21/05/2023 às 23h26min - Atualizada em 22/05/2023 às 00h02min
Adolescente que filmou abuso sexual de empresário alemão no AM foi aliciada pela mãe
Ao Fantástico, a Polícia Civil disse que o alemão mantem empreendimentos turísticos no Brasil, incluindo uma pousada onde a adolescente e outras meninas foram estupradas. Com fetiches, ele obrigava a vítima a usar algemas, correntes e piercings.
Ao Fantástico, a Polícia Civil disse que o alemão mantem empreendimentos turísticos no Brasil, incluindo uma pousada onde a adolescente e outras meninas foram estupradas. Com fetiches, ele obrigava a vítima a usar algemas, correntes e piercings. Adolescente grava próprio estupro e expõe esquema de exploração sexual de menores comandado por alemão no Amazonas A adolescente de 15 anos, que filmou o abuso sexual de um empresário alemão no Amazonas, foi aliciada pela própria mãe desde criança. A mulher foi presa em uma operação nacional, na quinta-feira (18). O homem fugiu para a Alemanha. O caso repercutiu no Fantástico deste domingo (21). À reportagem, a adolescente contou que começou a ser aliciada ainda na infância. "Eu tinha seis anos quando ele começou a passar a mão em mim, me abusar", disse. Segundo a vítima, parte dos abusos aconteciam quando ela estava dormindo. "Eu ficava com medo", afirmou. A menina perdeu o pai quando era criança. Também ficou sem a mãe, que estava presa. Até os cinco anos de idade, morou com uma tia paterna. Mas a mãe foi solta, e quando a garota completou seis anos, as duas voltaram a viver juntas. De acordo com a delegada Joyce Coelho, titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), os abusos começaram. "Ela [mãe] enxergou essa possibilidade de ganhar dinheiro com a filha, que é a exploração sexual da adolescente, e passou a agenciar e essa adolescente. Segundo a polícia, o principal abusador da menina é o empresário alemão Wolfgang Brog, de 75 anos. Ele foi casado com uma tia materna dela. As investigações da polícia apontam que a mãe, a tia e o alemão Wolfgang agiam juntos. A Polícia Civil afirmou que o alemão usava os rios para transportar outras menores de idade até a pousada Cheiro do Mato, que fica em uma região de mata de Manaus, no meio da floesta amazônica, há cerca de 120 quilômetros da área urbana. "Ele tinha uma embarcação privada, só pra este transporte", ressaltou a delegada Joyce Coelho. Conforme as investigações, as meninas também eram oferecidas aos hóspedes. "Colocadas à disposição, não somente do alemão, como também de outros possíveis abusadores", afirmou a delegada. Fingia ter adotado A adolescente relatou que, no começo, acreditava que o empresário a trataria como pai, porque ele comprava presentes, como bonecas, e afirmava em público que tinha adotado a menina. "Ele sempre me apresentou para as pessoas assim, que eu sou filha dele, que ele me adotou. Eu sou filha", disse. Fetiches A vítima contou que o empresário alemão tinha fetiches. "Ele mandava vestir umas roupas: que é saia, salto alto, algema. Ele botava em mim. Às vezes, ficava até dolorido da minha mão, ficava marca da algema", destacou. Além de algemas, o abusador usava correntes. A adolescente também foi obrigada a colocar piercings no rosto a mando do estuprador. Denúncias Os abusos só pararam agora. Aos 15 anos de idade, com a ajuda de uma tia paterna, a menina encontrou forças para denunciar o caso à polícia, no fim de março. Para comprovar os crimes, a própria adolescente gravou um vídeo onde aparece sendo estuprada pelo alemão. O vídeo serviu de prova para o início das investigações da Polícia Civil. "A prova que ela fez do dia do encontro é uma prova irrefutável. Ela mesmo gravou esse vídeo, do momento em que ela estava sendo abusada sexualmente por ele, utilizando inclusive a fantasia que ela diz que era um dos fetiches dele. E ele ofereceu bastante dinheiro para que elas destruíssem essa mídia. Essa mídia acabou chegando ao conhecimento da autoridade policial", destacou a delegada Joyce Coelho. Após a denúncia, a mãe da adolescente chegou a ser presa, mas foi solta pela Justiça, na audiência de custódia. A polícia, tentou prender o alemão Wolfgang Brug, mas segundo os investigadores, o criminoso fugiu para a Alemanha no início de abril. No Brasil, ele é considerado foragido e pode ser preso se voltar ao país. Em uma conversa por aplicativo de celular, a mãe da menina pediu dinheiro ao alemão para fugir. "Como é que eu vou fugir se eu não tenho nem um centavo na conta? O senhor precisa me arrumar um dinheiro pra mim fugir, mano", disse, na mensagem. Na sequência, o alemão acusa a mulher de divulgar o vídeo dele com a menina. "Esse vídeo nunca vai desaparecer. Esse vídeo vai me acompanhar o resto da minha vida, e por tua culpa, porque tu espalhou pra todo mundo", afirmou o Wolfgang. Na quinta-feira, a Polícia Civil prendeu mãe da adolescente mais uma vez. Na casa dela, os investigadores apreenderam celulares e encontraram uma algema, usada por Brog durante os estupros. Os policiais também fizeram buscas na pousada do alemão, onde apreenderam fitas de vídeo, HDs, pen drives e um computador. O material ainda vai ser periciado. De acordo com a adolescente, o empresário também gravava os abusos. "Filmava quando ele fazia essas coisas. Ele sempre guardou realmente, dentro de um HD pequeno, um quadradinho. Ele tinha imagens de todas as meninas que ele pegou", disse a vítima, confirmando que o homem fez mais vítimas no Amazonas. Na semana passada, a polícia localizou outra vítima do alemão. Hoje com 31 anos, a mulher afirmou que também foi estuprada pelo criminoso quando tinha 12 anos. Os investigadores disseram que a irmã dela também foi estuprada por ele, quando tinha apenas 11 anos. "Ele queria uma menina nova, queria uma menina já virgem ainda", contou a vítima, que perdeu a virgindade pelo alemão. "É uma investigação dos quatro tipos de exploração sexual: a prostituição, a pornografia, até mesmo a questão do turismo sexual, uma vez que esse alemão é um empresário, que está na região amazônica há bastante tempo. Tem empresas de turismo, barco de turismo, hotel que hospeda estrangeiros", afirmou a delegada Joyce Coelho. A defesa da mãe da adolescente disse, em nota, que "os fatos serão devidamente esclarecidos ao longo do processo judicial e segue com total convicção na inocência de sua cliente." A polícia informou que o alemão não tem advogado constituído no Brasil. Em áudios enviados ao Fantástico, Wolfgang Brug se defendeu das acusações de abusos contra menores. "Todas as acusações é construída", disse. "Não tem nenhuma prova sobre isso, tá? Eu nem sei de quem eles estão falando, que mulheres são isso", completou. O alemão disse, ainda, que não pretende voltar ao país. "Eu não voltar para o Brasil naquela situação agora. É claro que eu quero voltar para o Brasil, mas nessa situação,, no momento, é muito difícil", afirmou. De acordo com a delegada Joyce Coelho, as crianças e adolescentes precisam de ajuda dos adultos para denunciarem casos de abuso sexual. "Ele justifica que a criança e o adolescente precisam de alguém que acredite nela. Então, há um grande descrédito justamente quando a gente fala de exploração sexual. A denúncia é crucial, porque muitas crianças e adolescentes sofrem em silêncio e precisam que alguém fale e se importe pra que essa denúncia chegue aonde vai começar a investigação e que ela culmine na responsabilização criminal desses autores", ressaltou. A adolescente contou que pretende cursar direito, para ser advogada. "Aí eu posso resolver os crime que fica do lado das pessoas que realmente está falando a verdade, não é? Ajudar as crianças", finalizou. Mulher é presa por explorar a filha sexualmente, em Manaus Jucélio Paiva/Rede Amazônica Casos pelo país A adolescente do Amazonas está entre os quase 203 mil casos de violência sexual registrados contra crianças e adolescentes, entre 2015 a 2021. No mês que marca as ações governamentais de prevenção e combate à exploração sexual infantojuvenil no Brasil, o "Maio Laranja", a semana foi marcada por diversas operações da polícia, em vários estados. Na quinta-feira, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a equipe do Fantástico acompanhou uma ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Os policiais ficalizaram estabelecimentos ao longo da Via Dutra, a principal rodovia de ligação entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Duas menores, uma de 17 e outra de 15 anos, foram flagradas em uma casa de prostituição, em Queimados, a 50 quilômetros do Rio de Janeiro. As duas meninas prestaram depoimentos e foram encaminhadas para o Conselho Tutelar. O responsável pela casa noturna foi preso. Ele vai responder por exploração sexual de menores e pode pegar até dez anos de prisão. Exploração nas estradas e nos rios A operação nas estradas prendeu mais de mil pessoas adultas e recolheu milhares de materiais pornográficos digitais infanto-juvenis, em todo o país. Com exclusividade, o Fantástico teve acesso a um novo levantamento que mostra que hoje existem quase 10 mil pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas estradas brasileiras. Ao todo, 640 locais são considerados críticos. São áreas onde houve flagrantes da exploração sexual de menores de idade. A Região Nordeste apresenta o maior número de pontos críticos, 177. Minas Gerais é o estado que lidera a estatística, seguido da Bahia e do Ceará. Segundo a polícia, além das estradas há outros pontos de vulnerabilidade que precisam de fiscalização. No Amazonas, é comum que as vítimas sejam levadas de barco até os locais de encontro. Os rios se transformam em hidrovias a serviço do crime. "Há uma cultura também permissiva que termina fazendo com que as pessoas não denunciem isso, seja a família por medo, seja a sociedade, porque tolera, seja aqueles que se alimentam da cadeia econômica que há em torno disso, não é?", avaliou o secretário nacional de segurança pública, Tadeu Alencar.