéreo, fundamentais para a conectividade em áreas remotas da Amazônia.

 

Ministro Celso Sabino: turismo bate recordes, mas aviação precisa acompanhar

 

O ministro do Turismo, Celso Sabino, destacou que o Brasil atravessa um dos melhores momentos da história do turismo nacional. Em 2024, o País registrou 118 milhões de passagens aéreas vendidas, recebeu 6,7 milhões de turistas estrangeiros e atingiu um gasto médio de R$ 2,5 mil por viagem no mercado interno.

Apesar dos números positivos, Sabino ressaltou que a aviação ainda é um gargalo. O querosene de aviação, por exemplo, representa 40% do custo da passagem no País e pode chegar a 60% na região amazônica. Para o ministro, a ampliação da concorrência é o caminho mais eficaz para reduzir os preços. "Se tivermos mais empresas competindo, quem ganha é o passageiro", afirmou.

 

Próximos passos

 

O grupo de trabalho será oficializado nas próximas semanas, com a missão de apresentar uma proposta técnica e legislativa até o segundo semestre. A CNC ficará responsável pela coordenação técnica das propostas, enquanto a Anac e os parlamentares trabalharão na revisão dos aspectos regulatórios e jurídicos.


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