07/12/2022 às 16h02min - Atualizada em 08/12/2022 às 00h08min
Alimentação saudável na prevenção e recuperação da Covid-19 versus Insegurança Alimentar
Brasil ocupa lugar de destaque no tema insegurança alimentar. Especialista consideram que essa vulnerabilidade pode deixar parte da população mais expostas a contraírem a Covid-19.
Gabriel Moreira/UOL Com o surgimento de novas variantes e a volta do aumento de casos de Covid-19, há praticamente três anos que estamos convivendo com o vírus. Cientistas e especialistas da área da saúde ainda estudam as consequências da doença para o corpo humano. Desde o aumento da inflamação do organismo até problemas cardíacos e neurológicos, entre outros, pouco se pode prever em relação ao pós-Covid e como o vírus, que sofre mutações constantes, irá atingir cada organismo.
Porém, do pouco que se sabe até então, há um consenso entre os profissionais da saúde: a prática de hábitos saudáveis e de uma alimentação balanceada em nutrientes auxilia tanto na prevenção quanto no pós-Covid.
Para a nutricionista Aline Ladeira, do Conselho Regional de Nutricionistas 3ª Região (CRN-3), a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável podem trazer muitos benefícios, principalmente na contribuição do fortalecimento imunológico, que pode evitar diversas doenças. “De fato, pessoas que cultivam hábitos de vida saudável com destaque para uma alimentação de boa qualidade, tem a capacidade de lidar melhor com doenças infecciosas na medida que o seu sistema imunológico está mais fortalecido. Os estudos mais recentes têm mostrado que a nutrição pode desempenhar um papel fundamental no manejo da síndrome pós-Covid-19, que é caracterizada por desnutrição, perda de massa livre de gordura e inflamação de baixo grau, fadiga e fraqueza muscular, disfagia, perda de apetite e alterações de paladar/cheiro.”, explica.
Porém, o recomendando nem sempre é possível para grande maioria da população brasileira. Em uma pesquisa realizada pelo FGV Social em junho deste ano, mostrou que o Brasil ocupa lugar de destaque no tema insegurança alimentar, principalmente pelo contraste entre a alta produção agrícola com as dificuldades que os brasileiros têm de lidar com a falta de comida. A parcela de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a si ou a sua família em algum momento nos últimos 12 meses subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021, atingindo novo recorde da série iniciada em 2006.
Outro dado importante mostrou que o aumento da insegurança alimentar entre os 20% mais pobres no Brasil durante a pandemia foi de 22 pontos percentuais, saindo de 53% em 2019 chegando a 75% em 2021.
A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) realizou em 2021 o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil. O resultado mostrou que, do total de 211,7 milhões de brasileiros(as), 116,8 milhões conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões de brasileiros(as) enfrentavam a fome.
Sobre esse assunto, a nutricionista Lenita Borba explica que essa vulnerabilidade alimentar pode deixar parte da população mais expostas a contraírem a Covid-19. “A falta de reservas de nutrientes e energia no nosso organismo é um potencial complicador não só para a Covid, mas para qualquer outra doença. Estudos demonstram que a desnutrição aumenta a morbidade e mortalidade”, destaca.
Alimentação e pós-Covid
A síndrome pós-Covid traz um conjunto de alterações bioquímicas, fisiológicas e imunológicas no organismo. A inflamação aumentada do corpo pode levar a uma série de alterações metabólicas, tais como: mobilização de gorduras, resistência insulínica, hiperglicemia entre outros.
Por conta desse quadro, a adoção de um padrão alimentar anti-inflamatório é essencial, como explica Lenita. “As sequelas ocasionadas pela Covid podem variar de pessoa a pessoa, desta forma, o nutricionista pode fazer uma anamnese para diagnosticar fatores de risco nutricionais. Sabemos hoje que a perda de peso e muscular (desnutrição, sarcopenia), falta de paladar e olfato, entre outros, são sequelas que podem ocorrer. Para evitar complicações destas sintomatologias, o nutricionista deve conhecer as características individuais de cada paciente e traçar um plano alimentar individualizado junto ao paciente que atenda suas necessidades a curto e médio prazo. O atendimento deve ser periódico para que o acompanhamento da evolução possa ser avaliado e medidas corretivas possam ser tomadas, tais como, fracionamento das refeições, incorporação de alimentos proteicos, uso de potencializadores de sabor e olfato, inclusão de suplementos alimentares completos, entre outros.”
A necessidade de viver bem e manter-se saudável em tempos de pandemia é uma prioridade de vida. A atividade física regular, além de ser importante para a saúde mental, reduz a inflamação e contribui para manter o peso normal e reduzir o acúmulo de gordura visceral.
Para essa mudança de hábitos, Lenita dá algumas orientações:
“Uma boa dica para quem quer ter uma vida saudável e estar preparado nutricionalmente para o enfrentamento de doenças é a leitura do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde. Pois cuidar da saúde não pode ser apenas uma fase ou um período, e sim uma rotina diária. A alimentação deve ser baseada na adequada ingestão de água, aumento do consumo de frutas, verduras e legumes; redução do consumo de açúcar, sal e gordura; além de buscar orientação e apoio com o nutricionista que é o profissional capacitado e habilitado para te indicar o melhor caminho para adequar a sua alimentação a suas necessidades e rotinas”, destaca.
O nutricionista desempenha um papel crucial tanto no início precoce da síndrome pós-Covid-19, bem como no acompanhamento dos pacientes para melhorar os resultados. A avaliação do estado nutricional feito pelo nutricionista é muito importante para avaliar as carências nutricionais e assim poder adequar a alimentação e suplementação nutricional para suprir as carências de vitaminas e minerais e adequar a ingestão de carboidratos, proteínas e gorduras.
A conclusão que podemos tirar é a importância da alimentação como forte aliada para o fortalecimento do sistema imunológico e como tratamento das sequelas do pós-Covid. O consumo diário de alimentos mais saudáveis e a prática de atividades regulares evitam diversas intercorrências e doenças, como a obesidade e uma série de doenças crônicas que podem ser causadas pela mesma, dessa forma a adoção de práticas alimentares mais saudáveis representa um aspecto fundamental na prevenção e enfrentamento da Covid-19.