Leitura antirracista desde cedo: como ensinar às crianças sobre a força das autoras negras e caribenhas

No Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, ONG Vaga Lume destaca a importância de ampliar o repertório literário das crianças a partir de livros que reverberam vozes negras femininas da América Latina e do Caribe

NAYANNE MOURA
21/07/2025 14h07 - Atualizado há 14 horas
Leitura antirracista desde cedo: como ensinar às crianças sobre a força das autoras negras e caribenhas
Foto: Kleber Jr. / Crianças conhecendo o acervo durante a implantação das bibliotecas de Novo Airão (AM) - Vaga Lume (Divulgação)

No dia 25 de julho, celebra-se o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha — data que também é, no Brasil, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído por uma Lei em 2014, que homenageia Teresa, uma liderança quilombola, símbolo de resistência contra a escravização e de luta por liberdade. Mais do que uma celebração, a data é um convite à reflexão e ao fortalecimento de histórias e vozes de mulheres negras, latinas e caribenhas.
 

A importância desse marco ganha ainda mais força diante dos números. No Brasil, a população negra representa 54% da população total, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe, cerca de 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação de Mujeres Afro. Por isso, investir em educação antirracista desde a infância não é um gesto simbólico — é uma necessidade. E a leitura tem um papel fundamental nesse processo.
 

Inserir livros diversos, escritos por mulheres negras, latinas e caribenhas no cotidiano das crianças é uma estratégia potente para formar cidadãos mais conscientes, empáticos e antirracistas. Para celebrar a potência dessas mulheres, a ONG Vaga Lume — que atua há mais de 20 anos promovendo o acesso à leitura em dezenas de comunidades rurais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas da Amazônia Legal — preparou uma curadoria especial de títulos de autoras negras da América Latina e do Caribe, com propostas que vão da literatura para bebês à poesia, passando por histórias juvenis e bem-humoradas.
 

“A leitura é uma das primeiras experiências de contato com o mundo fora de casa, e quando esse contato traz múltiplas vozes, ele contribui para uma visão mais ampla, justa e plural. Por isso, é fundamental apresentar às crianças histórias que não apenas tragam a representatividade feminina, mas que também coloquem essas mulheres em múltiplos papéis, com diferentes vozes, cores e ritmos. Nesta seleção, temos autoras da Argentina, do Chile, do Brasil, do Peru e do Haiti, por exemplo, e trazer essas narrativas diversas conecta nossos pequenos leitores a um universo muito mais amplo de possibilidades e conhecimentos”, ressalta Bianca de Riccio, Gerente de Relações Institucionais da Vaga Lume.
 

A seguir, confira uma seleção plural e rica para formar leitores com repertórios diversos desde a infância. “Com histórias que falam de afeto, resistência, ancestralidade e futuro, que tal, neste Dia da Mulher Negra e Caribenha, mergulhar nessas leituras?”, convida.
 

Primeiras leituras:

 



Crec (Ed. Pingo de Luz), escrito e ilustrado por Nora Hilb em coautoria com Marcela Hilb, é uma obra visualmente instigante que acompanha os sons e movimentos do crescimento — ideal para os primeiros contatos com a linguagem e o corpo. Um conto divertido e afetuoso sobre maternagem e criação de vínculo entre mãe e bebê.
 

 


Quem foi!? (Ed. Brinque-Book), escrito por Ana Palmero Cáceres e ilustrado por Alejandra Acosta. Quem foi que quebrou o vidro do carro? Quem pôs cereal no macarrão? Quem desenhou na parede? Com humor simples, inteligente e ilustrações muito divertidas, o livro mostra o cotidiano de uma família virado de ponta-cabeça com as travessuras de um menino que terá de aprender a lidar com as consequências de seus atos.
 

 



Não apronte, mastodonte!(Ed. Jujuba), escrito por Micaela Chirif e ilustrado por Issa WatanabeUm divertido poema narrativo sobre um mastodonte que causa confusão por onde passa. Numa mudança de papéis, em que o cuidador é uma criança que vivencia um dia de rotina do seu mastodonte, essa história é cheia de afetos e humor. Uma ótima opção para fazer uma mediação de leitura.
 
 

Primeiras descobertas:

 



De cabeça feita (Ed. Quelônio), escrito por Neide Almeida e ilustrado por Beatriz Lira. A menina Dandara descobre que pentear os cabelos pode ser um ritual que envolve cuidado, história e inspiração. O livro é uma celebração dos cabelos crespos, cacheados e da identidade negra, com linguagem poética e ilustrações vibrantes.
 
 

 


Elena também (Ed. Gato Leitor), escrito e ilustrado por Yael Frankel. Conta a história de Elena, uma menina que desafia expectativas e busca seu lugar no mundo, tocando em temas de empoderamento e liberdade. Mostra que, mesmo estranhando tudo aquilo que difere de nós, basta chegar perto para dar de cara com o avesso das coisas e das pessoas. Às vezes, as descobertas podem ser surpreendentes.
 

 



O quintal das irmãs (Ed. Pequena Zahar), escrito por Waldete Tristão e ilustrado por Rodrigo Andradecelebra a alegria e a imaginação das crianças em um quintal. Ambientado em um espaço íntimo e cheio de memórias, o livro fala de vínculos familiares, segredos e o amadurecimento de duas irmãs negras que, com sua inocência e criatividade, exploram esse espaço, criando memórias e afetos que se eternizam.
 

 


Onde está Tomás (Ed. Jujuba), escrito por Micaela Chirif e ilustrado por Leire SalaberriaA mamãe está sempre procurando pelo menino, que, entre uma cena e outra, viaja no seu mundo da imaginação. Com uma narrativa sensível sobre um menino autista e sua relação com os espaços e a imaginação, fala sobre diversidade e empatia.
 

 



Uma coisa ou outra (Ed. Boitatá), escrito por Angeles Quinteros e ilustrado por Flávia Bonfim. Qual o significado das palavras? Uma coisa pode mudar de definição a depender do contexto? Misturando humor e filosofia, a obra apresenta dilemas cotidianos com charme e inteligência, dialogando com a curiosidade infantil. As ilustrações são um convite para descobrir o que “uma coisa ou outra” quer dizer.

 

Jovens leitores:

 



O Plano (Ed. Camaleão), escrito por Ethel Batista e ilustrado por Eva Mastrogiulio. Inspirado na história dos três porquinhos, três porquinhas decidiram se aventurar por novos caminhos e não hesitaram em traçar um plano muito original para se protegerem do lobo. Mas o lobo também tem um plano. Uma história de aventura e afeto entre amigos, com elementos de mistério e cumplicidade — perfeita para leitores em transição.
 

 


O Rouxinol da Mamãe: Uma História de Imigração e Separação (Ed. Alegrio), escrito por Edwidge Danticat e ilustrado por Leslie Staub, é um relato tocante sobre a separação entre mãe e filhos no contexto da migração forçada, inspirado em histórias de famílias haitianas. Com comoventes ilustrações, essa delicada narrativa mostra o lado humano da imigração – e mostra como toda criança tem o poder de fazer a diferença.

 



O espaço entre as folhas da relva (Ed. Ozé), escrito por María José Ferrada e ilustrado por Andrés López, é um mergulho poético em temas como ancestralidade, feminilidade e território. A história gira em torno de um menino que se aventura no mundo da natureza, encontrando diferentes tipos de relva e explorando o espaço entre as folhas. Com linguagem rica e sensível, incentiva a curiosidade e o apreço pela natureza para os jovens leitores.


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NAYANNE MARIA DOS REIS MOURA
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