Na última quinta-feira, 26 de junho, na Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), aconteceu a reunião de encerramento do projeto MobiCrowd — uma iniciativa coordenada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) que propõe uma nova lógica para a mobilidade urbana: recompensar motoristas que dirigem de forma eficiente e sustentável.
Com duração de 42 meses e financiamento de aproximadamente R$ 1 milhão da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), o MobiCrowd teve o Inmetro, ao lado da UFF, atuou na criação de soluções que unem tecnologia nacional, ciência aplicada e impacto ambiental positivo. Parte dos recursos foi destinada à implantação do V2Lab – Laboratório de Tecnologias Veiculares, um centro de testes em tempo real com infraestrutura de ponta, incluindo uma rede 5G privativa instalada no campus da UFF.
Durante o evento de encerramento, pesquisadores do Inmetro apresentaram os principais resultados da pesquisa. Raphael Machado, coordenador geral do projeto, expôs a visão e os avanços do sistema inteligente criado para coleta, análise e monetização de dados veiculares. Wladmir Chapetta e Wilson Melo Júnior, também do Inmetro, abordaram as possibilidades de futuras cooperações entre instituições públicas, privadas e acadêmicas.
O projeto desenvolveu uma plataforma baseada em blockchain que permite aos motoristas compartilhar dados como estilo de condução, consumo de combustível e emissões de poluentes — recebendo recompensas financeiras em troca. A estimativa é de até R$ 0,10 por litro de combustível economizado. A segurança é garantida por tecnologias de ponta como blockchains permissionados e criptografia homomórfica, assegurando a privacidade dos dados.
“Estamos inaugurando um novo papel para o carro: ele deixa de ser apenas um meio de transporte e se torna um sensor urbano, capaz de gerar dados valiosos para políticas públicas, planejamento urbano e redução de emissões”, afirma Chapetta. “Mais que tecnologia, trata-se de um reposicionamento do cidadão como protagonista da mobilidade inteligente”, complementa Wilson Melo.
Os testes realizados em veículos urbanos resultaram em mais de 200 GB de dados, alimentando modelos de inteligência artificial que ajudam a mensurar emissões com mais precisão. A abordagem desenvolvida pelo Inmetro leva em conta toda a cadeia de produção — inclusive no caso de veículos elétricos —, permitindo comparações mais realistas com motores a combustão alimentados por biocombustíveis.
Com cerca de 25 milhões de veículos no Brasil já compatíveis com o sistema via porta OBD-II, o potencial de escala do MobiCrowd é expressivo. O projeto entra agora em uma nova etapa, com previsão de investimento adicional de R$ 3 milhões voltado à validação comercial da tecnologia e à formação de parcerias estratégicas com o setor público e privado.
Além da liderança técnica, o Inmetro atuou diretamente na formação de recursos humanos, com mais de 20 estudantes envolvidos nas frentes de pesquisa. O projeto também inspirou novos desdobramentos, como o Descarbonize.AI — uma aliança nacional para mobilidade limpa que inclui empresas como Volkswagen, Stellantis e universidades federais do Nordeste.
“O Inmetro mostra, com o MobiCrowd, sua capacidade de liderar a transformação digital e sustentável da mobilidade brasileira, aliando pesquisa aplicada, segurança de dados e compromisso com o bem coletivo”, complementou Raphael Machado.
O presidente do Inmetro, Márcio André Brito, destacou a importância da ciência e da inovação como motores de transformação social. “Esse é um exemplo de como a tecnologia pode ser aplicada com propósito, colocando a pesquisa a serviço de uma sociedade mais sustentável, inteligente e conectada. Reforçamos nosso compromisso com a transformação digital da mobilidade no Brasil, promovendo soluções que impactam positivamente o meio ambiente, fortalecem a cidadania e melhoram a qualidade de vida nas cidades”, concluiu.