São Paulo, setembro de 2024 - No cenário mundial de cirurgias plásticas, o Brasil ocupa o topo do ranking, com mais de 1,3 milhões de intervenções realizadas anualmente, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS). Dentre as diversas opções de procedimentos que garantem uma melhora na autoestima, saúde e qualidade de vida das mulheres estão as cirurgias íntimas, que têm ganhado destaque nos últimos anos.
A crescente procura por esse tipo de procedimento sinaliza uma mudança nas percepções culturais e individuais sobre o corpo feminino, revolucionando o papel da sexualidade e sua independência na vida das mulheres. Desde os movimentos feministas dos anos 1970, em que as mulheres passaram a reivindicar seu espaço, não apenas na esfera pública, mas também no âmbito individual, até os dias atuais, observamos uma (r)evolução na forma como elas enxergam e sentem o prazer sexual, além da construção da autoestima e qualidade de vida atrelado a ele.
Nos últimos anos, estes procedimentos passaram a ser percebidos por uma ótica que vai muito além da estética, avançando rumo ao empoderamento, liberdade de escolha, e a inédita priorização da sua individualidade, desejos e, sobretudo, seu próprio corpo.
Entre os diferentes tipos de cirurgias íntimas, destacam-se a redução dos pequenos lábios (conhecida como ninfoplastia), aumento dos grandes lábios com enxerto de gordura, redução do prepúcio clitoriano (pele que recobre o clitóris), lipoaspiração na região pubiana e lifting pubiano. Somente em 2020, a ninfoplastia foi realizada por 20.334 mulheres no Brasil, conforme aponta a ISAPS e, desde 2013, o país mantém sua posição de destaque nesse cenário, com um crescimento significativo no número de procedimentos íntimos ao longo dos anos.
Benefícios além da estética
Para o cirurgião plástico Fabio Nahas, professor da Unifesp e Diretor Científico Internacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, embora a dimensão estética seja predominante nas pacientes que procuram por estes procedimentos, algumas técnicas também podem solucionar fatores funcionais, como dificuldades na higiene e desconfortos durante as relações sexuais, além de um impacto positivo na autoimagem, autoestima e sexualidade da maioria das mulheres submetidas à estas cirurgias, conforme avaliamos em estudos e no próprio consultório.
No caso do lifting pubiano, o estudo “Os efeitos da abdominoplastia na sexualidade feminina”, produzido por Nahas e outros profissionais da área, e publicado no The Journal of Sexual Medicine, aponta que, quando o lifting pubiano é realizado conjuntamente com a cirurgia plástica de abdômen, há melhorias significativas no estímulo clitoriano durante a relação sexual, uma vez que o clítoris é reposicionado 2 cm superiormente em relação ao seu local original devido à tração. Esta nova posição expõe o clitóris ao atrito durante a relação sexual - o que destaca mais um benefício do procedimento.
Como toda cirurgia, o profissional que indica alguma das citadas acima deve ponderar a idade e a condição da paciente. “Em geral, as operações são feitas em pacientes adultas em diferentes fases de vida, desde a infância, caso haja uma indicação clínica e, principalmente, após os 40 anos ou gestações, uma vez que a perda de volume dos pequenos lábios ocorre geralmente neste período. Já o acúmulo de gordura na região pubiana pode ocorrer com alterações de peso ou após a menopausa. Portanto, as cirurgias íntimas femininas podem ser realizadas ao longo de toda a vida”, aponta Nahas.
O período pós-operatório destas cirurgias plásticas exige que o paciente siga todas as instruções indicadas pelo profissional e contribui para o sucesso dos resultados esperados pela paciente. O cirurgião plástico esclarece que, no geral, as pacientes podem retomar suas atividades cotidianas dentro de um intervalo de 1 a 2 semanas, variando de acordo com o tipo específico de cirurgia realizada. A liberação para a retomada da atividade sexual é estabelecida após aproximadamente 30 dias, assim como à prática esportiva. Entretanto, esportes que envolvem ciclismo e hipismo podem demandar um tempo adicional antes de serem completamente liberados.
E o SUS?
Ainda que a idade da paciente não seja determinante para a realização da cirurgia, restrições legais relacionadas à cobertura de procedimentos estéticos pelo sistema público e planos de saúde podem restringi-las a um grupo específico da população.
A Lei nº 9.656/98 estabelece que as seguradoras não são obrigadas a cobrir procedimentos clínicos ou cirúrgicos para fins estéticos. Já no Sistema Único de Saúde (SUS), é preciso que haja uma avaliação profissional que comprove que o procedimento tem justificativa clínica, e não apenas estética. Hoje, apenas duas cirurgias íntimas são cobertas pelo SUS: a ninfoplastia (esta feita pelo cirurgião plástico) e a perineoplastia, para diminuição da flacidez na região, feita pelo ginecologista.
Assim, observamos que as cirurgias plásticas íntimas no Brasil não são apenas uma tendência, mas uma realidade consolidada. “O país lidera em número e variedade de procedimentos, destacando-se não apenas pela busca da estética, mas também pela atenção e cuidado ao bem-estar das mulheres. Contudo, é crucial abordar essas intervenções com cautela, principalmente em espaços como a internet e as redes sociais, as quais devem ser decididas também com base nos impactos na saúde mental, autoestima e qualidade de vida das mulheres que optam por esses procedimentos”, conclui Nahas.
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Caroline Vaz dos Santos
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