30/05/2023 às 17h21min - Atualizada em 30/05/2023 às 22h58min

Conciliar maternidade e carreira ainda é uma corrida de obstáculos

Carine Roos, CEO e fundadora da Newa

SALA DA NOTÍCIA Maria Eduarda Brito

Não há como não falar de um dos maiores desafios que impede a sociedade de ter equidade de gênero: o trabalho do cuidado que é imensamente desproporcional e que recai sob os ombros das mulheres. 

Um levantamento do Dieese mostra que a maioria dos domicílios no Brasil é chefiada por mulheres: dos 75 milhões de lares, 50,8% (38,1 milhões de famílias) têm liderança feminina e deste total 21,5 milhões de lares (56,5%) são comandados por mulheres negras.

Em termos de renda média do trabalho familiar, os domicílios de casais com e sem filhos receberam os maiores valores, R$ 4.987 e R$ 4.898, respectivamente. No caso de mãe solo, as famílias formadas por mulheres brancas com filhos têm renda de R$ 3.547; e por mulher negra com filhos, R$ 2.362. 

Depois do nascimento, as necessidades de maternagem são as mesmas para todas as mulheres. A diferença é que as de melhor nível econômico conseguem pagar para criar uma rede de apoio com a contratação de babás e empregadas domésticas; e as de menor nível socioeconômico, em sua grande maioria mulheres negras, têm um nível de cansaço e custo emocional muito mais elevado. Afinal, elas dependem de creches, ajuda de um vizinho e não raro, de deixar os bebês aos cuidados dos filhos maiores, criando de maneira mais precária a sua rede com pouca chance de cuidar de si mesmo e sua ascensão profissional. Chamar as empresas, e principalmente, os homens para assumir essa responsabilidade é vital para a quebra das opressões de gênero e raça.

No mundo corporativo, é uma corrida com enormes barreiras, lembrando que as mulheres negras começam em desvantagem muito maior por conta do racismo estrutural. A necessidade de aprovação acontece o tempo todo, incluindo no processo seletivo com perguntas constrangedoras (e algumas vezes eliminatórias). 

Degrau Quebrado

Enfrentar essas barreiras, ou o  “degrau quebrado” nada mais é do que uma série de empecilhos baseados em estereótipos e discriminação. Acredita-se que mulheres serão improdutivas ou não darão prioridade ao trabalho por conta do cuidado com os filhos, as impedindo de acessarem a primeira posição de gestão.

O degrau quebrado fica bastante evidente quando o RH analisa dados como a prevalência de homens e mulheres em cada nível da organização, geralmente retendo as mulheres nos níveis iniciais e favorecendo o avanço dos homens. A concessão de oportunidades de desenvolvimento, promoções e salários também costuma favorecer mais os homens. 

Se conseguiu pular este obstáculo e quer alcançar os postos de comando, a maratona se torna ainda mais desafiadora, pois as mulheres devem quebrar o teto de vidro (glass ceiling), entraves invisíveis criadas para impedir que mesmo as profissionais mais competentes e talentosas sejam promovidas. 

Para ter alguma chance de vencer essa corrida, é imprescindível um maior equilíbrio das tarefas da casa e do cuidado, por meio de pais participativos e lideranças aliadas nesta causa. A maioria das mulheres estão exaustas com o peso do cuidado do qual são a maior parte do tempo responsáveis e com as micro agressões encontradas no ambiente de trabalho. Por isso, é fundamental um compromisso afirmativo também por parte das empresas como a ampliação da licença parental, lideranças masculinas como exemplo e uma educação dos colaboradores sobre masculinidade e o papel do cuidado. 

Além disso, as empresas devem garantir o acesso às creches com vagas suficientes para atender a demanda com qualidade e segurança, sobretudo para mulheres que não têm com quem deixar os filhos durante o expediente e a criação de espaços de amamentação. A legislação exige que, até o bebê completar 6 meses de vida, a organização libere, pelo menos, dois intervalos de até meia hora para a mãe amamentar a criança durante a jornada de trabalho, mas com os problemas de mobilidade que existem, esse tempo é exíguo e impraticável.

Por fim, não posso deixar de citar a necessidade dos cuidados com a saúde mental. Com a sobrecarga física e emocional, o adoecimento das mulheres é uma realidade, muitas delas acabam desenvolvendo crises de ansiedade, depressão e um sentimento profundo de solidão.

É crucial ficar atento a estes sinais e proporcionar um ambiente psicologicamente saudável para as mulheres relatarem seus desconfortos, dúvidas e medos. Desta forma, é possível garantir espaço para que elas possam criar seus filhos e ao mesmo tempo, continuarem a investir em suas carreiras, sonhos e ambições.

Que esse mês possa ser um momento de reflexão e provocação de como podemos fazer diferente em prol de uma sociedade mais justa e igual.

 

SOBRE CARINE ROOS:

A profissional é especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos. Ela é CEO e fundadora da Newa Consultoria, uma empresa de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade. Mais de 12 mil pessoas foram impactadas em vivências com mais de três mil horas em salas de aula e mais de 2 mil mulheres mentoradas, que hoje estão mais seguras, mais estratégicas, mais reconectadas com a sua história e com a sua essência. À frente da Newa, Carine tem como missão preparar líderes para que a Diversidade e a Inclusão sejam uma realidade imediata nas organizações.
 

SOBRE A NEWA:

A Newa é uma empresa de impacto social que atua no desenvolvimento de organizações baseadas na construção do diálogo, na colaboração e no respeito. A startup valoriza as diferenças e age em prol da diversidade e do bem-estar genuíno. Desde a sua fundação, a Newa atua no desenvolvimento de lideranças compassivas, que atuem na construção de ambientes mais inclusivos e psicologicamente seguros a partir do florescimento humano. A empresa aposta em lideranças focadas no coletivo, na colaboração, na abundância e compaixão, valores que considera essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e com mais equidade. 


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