17/10/2022 às 14h13min - Atualizada em 18/10/2022 às 00h12min

Blindagem automotiva: conhecer o material e o processo para fazer escolhas seguras

Marcelo Fonseca

SALA DA NOTÍCIA 2PRÓ Comunicação

O Brasil está entre os países com maior frota per capita de carros particulares blindados, uma realidade que reflete a preocupação de muitos motoristas com sua segurança pessoal e familiar. A evolução acelerada da blindagem veicular no país é comprovada por meio dos números da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem): segundo a entidade, entre 2010 e 2021, a produção anual de veículos de passeio blindados no Brasil quase triplicou: passou de 7,3 mil para 20 mil. Estima-se que, em 2022, esse número ultrapasse o recorde do ano anterior, o que mostra o aquecimento desse segmento.

 

Diante desses dados, e diante de um assunto tão importante quanto a proteção das pessoas que dirigem e de suas famílias, não resta dúvida de que precisamos falar mais sobre as tecnologias utilizadas na blindagem dos carros. O melhor entendimento das tecnologias e materiais usados na blindagem veicular ajuda consumidores e blindadores a fazer escolhas mais conscientes e adequadas do ponto de vista de performance, segurança e durabilidade, mesmo porque, assim com o mercado de veículos, as soluções em blindagem oferecem opções para todos os gostos e bolsos.

 

Em relação à tecnologia, nada revolucionou mais esse mercado do que os painéis balísticos de aramida, um polímero termofixo: se antes a blindagem das partes opacas (sem considerar os vidros) dependia quase que 100% de placas de aço balístico, já faz muito tempo que o uso desse material se limita a cerca de 10%. De forma simplificada, painel balístico de aramida é um material compósito  produzido a partir da combinação de diversas camadas de tecidos ultrarresistentes feitos com fibras de aramida.

 

No uso em proteção balística, sua principal característica é o alto poder de dissipação da energia do impacto, impedindo a passagem de projéteis. Por ser maleável e cinco vezes mais leve que o aço, sua aplicação foi adotada em larga escala na blindagem, sendo utilizada em uma variada gama de camadas - a depender do local onde é aplicada e do nível de proteção desejado.

 

Aqui, é importante abordarmos os chamados não-tecidos unidirecionais de aramida, que são compostos de fibras alinhadas, sobrepostas e unidas perpendicularmente por resina termoplástica, com propriedades de resistência balística similares às tramas convencionais. Apesar disso, uma vez que a fixação das fibras é feita somente por resinas termoplásticas versus o intertravamento mecânico natural dos tecidos, o painel balístico resultante apresenta diferenças importantes. Embora seja um material de qualidade, o trabalho de moldar a manta para o encaixe na estrutura do veículo apresenta pontos de atenção quanto à sua plena eficácia.
 

O primeiro deles se refere à própria dobra do painel, cuja geometria pode provocar rugas em seus vincos, tornando estes pontos localizados mais vulneráveis. Se a peça não estiver bem dimensionada, haverá pontos de tensão  que podem enfraquecer sua estrutura.

 

Outro aspecto que merece atenção está relacionado à durabilidade e estabilidade do material que foi moldado, especialmente em relação ao calor. O Brasil é um país com muitas regiões de temperaturas elevadas. Um carro fechado sob o sol pode atingir mais de 70º C internamente. Temperaturas mais elevadas representam um risco para a blindagem unidirecional com resinas termoplásticas, uma vez que acentuam a possibilidade de delaminação (separação lenta e gradual de camadas de proteção) e perda de desempenho ao longo da vida útil - sobretudo após usos e ciclos de variação térmica.

 

Por isso, é importante considerar o ponto a ser avaliado em um material flexível no que diz respeito à sua integridade estrutural após ser moldado. Afinal, mais do que um serviço em um veículo, a blindagem veicular tem como finalidade proteger os ocupantes de situações críticas, como assaltos, atentados e tentativas de sequestro.

 

Como estamos falando de vidas humanas, ao escolher qual blindagem comprar para seu veículo entre as várias opções de proteção, preço e estilo existentes no mercado, o consumidor deve informar-se sobre o material e o processo utilizados. É essencial pesquisar a empresa que fabrica o material e a que oferece o serviço. Conversar com outras pessoas que já têm carros blindados. Questionar o tipo de proteção oferecida, os testes realizados no material e a sua durabilidade. Enfim, entender que, como há um leque de alternativas no serviço de blindagem, a escolha deve ser feita com total consciência.

 

Marcelo Fonseca é líder do segmento de Defesa para a América Latina da DuPont.


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