Reprodução Neste mês de julho foi celebrado o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico e o que muitas pessoas não sabem é que o Brasil é o único país da América Latina autorizado a aplicar um projeto alemão bem sucedido que tem como objetivo formar crianças por meio da experimentação científica em todo o mundo. O Colégio Visconde de Porto Seguro, instituição centenária com campus em São Paulo e Valinhos, é a única escola do país certificada para realizar essa implementação. O programa foi criado a partir de um momento de crise na educação alemã. Você sabe como toda a ideia surgiu?
No começo dos anos 2000, a Alemanha não tinha destaque no mundo em relação à educação aplicada nas escolas. O país chegou a ocupar o 20° lugar no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), principalmente na área de matemática e ciências naturais, provocando apelos por uma reforma. A Alemanha começou então a analisar junto com as Universidades e os gestores de educação o que era preciso fazer para aprimorar o seu ensino. Juntos, entenderam que não adiantava intervir no conhecimento de um adolescente, mas que deveriam começar logo cedo com as crianças. Dessa maneira, com o apoio do Ministério da Educação e Desenvolvimento Alemão, Universidades e de empresas, surgiu a Casa do Pequeno Cientista, em 2006, com o intuito de oferecer uma série de experiências lúdicas para crianças de três a seis anos. Hoje ela já está presente em mais de 40 mil escolas de Educação Infantil somente na Alemanha.
O trabalho oferecido pela Casa do Pequeno Cientista despertou tanta atenção dos educadores espalhados pelo mundo, que em 2014, o Colégio Visconde de Porto Seguro decidiu entrar em contato com o projeto para trazê-lo ao Brasil. A ideia foi ganhando forma quando duas educadoras alemãs da Casa do Pequeno Cientista vieram para São Paulo e ajudaram na formação de educadores. No total foram trabalhados 6 temas, com a participação das duas educadoras alemãs e em cada formação, 28 professores do Colégio foram formados. Estes professores, após a conclusão, receberam a certificação e liberação para aplicar o programa. Junto, esses 28 educadores passaram a formar todos os outros professores do Colégio. O Porto se tornou a primeira e única instituição de ensino da América Latina com autorização para utilizar os métodos do Pequeno Cientista no ano de 2015. Para ter o domínio de mais temas, a coordenadora fez a formação na Alemanha, trazendo posteriormente os temas abordados para a equipe do colégio.
Segundo Carla Siqueira, educadora responsável por trazer o projeto para o Brasil e por outros projetos internacionais do Colégio Visconde de Porto Seguro, durante toda a experimentação, os professores possuem uma postura de mediador do conhecimento e não de detentor, sendo responsáveis por fazerem perguntas que os alunos irão responder por meio da prática. “Esse processo todo ocorre há cada 15 dias, do Infantil 3 até o 1º ano por meio de módulos e faz com que as crianças resolvam problemas, sejam criativas e desenvolvam a sua argumentação, já que precisam defender a sua tese sobre o que estão vivenciando dentro da sala de aula”, completou a professora.
Os módulos do Pequeno Cientista se dividem em
Água para o Infantil 3; Luz/cor/visão para o Infantil 4; Sustentabilidade, magnetismo e ar para o Infantil 5; Corpo humano e Engenharia: forças e efeitos para o 1º ano do currículo bilíngue; Matemática em espaço e formas, Engenharia: forças e efeitos e Corpo humano para 1º ano do currículo internacional; e sons/ruídos para as aulas de música. “Em média, formamos 3 mil alunos por ano e, desde 2015, já ultrapassamos um total de 20 mil crianças certificadas e especializadas em experimentação científica”, disse Siqueira.
Expansão do projeto para Jundiaí Com a autorização para aplicar e formar professores para o Pequeno Cientista em todo o estado de São Paulo, o Colégio Visconde de Porto Seguro foi procurado para aplicar o projeto no município de Jundiaí (SP), que possui uma rede com 20 mil alunos entre a educação infantil e a educação fundamental 1.
Os professores da cidade iniciaram a formação no final de 2021, de maneira online, e continuaram durante todo o ano de 2022 de maneira presencial.
Carla conta que a formação começou com representantes das escolas, porém houve o pedido da secretaria de educação de Jundiaí, que todos os professores fizessem a formação, devido ao projeto ter boa aplicabilidade em sala de aula. E dessa maneira, no começo do ano, foram certificados mais 460 educadores e agora, no meio do ano, outros 460 receberão a certificação. “Com os professores de Jundiaí introduzindo a experimentação na rede pública de ensino, o Porto ganha bastante por cumprir o seu papel como um dos responsáveis pelo desenvolvimento da educação brasileira”, finalizou a educadora.
Segundo Silvia Magalhães, Diretora do Departamento de Formação da Unidade de Gestão de Educação de Jundiaí, as formações são realizadas sempre em dois momentos. Primeiro, com todos no auditório, onde a Carla Siqueira e as demais coordenadoras do Colégio, realizam o acolhimento, a parte teórica e a prévia do que vai acontecer. Em seguida, os professores são divididos por salas e têm a possibilidade de realizar experiências diversas. "A diversidade de possibilidades e materiais apresentados, aguçam a curiosidade dos participantes, dessa forma, eles podem investigar, experimentar, vivenciar e compreender a importância da co-construção da criança e do adulto, da pesquisa em conjunto e da importância do registro. Sempre com foco na reflexão dos estudantes. Entre todas escolas municipais de Jundiaí, 103 já foram contempladas com a formação", finalizou Silvia.
Após o sucesso da parceria com o município de Jundiaí, Carla trabalha para começar a implementar o Pequeno Cientista em Valinhos (SP) nos mesmos moldes, além de dedicar uma parte do seu tempo para promover diversas outras formações e palestras pelo Brasil inteiro sobre experimentação científica para crianças.