E agora, meus dentes encurtaram? Essa é uma indignação comum na minha rotina como cirurgião dentista diante de pacientes com diagnóstico de bruxismo.
O encurtar, na verdade, é o desgaste da dentição provocado pelo ranger involuntário, de forma mais comum durante o sono. Mas é só isso, doutor?
Quando falamos em bruxismo é comum a associação a situações de estresse, tensão ou ansiedade. Não por coincidência, a incidência do diagnóstico aumentou significativamente na vida pós pandemia.
Também não por coincidência é mais recorrente em pacientes com idade entre 17 e 45 anos, o que não quer dizer que não afete crianças ou idosos.
Pensemos que o tema é uma “equação” muito maior e que considera diversos elementos, além dos fatores emocionais que, sim, têm grande influência.
Segundo pesquisa recente realizada pela Organização Mundial da Saúde - OMS - cerca de 30% da população mundial é acometida por bruxismo. No Brasil esse número é ainda maior, pode chegar a 40%.
Diante desse cenário, chama atenção o fato de que não podemos “normalizar” sintomas como dores de cabeça, zumbido e o desgaste da dentição. Adiar o início do tratamento afeta a qualidade de vida do paciente.
Muitos me contam que aumentaram o consumo de cafeína e até automedicação para suportar o sono e as dores. O convívio familiar também é afetado pela falta de paciência, atrapalhando a vida social, a diversão e o lazer.
E o resultado são outras doenças que vão se associar a este estilo de vida e isto vira um ciclo vicioso.
Uma dica, então, é observar se existe algum sinal de alerta. Na maioria das vezes, a pessoa desconfia que é portadora de bruxismo, quando alguém lhe conta o que presenciou enquanto ela dormia.
Mas espelho também é grande aliado e pode ajudar nessa percepção de que os dentes estão ficando “pequenos”. Pacientes com bruxismo podem apresentar uma queda no sorriso (perceptível com a boca fechada), resultado do estresse da musculatura.
Situações de estresse são com adubo em terra fértil e também devem considerar a necessidade de procurar um dentista, quando associada aos sintomas acima. Conhecer sobre o diagnóstico é igualmente importante.
Então, afinal, você ainda está se perguntando o que é bruxismo?
Nos termos do consultório, bruxismo pode ser traduzido como uma “desordem funcional que se caracteriza pelo ranger ou apertar dos dentes durante o sono”.
Essa pressão pode provocar desgaste e amolecimento dos dentes. E, em casos mais graves, também problemas ósseos, na gengiva e na Articulação da Mandíbula (ATM).
Uma curiosidade é que, apesar de ser mais comum durante o sono, o problema pode se manifestar durante o dia, recebendo o nome especial de briquismo.
Em ambos os casos, a compressão exagerada dos dentes pode levar à isquemia dos vasos que entram no ápice da raiz e depois à necrose dos vasos, dos nervos e da polpa dentária.
Esse quadro costuma provocar dores de cabeça e cansaço, mas outros sintomas como dor e zumbido no ouvido, dor no pescoço, na mandíbula e nos músculos da face, por causa do esforço realizado pelos músculos da mastigação, também ocorrem.
Próteses mal adaptadas e dentes fora de posição e alinhamento também contribuem para aumento de dores.
Não há, ainda, um tratamento totalmente eficaz para curar o bruxismo. Medicamentos ansiolíticos são úteis para o controle dos quadros de estresse e ansiedade que podem estar associados, mas não são a causa do distúrbio que, aliás, não está suficientemente esclarecida.
O importante é destacar que o quanto antes for diagnosticado o bruxismo e iniciado o tratamento, maiores são as chances de impedir o avanço do quadro, evitando assim comprometimentos mais graves das estruturas envolvidas, articulação, ossos, dentes, músculos entre outros.
Assim, repito, o caminho mais seguro para frear a doença – e seus impactos na vida do paciente – começa com a ida ao consultório odontológico.
Edinei Dias da Silva é cirurgião dentista formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).