Neymar critica gramado sintético e alerta para risco de lesões no futebol profissional

SBRATE esclarece dúvidas sobre a prática em gramado artificial

07/08/2025 15h32 - Atualizado há 1 semana
Neymar critica gramado sintético e alerta para risco de lesões no futebol profissional
Foto Divulgação

O atacante Neymar voltou a criticar publicamente o uso de gramado sintético em estádios de futebol. Em declarações recentes, o jogador expressou insatisfação com esse tipo de piso, afirmando que ele aumenta o risco de lesões e prejudica o desempenho dos atletas. Neymar destacou que o futebol de alto nível exige condições ideais de jogo e que o gramado artificial não oferece a mesma segurança e conforto do campo natural. A crítica reacende o debate sobre a qualidade e os impactos dos gramados sintéticos no futebol profissional, especialmente em relação à saúde dos jogadores.

Dr Vitor Miranda, ortopedista especialista em pé e tornozelo e membro da SBRATE (Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte) esclarece dúvidas sobre o tema:

- Quais são os principais riscos do gramado sintético para um atleta em fase de recuperação de lesão, especialmente nos ligamentos do joelho?

O gramado sintético é naturalmente mais duro do que o natural, o que pode gerar impacto maior nas articulações. Embora existam evidências de aumento de lesões no pé e tornozelo, no caso de lesões ligamentares no joelho, como LCA, a relação com o gramado ainda é controversa. Outros fatores como preparo físico, tempo de recuperação, posição do atleta em campo e momento do jogo (final da partida, por exemplo) também influenciam fortemente no risco de lesão.

- Existe alguma evidência científica de que o gramado sintético aumenta o risco de novas lesões, especialmente para quem já teve lesão ligamentar, como o Neymar?

Sim, há evidência científica indicando que o gramado sintético aumenta o risco de lesões, principalmente em tornozelo e pé. Em relação ao joelho, as evidências são controversas. O gramado sintético é um fator de risco, mas não é isolado — há múltiplos fatores, como índice de massa corporal, condicionamento físico, posição em campo, etc.

- Comparando o gramado natural e o sintético, quais são as diferenças biomecânicas mais relevantes para um jogador em retorno após uma cirurgia?

O gramado sintético tende a deixar o jogo mais rápido e intenso, especialmente para posições como atacantes e meio-campistas, o que pode aumentar o risco de lesões musculares. Além disso, sua superfície é mais dura, o que impacta as articulações. Contudo, a qualidade do gramado (natural ou sintético) também pesa muito: uma grama sintética de alto padrão pode ser mais segura que uma grama natural em más condições.

- É comum que atletas ou clubes solicitem mudanças ou cuidados específicos relacionados ao tipo de gramado durante o processo de retorno aos jogos?

Aparentemente, sim — os atletas pedem qualidade mínima. Porém, na prática, jogos não são cancelados por más condições de gramado, e há partidas em gramados ruins e até sob forte chuva. A relevância prática da solicitação é baixa, apesar da importância do tema.

- O senhor acredita que o retorno do Neymar em jogos sobre gramado sintético deveria ser evitado ou limitado, considerando o histórico dele?

Sim, acredita-se que deveria haver mais cuidado com o Neymar, principalmente por ser uma Copa do Mundo próxima e provavelmente sua última em alto nível. No entanto, essa decisão deve envolver o próprio atleta e seu acompanhamento clínico diário.

- O Neymar demonstrou publicamente receio de atuar em gramado sintético. Esse medo tem justificativa clínica ou seria mais psicológico?

O receio tem justificativa clínica, sim. O risco de lesões é maior na grama sintética, especialmente em termos de impacto e velocidade do jogo. Comparando gramados de alto padrão, o natural ainda é preferível. Porém, uma grama sintética de alto padrão é mais segura que uma grama natural ruim.

- O medo de se lesionar novamente pode, de fato, afetar o desempenho ou até aumentar o risco de nova lesão?

Sim, esse medo é real e influencia diretamente. A experiência com cirurgia, dor e recuperação impacta psicologicamente, mesmo em atletas experientes. O medo pode atrapalhar performance e até gerar um risco indireto de nova lesão por hesitação ou tensão excessiva.

- Psicologicamente, como um atleta pode ser impactado por esse tipo de temor? Há acompanhamento específico recomendado nesses casos?

O impacto psicológico é significativo. Mesmo sendo atletas com mentalidade forte, o trauma pode gerar insegurança. O acompanhamento psicológico é importante nesse processo para ajudar o atleta a retomar confiança e performance de forma saudável.

9 - Na sua experiência clínica, qual o tempo médio ideal para um atleta como o Neymar voltar com segurança total, física e mental, após uma cirurgia de ligamento cruzado e menisco?

O retorno inclui um tempo de transição. Após a fisioterapia, o atleta treina no campo, se readapta ao jogo com bola e só depois retorna ao grupo. Esse processo garante que ele esteja adaptado tanto ao esforço físico quanto às condições do gramado. Só depois disso é liberado para jogar, com segurança física e mental. O tempo exato varia conforme evolução individual, mas o processo é criterioso.

- Seria prudente que os clubes considerassem o tipo de gramado como um fator estratégico na prevenção de lesões?

Sim, com certeza. Clubes com maior investimento tendem a ter mais cuidado com isso, pois seus atletas são ativos valiosos. No entanto, não há garantia de que exista uma ação coordenada entre os clubes para manter um padrão elevado de gramados no Brasil. O ideal seria seguir exemplos como da Premier League, onde todos os estádios mantêm padrão uniforme.

 


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