19/01/2023 às 19h16min - Atualizada em 20/01/2023 às 00h00min

Ginecologista realiza estudo sobre a importância das mitocôndrias no processo de fertilidade.

Médica alerta que qualidade de vida é essencial para mulheres que desejam engravidar.

SALA DA NOTÍCIA Kelly Goldoni
www.medco.med.br
Karin Schaly
A mitocôndria é uma organela vital para o funcionamento do nosso organismo e pode ser encontrada em todas as células, atuando na produção de energia e no metabolismo.

Mas existe um outro campo muito importante que também é afetado pelas mitocôndrias, o da fertilidade. Estudos comprovam que as mitocôndrias têm enorme influência tanto na fertilidade masculina quanto na feminina.
Segundo a Dra.Priscila Pyrrho, ginecologista com visão integrativa da saúde da mulher, as mitocôndrias são responsáveis por fazer com que os espermatozóides tenham mais qualidade e também energia e força para chegar ao óvulo e, se o homem apresenta deficiência de mitocôndrias, esse espermatozoide tem dificuldade de se manter vivo e morrerá com mais facilidade.

No caso das mulheres, a médica explica que, se as mitocôndrias do óvulo da mãe estão disfuncionais, elas não conseguem produzir energia e dar suporte adequado para todo o metabolismo que esse embrião precisa fazer a divisão celular e o seu crescimento e desenvolvimento. Então, as mitocôndrias desse óvulo materno são extremamente importantes para a evolução do embrião.
Isso vale para uma gestação natural ou mesmo para casos de fertilização in vitro, onde estudos mostraram que, quando as mitocôndrias do óvulo são disfuncionais, o embrião não consegue se desenvolver.
“ Mitocôndrias saudáveis de uma doadora, quando implantadas no óvulo de uma mulher que não consegue engravidar, ajudarão na evolução do embrião e aumentam a chance de sucesso da FIV. Quando as mitocôndrias do óvulo materno estão com o DNA mutado, o embrião não consegue se dividir adequadamente e, dessa forma, aumenta a chance de abortamento, de síndromes e desse embrião não se desenvolver.”
Mitocôndria e fertilização
Dra. Priscila explica que, muitas vezes, quando a paciente relata dificuldade de engravidar, ela avalia a possibilidade de haver relação com a disfunção mitocondrial, algo que não chega a aparecer diretamente em exames clínicos.
“O que nós sabemos sobre a relação da disfunção mitocondrial e a fertilidade, está em estudos científicos que mostram que, quando melhoramos a função mitocondrial, a mulher que tem esterilidade sem causa aparente (ESCA), ou seja, aquela mulher em que não se encontrou nenhum motivo conhecido para a infertilidade, ela engravida com mais facilidade”, explica a médica.
Priscila complementa que as mitocôndrias são as principais organelas relacionadas ao metabolismo do óvulo e são elas que, tanto produzem, quanto eliminam os radicais livres do nosso organismo. Por isso, quando elas não estão funcionando adequadamente, esse balanço fica desregulado e o radical livre começa a causar danos às células e principalmente aos óvulos.
“Não existe ainda um exame clínico disponível para saber se a qualidade da mitocôndria está adequada, um exame que consiga avaliar a qualidade do DNA dessas mitocôndrias. Só a nível de pesquisa, pelo menos por enquanto”, diz.
Segundo a médica, existe uma forma indireta, através da qual se pode analisar se a mitocôndria está funcionando bem, que seria um teste metabólico, chamado de calorimetria indireta.
Priscila explica que, se a mitocôndria não estiver funcionando direito, ela queimará mais carboidrato do que gorduras.
“Para a mitocôndria funcionar bem, ela tem que consumir pelo menos 60-70% de gordura. A mitocôndria que não funciona direito queima mais carboidrato. Por isso, sabemos que pacientes com “metabolismo lento”, ou seja, que engordam com mais facilidade, que têm dificuldade para perder peso ou obesos, certamente têm disfunção mitocondrial”, explica.
A médica lembra que existem também várias formas de cuidar da qualidade das mitocôndrias de acordo com o estilo de vida.
“A mitocôndria pode ser estimulada a fazer biogênese, ou seja, a se multiplicar, quando a paciente tem uma alimentação correta, restrita em carboidratos simples e com mais gorduras boas, como azeite, abacate, castanhas, oleaginosas e sementes. Alguns fitoterápicos também são estimuladores da biogênese mitocondrial, e alimentos ricos em sirtuinas, como couve, rúcula, cebola roxa, cúrcuma, chá verde, morango, tâmara, castanhas também ajudam as mitocôndrias a se regenerarem e estimulam a sua correção”, afirma a médica, lembrando que praticar atividade física, evitar o estresse e ter um sono de qualidade também são hábitos essenciais para corrigir os danos mitocondriais.
Outro ponto é evitar o contato com toxinas que nosso organismo não reconhece e que causa danos às mitocôndrias, como panelas com teflon, plástico rico em BPA, especialmente se aquecidos ou levados ao micro-ondas, agrotóxicos e atém mesmo alguns medicamentos que podem fazer mal para o nosso organismo e devem ser consumidos apenas quando necessários.
A especialista explica que em seu consultório realiza também terapias injetáveis focadas na regeneração e na biogênese mitocondrial, pois muitas substâncias essenciais no processo de desenvolvimento das mitocôndrias e, consequentemente, da fertilização da mulher, são mal absorvidas de forma oral.
“Por exemplo, existem muitos estudos que falam sobre a fertilidade e a importância da coenzima Q10, que é muito mal absorvida via oral - em cápsula, apenas 3% - além de ser uma substância cara. Quando ela é feita injetável, o organismo absorve 90 a 100%, aumentando a eficácia e reduzindo o tempo de tratamento”, finaliza.
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