03/02/2022 às 18h19min - Atualizada em 04/02/2022 às 00h00min

Com mais de 1,41 milhão de novos casos, Câncer de Próstata é segunda neoplasia maligna não cutânea mais frequente em homens em todo o mundo

Estatísticas globais apontam que o carcinoma da próstata teve apenas 20.000 casos a menos que o principal tipo, o câncer de pulmão.

SALA DA NOTÍCIA Ricardo Antônio Fogassi Berlitz

Um estudo global publicado no periódico European Urology Oncology avaliou informações contidas no banco de dados do IARC GLOBOCAN (2020, para 185 países ou territórios), e correlacionou com os dados populacionais da base da Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2020, o câncer de próstata foi a segunda neoplasia maligna não cutânea mais frequente em homens em todo o mundo, com 1,41 milhão de novos casos estimados, apenas 20.000 a menos que o principal tipo, o câncer de pulmão. 

O alto número de novos casos e mortes por câncer de próstata motivou a revisão de diversos artigos publicados entre 2010 e 2020 para identificar fatores de risco da doença. O objetivo principal foi coletar e descrever as taxas de incidência e mortalidade de câncer de próstata em todo o mundo e indicar fatores de risco conhecidos, que incluem, por exemplo, histórico familiar, predisposição genética, raça/etnia, riscos individuais, ambientais e ocupacionais.

“Vale observar que a alta incidência de câncer de próstata tem causas multifatoriais, como situação socioeconômica, história familiar, alimentação, comorbidade, menor acesso a cuidados de saúde de qualidade e difusão relativamente baixa de políticas de detecção precoce, suscetibilidade genética e fatores biológicos, além de aspectos como estilo de vida, fatores ambientais, síndromes hereditárias, raça, etnia, fatores genéticos e epigenéticos”, esclarece o urologista e uro-oncologista Marcelo Bendhack, professor da Universidade Positivo (Curitiba) e membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e do conselho da Federação Mundial de Uro-Oncologia (WUOF).

De modo geral, o levantamento indica que as diferenças na expectativa de vida em diferentes áreas geográficas podem explicar a variação dos índices da doença em todo o mundo. Um dos fatores é o uso de PSA para detecção precoce em países ocidentais, que pode levar à detecção de muitos casos indolentes e, consequentemente, aumentar a incidência da própria doença e potencialmente reduzir a mortalidade. 

A detecção precoce com base nos níveis séricos de PSA é comumente praticada em muitos países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto e muito alto. A tendência de mortalidade por câncer de próstata diminuiu em países desenvolvidos desde a década de 1990, quando o PSA foi amplamente adotado para detecção precoce – além dos avanços no diagnóstico e manejo de pacientes com a doença. Os índices de mortalidade na Europa atualmente são de 10 por 100.000, e diminuiu 7% desde 2015. 

O Brasil, que tem avançado no diagnóstico precoce, com boas escolhas de tratamento na rede pública e privada e de acompanhamento após o tratamento, conta com diversas campanhas de alertas e ações para os cuidados com a saúde do homem, muitas delas promovidas por entidades da sociedade civil. No país, ocorreram 65.840 novos casos em 2020, conforme dados do INCA, correspondendo a 29,2% dos tumores incidentes no sexo masculino, e 15.983 mortes (2019 - Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM).

Fatores de risco

IDH
Um dos aspectos importantes levantados pelo estudo foi a avaliação de que populações com baixo IDH apresentam mortalidade mais elevada (17 por 100.000). Em países com IDH alto e muito alto, os dados variaram entre 7,1 e 9,1 por 100.000.

Histórico Familiar
Até 20% dos homens diagnosticados com câncer de próstata têm um parente (paterno ou fraterno) que já teve a doença. A presença de qualquer familiar com doença prévia aumenta o risco em aproximadamente duas vezes. Se o parentesco for de primeiro grau e o paciente diagnosticado tiver menos de 60 anos, o risco aumenta em 2,5 vezes, e 5,7 vezes para duas ou mais relações de parentesco com indivíduos menores a 60 anos.

A questão genética por trás da predisposição familiar é complexa. No entanto, sabe-se que um dos fatores para o alto risco específico para a doença é uma mutação hereditária no um gene HOXB13. Outras predisposições incluem os genes BRCA1, BRCA2 e o MSH2, este associado à síndrome de Lynch.  

Etnia e raça
A variação na incidência e mortalidade em diferentes países e áreas geográficas pode estar relacionada a diferenças de raça e etnia. 

A relação de etnia e raça é um mecanismo igualmente complexo, mas revelam as disparidades quanto ao acesso aos cuidados com a saúde masculina, diferenças nos sistemas de saúde de acordo com a área geográfica, racismo sistêmico e fatores socioeconômicos.

Nos EUA, por exemplo, os afro-americanos têm incidência e taxas de mortalidade quase duas vezes maiores que as dos homens caucasianos, e aproximadamente três vezes maiores do que as dos americanos asiáticos. O local de moradia, ou seja, a chamada segregação residencial, que diferencia áreas periféricas de bairros nobres, também impacta significativamente nas disparidades. Em áreas consideradas mais segregadas, há incidência maior nos pacientes negros do que nos caucasianos.

Riscos individuais, ambientais e ocupacionais
Embora o tabagismo englobe a dependência à nicotina dos produtos à base de tabaco, presentes também no charuto, cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, narguilé, rapé, fumo-de-rolo, dispositivos eletrônicos e outros, a associação entre o fumo do cigarro e características agressivas do câncer de próstata está no maior número de cigarros por dia (mortalidade 30% maior). Uma recente revisão sistemática da literatura concluiu que o tabagismo está associado a efeitos patológicos adversos e pior controle oncológico. 

Atividade física
Uma meta-análise mostrou uma melhora nos resultados específicos da doença para pacientes mais ativos fisicamente após o diagnóstico. A atividade física regular reduziu o risco de progressão da doença local e sistêmica, e mortalidade.

Frequência de ejaculação e atividade sexual
A primeira evidência sobre a relação maior frequência de ejaculação e redução do câncer de próstata foi publicada em 2004, no estudo que acompanhou profissionais de saúde. O estudo incluiu mais de 30.000 homens, e os resultados atualizados mostraram que uma frequência média mensal de 21 ejaculações em indivíduos entre 20 e 40 anos foi associada a um risco reduzido de 19 a 22% em comparação com frequências mais baixas (média mensal de 4 a 7). No entanto, essas observações devem ser consideradas dentro dos limites dos estudos de coorte, e se esses achados são de correlação ou causalidade, permanecem desconhecidos. 

Doenças metabólicas
A síndrome metabólica é uma condição prevalente entre os homens com maior risco de desenvolver a doença. Até 34% dos indivíduos com níveis elevados de PSA têm pelo menos um componente de síndrome metabólica. A síndrome metabólica pode aumentar o risco de recorrência do câncer e mortalidade específica em pacientes tratados com prostatectomia radical. E, entre outros fatores associados, há aumento significativo de casos entre pacientes com hipertensão. 

Doenças infecciosas
A gonorreia e o vírus do papiloma humano (HPV-16) foram associados a um aumento da incidência do carcinoma de próstata. 

Alimentos e bebidas
Alguns dados sugerem que a ingestão de ácidos graxos saturados, trans e níveis aumentados de colesterol podem ser um dos fatores para um risco aumentado da doença, assim como as bebidas açucaradas e a ingestão de bebidas alcóolicas. No entanto, o consumo moderado de vinho tinto teve um efeito protetor, reduzindo o risco em 12%.

O café contém uma mistura de ingredientes que foram propostos para abrigar efeitos antineoplásicos em modelos pré-clínicos. Uma recente meta-análise de 16 estudos (total >1.081.000 homens) aponta que o maior consumo de café pode estar associado a índices reduzidos de desenvolver câncer de próstata.

Em 34 estudos analisados, o licopeno, um carotenoide presente em frutas vermelhas e vegetais, principalmente tomates, foi associado a uma redução de 13 a 14% no risco da doença. 


 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://amazonasemdia.com.br/.