17/10/2022 às 12h34min - Atualizada em 18/10/2022 às 00h14min

Estresse e ansiedade: como a polarização política, mesmo antes das eleições, impacta a saúde emocional

Polarização política e impacto na saúde emocional

SALA DA NOTÍCIA josilane miranda nascimento
psicóloga josi miranda
No Brasil de Lula e Bolsonaro, em pesquisas recentes segundo o Ipespe, mais de 35% dos eleitores brasileiros evitam declarar seu voto por medo da violência - física e/ou verbal; filtrar notícias, conteúdos nas redes sociais e buscar ajuda especializada são caminhos para superar medos e desconfortos neste sentido.

Todos em algum momento já vivenciamos um medo irrefreável de nos posicionarmos em alguma situação que poderia nos causar desconforto ou constrangimento. Uma porcentagem, não tão menor de nós, também sente medo, mas não só do constrangimento, mas da violência e até da morte. 

Esse movimento polarizador, que afeta em sua maior parcela a população de baixa renda, eleitores de menor instrução e os grupos mais afetados com altos índices de violência, como as mulheres e a comunidade LGBTQ+, traz cada vez mais incerteza ao nosso dia a dia. Mais de 50% dos apoiadores do Ex-Presidente dizem evitar colocar adesivos, bandeiras ou se manifestar politicamente em redes sociais, enquanto apenas cerca de 31% dos apoiadores do atual representante dizem evitar participar de campanhas eleitorais. 

A psicóloga Josi Miranda, especialista em saúde mental pela USP, com foco em ansiedade e estresse, reforça que é necessário olhar para a saúde emocional diante de todo esse cenário, pois ele contribui para conflitos internos e gera sentimentos de medo, confusão e até esgotamento. 

Os atuais discursos políticos no Brasil trazem à tona a “Guerra Cultural” definida por Eduardo Wolf, no livro “Guerra cultural: ideólogos, conspiradores e novos cruzados” como “uma luta pela alma da nação”. De um lado, há preocupação com as classes sociais afetadas pela pobreza, com a fome e a educação. Do outro, uma tentativa odiosa de se criar uma luta entre conservadorismo e progressismo, direita e esquerda, bem e mal, antagonizando qualquer um que se oponha a apoiá-lo. 

Nas redes, somos levados a constante tentação de pegarmos nossos aparelhos para checar o que está acontecendo, sendo bombardeados por conflitos entre amigos, conhecidos e familiares. Além dos algoritmos, que promovem a radicalização e conflitos em massa que geram maior engajamento, perdemos a noção dos malefícios causados por toda essa polarização. Sintomas de ansiedade, como insônia, irritabilidade e a falta de concentração transcendem ideologias. 

Para além da política, nesse momento, cabe a todos nós uma reflexão sobre extremismo, tolerância e respeito. Precisamos lembrar o quanto a saúde emocional, além de responsabilidade individual, também é coletiva e, certamente, nenhum CNPJ, partido político ou ideologia vale nossa saúde mental. Para além de uma identificação política devemos nos perguntar sobre o que podemos fazer para melhorar nosso convívio e nossas vidas. 

"Algo que ajuda é filtrar as notícias, investir em estratégias de autocuidado e se necessário, buscar ajuda para um melhor apoio emocional.” - comenta a psicóloga. 

O extremismo, tal qual posto por Dômenico Hur em Psicologia dos Extremismos Políticos, publicado em 2020, se apresenta como determinante para com o sofrimento político, mas cabe a nós entendermos nosso papel na disseminação de ataques individuais em prol da política e entendermos que para além de um partido, somos pessoas. Amigos. Pais. Filhos. Conhecidos. Humanos.
 
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