"Isso ocorre com as favelas, com as comunidades quilombolas, com as aldeias indígenas. Quando a comunidade pode retratar a si própria, ela queba os estereótipos", diz. Nascido no Complexo do Almeão, Rene Silva fundou em 2005 do jornal Voz das Comunidades e é o editor-chefe. Em 2018, ele foi apontado em premiação concedida pela organização internacional MIPAD como um dos 100 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo.
Rene Silva pontua que avanços na pauta da democratização da comunicação dependem do interesse do governo. "Na maioria das vezes, mesmo em governos progressistas, o investimento na área de veiculação de publicidade nunca chega nas mídias comunitárias, nas mídias independentes", lamentou.
Embora critique a cobertura sobre as comunidades, Rene pontua que a grande mídia cumpre um papel importante para a democracia quando combate a desinformação e crimes cometidos por meio das redes sociais. No entanto, o comunicador popular considera ser necessário uma nova legislação para enfrentar a situação atual. "A gente também precisa de uma política mais séria e de leis mais rígidas para pessoas que cometem crimes divulgando notícias falsas pelas redes sociais".
Considerado o maior festival estudantil da América Latina, a Bienal da UNE conta com uma programação de atividades culturais e debates sobre arte, educação, política e ciência. Rene Silva participou de uma mesa que discutiu a construção da identidade brasileira, ao lado da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que destacou a importância das políticas de ações afirmativas para estudantes negros.
A mesa também contou com a presença da ex-presidente da UNE Lucia Stumpf. Ela esteve à frente da entidade entre 2007 e 2009. Atualmente pesquisadora de imagens históricas e artísticas e professora da Universidade de São Paulo (USP), Lucia pontuou que as imagens presentes nos livros de história e nos museus nos fazem imaginar um país que não representa o povo.
"A imagem consagrada sobre a nossa Independência apresenta aquele herói branco com a espada basicamente erguida afirmando que agora o Brasil era um país livre e independente. É uma cena que apaga a luta dos brasileiros e brasileiras. Não temos nos nossos quadros o retrato de Maria Felipa, grande lutadora e mulher negra baiana que comandou tropas de mulheres que lutaram pela independência. Nos retratos, também não aparece a Batalha de Jenipapo, ocorrida no Piauí", avalia.
Segundo Lucia, o Brasil precisa se reimaginar. "É a nossa diversidade de cores, de saberes, de ancestralidades que vai permitir que a gente construa um novo Brasil".