17/02/2023 às 10h27min - Atualizada em 20/02/2023 às 00h00min

Estudo sobre demografia médica 2023 mostra desigualdades regionais e entre especialidades médicas no Brasil

Áreas como a Hematologia e Hemoterapia possuem menor número de profissionais em relação a outras. Além disso, pesquisa aponta desigualdades regionais e entre gêneros.

SALA DA NOTÍCIA Redação
Foto Divulgação

O número de médicos mais que dobrou no país em pouco mais de 20 anos, segundo dados da Demografia Médica no Brasil 2023, cujos resultados foram publicados no último dia 8 de março. Em janeiro deste ano, havia 562.229 médicos inscritos nos 27 Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), o que corresponde a uma taxa nacional de 2,6 médicos por mil habitantes. Nessa perspectiva, deverão ser mais de um milhão de médicos em 2035. Mesmo assim, de acordo com o estudo, realizado pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), existem proporções desiguais entre especialidades médicas e no salário de homens e mulheres, bem como no número de profissionais da área em diferentes regiões.


 

Apenas na área da Hematologia e Hemoterapia, cujos especialistas são responsáveis pelo diagnóstico e tratamento de doenças do sangue e pelo acompanhamento da doação de sangue, eram 3.271 médicos registrados, segundo a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), representante dos profissionais da área.


 

Em um comparativo das duas últimas décadas do mesmo levantamento, embora as especialidades tenham apresentado um crescimento de 72% no número de profissionais, de 2002 a 2012 (versões subsequentemente anteriores do mesmo levantamento apresenta este ano), hoje ainda é bastante diferente do número de profissionais de especialidades como a Clínica Médica (56.976), a Pediatria (48.654) e a Clínica Geral (41.547), mas ainda a frente da relação de profissionais de outras especialidades, como a Radioterapia (1.014), a Medicina de Emergência (779) e a Genética Médica, que tem a menor quantidade de especialistas no País, com 407 médicos registrados.


 

De acordo com o médico hematologista e hemoterapeuta, Dr. José Francisco Comenalli Marques Júnior, presidente da ABHH, existe um déficit de profissionais da Hematologia e Hemoterapia, assim como de outras áreas para atender os pacientes nas diferentes regiões e municípios, o que também reflete a concentração de centros especializados no tratamento de doenças onco-hematológicas em determinadas localidades.


 

“Temos investidos em programas voltados a profissionais desde a graduação para se que interessem pela Hematologia e Hemoterapia, bem como na Terapia Celular, que é uma área promissora no tratamento do câncer e de outras doenças. No entanto, a formação de especialistas encontra uma estrutura de saúde no Brasil ainda aquém do que os pacientes precisam, com centros especializados de tratamento ainda restrito a alguns municípios, portanto, uma oferta menor de vagas, além de salários não tão atrativos em relação a profissionais de outras especialidades.”, aponta o presidente ABHH que, em 2022, iniciou ampla discussão sobre Equidade na Saúde.


 

O levantamento aponta ainda um envelhecimento dos profissionais da Hematologia e Hemoterapia em atividade. Ao compararmos a idade média apresentada há dez anos (46,95 anos), percebemos um avanço para 48,4 na pesquisa apresentada recentemente. “É fato que profissionais com mais idade em exercício representam quase que metade do nosso universo e, por isso, temos investido cada vez mais em formação e apresentação das nossas especialidades para estudantes e residentes através dos Programas de Ligas Acadêmicas e Sangue Jovem, da ABHH, a fim de atrair os novatos e incluir os nativos da internet e das tecnologias no mercado de trabalho”, ressalta Marques.


 

Diferenças regionais e de gênero -- Nas regiões do Brasil, conforme mostra o estudo da USP e da AMB, há proporções diferentes de profissionais. Enquanto no Sudeste há uma razão de 3,39 médicos em geral para cada mil habitantes, no Centro-Oeste de 3,10 e no Sul de 2,95, no Nordeste essa razão é de 1,93 e no Norte de 1,45. Mesmo assim, mesmo dentro de regiões com alto índice de médicos, há discrepâncias entre capitais, municípios do interior e das regiões metropolitanas.


 

Essas desigualdades relacionadas à demografia médica também se fazem presentes em recortes entre gêneros. O estudo mostra que as mulheres ganham, em média, R$ 13 mil a menos que os homens, ainda que exista a estimativa que elas serão maioria daqui a apenas um ano, com 50,2% do total de profissionais. Em 2035, a expectativa é de que a porcentagem aumente para 56%. Apenas na Hematologia e Hemoterapia, as mulheres são cerca de 64% dos profissionais.


 

“Essa desigualdade na renda entre homens e mulheres é uma problemática que estamos procurando equacionar. Recentemente, criamos o programa Equidade da ABHH, que está promovendo ações no sentido de tornar nossa especialidade mais equânime, bem como a área médica e o acesso dos pacientes à Hematologia e Hemoterapia. Nesse sentido, estudos como esse da USP e da AMB são fundamentais para nos fornecerem insumos para realizar um trabalho mais direcionado.”, esclarece Marques Júnior.


 


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